29 Abril 2022
Dom Laurent Ulrich, que completará 71 anos em setembro, terá que usar sua experiência de diálogo para ajudar a curar uma Igreja ferida na capital francesa.
A reportagem é de Christophe Henning, publicada por La Croix, 27-04-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O Papa Francisco escolheu o arcebispo Laurent Ulrich, um dos mais experientes membros da hierarquia eclesial francesa em atividade, para chefiar a Arquidiocese de Paris, a sé mais prestigiada do país.
Ulrich foi bispo diocesano nos últimos 22 anos. Conhecido como um homem de diálogo, ele serviu como arcebispo de Lille, no norte da França, desde 2008.
Devido a sua idade, ele terá um mandato relativamente curto, visto que os bispos devem entregar sua renúncia aos 75 anos. No entanto, o papa frequentemente aceita que os ordinários diocesanos continuem servindo além da idade da aposentadoria, algumas vezes por até cinco anos mais.
Os católicos em Paris têm aguardado ansiosamente a nomeação de um novo líder da Igreja desde o último mês de dezembro, quando o Papa pediu a renúncia do arcebispo Michel Aupetit da liderança da arquidiocese.
Aupetit, com 70 anos, estava sitiado por rumores sobre uma relação que ele supostamente teve anos atrás com uma mulher adulta. Ele também tinha um estilo controverso de administração, o que afastava muitas pessoas.
Dom Ulrich deve procurar curar as feridas deixadas durante o mandato do seu predecessor que foi nomeado a Paris em dezembro de 2017 depois da aposentadoria do cardeal André Vingt-Trois.
O novo arcebispo precisará, especialmente, dar unidade ao presbiterado local.
Ao escolher um homem de vasta experiência que, pela primeira vez em muitos anos, não vem do establishment eclesial parisiense, o Papa Francisco está sinalizando uma mudança de rumo.
Embora não seja conhecido por ser aquele que busca os holofotes, o arcebispo Ulrich também não tem medo de assumir o comando.
Impulsionado para a liderança da diocese mais importante da França, ele precisará dessa determinação para agir rapidamente e tranquilizar os católicos parisienses.
Não faltam questões importantes esperando por ele.
Além dos padres abalados pela gestão do arcebispo Aupetit, ele terá que acompanhar as obras da Catedral de Notre Dame, garantir a supervisão do famoso Institut Catholique, acompanhar as capelanias estudantis, que são numerosas em uma grande cidade universitária.
Ele também deve estar disposto a desempenhar um papel de destaque na praça pública, o que é esperado do arcebispo de Paris.
As prioridades sociais e pastorais de dom Ulrich são vistas como totalmente alinhadas com as do atual papa.
Considerado mais progressista que seu antecessor, espera-se que o novo arcebispo mude ainda mais a direção da arquidiocese, que continua a sentir a influência do cardeal conservador Jean-Marie Lustiger, que liderou a Igreja em Paris por 24 anos (1981-2005).
Quando Notre Dame, a famosa catedral de Paris, foi incendiada há três anos, o arcebispo Ulrich, então em Lille, expressou sua angústia pelo desastre.
“Este incêndio me afeta pessoalmente. Eu amo este lugar. Batizei três sobrinhos-netos na Notre Dame”, disse ele.
“A Notre Dame é um símbolo cultural que tem mil anos de história, mas é antes de tudo um símbolo de fé e dos católicos”, acrescentou.
“Não podemos desanimar com um evento como este, porque nossa fé transcende e vai além dos edifícios”, insistiu o arcebispo, no dia seguinte ao incêndio de 2019.
Ele será agora o homem que presidirá a reabertura da catedral daqui a dois ou três anos.
“Na ressurreição e restauração desta catedral, veremos o sinal de nossa própria ressurreição, que estamos vivendo com Cristo”, prometeu.
O arcebispo Ulrich terá que enfrentar uma crise de governança na arquidiocese.
Em particular, ele terá que lidar com o controverso fechamento do centro pastoral da Igreja Saint-Merry, bem como a renúncia de dois vigários gerais, padres Alexis Leproux e Benoist de Sinety.
Este último está agora servindo em uma paróquia em Lille, antiga diocese de Ulrich.
A cura da arquidiocese está em andamento desde dezembro passado, quando o papa nomeou o arcebispo aposentado Georges Pontier, de Marselha, seu administrador apostólico.
“Não senti que (a arquidiocese) estivesse tão dividida. Senti que estava doendo, tocado por um desafio inesperado. Chegará a hora de nos perguntarmos que lição podemos tirar disso”, disse recentemente ao La Croix.
“A Igreja em Paris também tem suas fraquezas e desafios. Ao mesmo tempo, mostra sua força interior”, disse dom Pontier.
O novo arcebispo é próximo de Pontier e espera-se que a entrega da liderança seja perfeita.
À semelhança da missão que foi dada ao administrador apostólico cessante, o arcebispo Ulrich tem a tarefa de restaurar um sentimento de calma e serenidade na arquidiocese.
“Podemos dizer que ele será um arcebispo de transição, nomeado para acalmar as coisas sem ter tempo para grandes projetos”, disse um padre parisiense.
“Talvez a arquidiocese precise de um pacificador, mesmo que o clero esteja de fato dividido apenas sobre o modo de governo do arcebispo Aupetit, e não sobre a substância”, disse ele.
Alto e amigável, Ulrich poderia ser o pastor tranquilizador e confiante que a Igreja em Paris estava esperando.
O arcebispo descontraído encarna seu lema episcopal – “A alegria de crer” – que deve à autora católica francesa e mística Madeleine Delbrêl (1904-1964).
Laurent Ulrich teve uma longa e distinta vida no ministério da Igreja e no governo eclesiástico.
Ordenado para a Diocese de Dijon em 2 de dezembro de 1979, foi pároco, vigário episcopal e, finalmente, vigário geral.
Então, em junho de 2000, poucos meses antes de completar 48 anos, Ulrich foi nomeado por João Paulo II para chefiar a Arquidiocese de Chambéry, Maurienne e Tarentaise.
Ele foi eleito vice-presidente da Conferência Episcopal Francesa (CEF) em 2007 e cumpriu dois mandatos de três anos.
Em 2008, Bento XVI o nomeou chefe da Arquidiocese de Lille, sé de 1,6 milhão de habitantes no extremo norte da França, criada apenas em 1913.
Com a nova nomeação de Ulrich para Paris, Lille está agora sem um líder episcopal, tendo também perdido seu bispo auxiliar há apenas dois meses, quando foi nomeado arcebispo de Dijon.
O arcebispo Ulrich tem um duplo mestrado em filosofia e teologia. Ele escreveu sua tese sobre proclamar a fé no mundo moderno.
Ele supervisionou a Igreja do Norte e ajudou a moldá-la em torno do ensino social da Igreja.
Além de seu dinâmico centro urbano em Lille, a arquidiocese também inclui áreas rurais e operárias mais pobres e tem lidado com a dramática situação dos migrantes.
Em nível nacional, Ulrich não apenas atuou como vice-presidente da CEF, mas também esteve envolvido nas questões financeiras da conferência episcopal como chefe do Comitê de Estudos e Projetos. Mais recentemente, atuou como presidente do Conselho para a Educação Católica.
O Papa Francisco o nomeou membro da assembleia do Sínodo dos Bispos sobre a Família em 2015.
Foi também um dos iniciadores do sínodo provincial das dioceses de Lille, Arras e Cambrai (2013-2015).
O nome de Ulrich já estava sendo mencionado em 2017 como candidato a sucessor do cardeal Vingt-Trois.
Embora os rumores geralmente não levem a uma nomeação episcopal, esta veio cinco anos depois – um lembrete de que nunca é tarde demais.
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França. Papa Francisco escolhe um arcebispo “de transição” para Paris - Instituto Humanitas Unisinos - IHU