22 Abril 2019
"O fogo recente também faz parte da evolução da Catedral. Da qual Notre-Dame poderia ressurgir com novo fulgor, mas dentro de um projeto de restauração que também poderia ser, em parte, uma adaptação e uma renovação".
A opinião é do teólogo italiano Andrea Grillo, professor do Pontifício Ateneu Santo Anselmo, em Roma, do Instituto Teológico Marchigiano, em Ancona, e do Instituto de Liturgia Pastoral da Abadia de Santa Justina, em Pádua, em artigo publicado por Come Se Non, 17-04-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Diante das gigantescas chamas de algumas noites atrás, que destruíram a Catedral de Notre-Dame, além do desânimo e do perigo evitado para tantas possíveis vítimas, nos perguntamos: e agora? Como poderemos "tê-la" novamente? Deve ser dito que não só o fogo pode fazer todo isso. Também os grandes terremotos, ou as guerras, também conseguem. Destroem as coisas rapidamente. E nos deixam como legado a "reconstrução".
Eu quero me concentrar aqui na igreja de pedra. Não vou falar sobre as possíveis vítimas, que todo incêndio, todo terremoto e toda guerra traz consigo. Se apenas uma pessoa estivesse sido envolvida no incêndio na segunda-feira, o primeiro pensamento teria sido para ela. Mesmo antes de cada pedra e de cada monumento. Isto é ainda mais presente nos terremotos ou nas guerras. Muitas vítimas, homens, mulheres e crianças. E somente no final, após de cada pesar e de cada luto, as pedras também pedem nossa atenção.
Pois bem, se considerarmos, como é o caso, apenas as pedras, devemos nos perguntar: como reconstruir? Após os grandes incêndios, após os grandes terremotos, após os grandes bombardeios, devemos reconstruí-los. Mas como?
Quando, debelado o incêndio, se realizou a grave tarefa que incumbia às autoridades francesas, civis e eclesiais, pensei no que vi em Irpinia, em particular em S. Angelo dei Lombardi, há alguns anos. Naquela cidade, de fato, após o terremoto de 1980, a reconstrução das igrejas, gravemente danificadas, possibilitou um pequeno milagre. Foi possível realizar uma "adaptação" dos espaços sagrados que conseguiu redesenhar partes significativas das igrejas de 1600 ou 1700, como nunca é possível quando os ajustes devem ser feitos em edifícios em perfeitas condições. Os danos do terremoto liberaram energias criativas e repensamentos dos espaços que de outro modo seriam impossíveis.
O mesmo poderia valer para Notre-Dame. De fato, ouvimos dizer, imediatamente: vamos reconstruí-la em 5 anos. Tudo bem. Mas como? A resposta mais fácil e compreensível é a seguinte: vamos reconstruí-la "exatamente como era antes". Nessa restauração completa e perfeita, podemos sempre encontrar a vontade de superar o trauma, de voltar atrás, de cancelar o ultraje do infortúnio. E tudo isso é compreensível. Por outro lado, hoje isso seria ainda mais fácil do que antes, estando providos de tecnologias e instrumentos capazes de reproduzir outra Notre-Dame exatamente igual à anterior. Mas isso seria certo?
Antes de mais nada, é preciso lembrar que Notre-Dame nem sempre foi como a conhecemos até alguns dias atrás. A catedral teve uma história complexa, feita de modificações, acidentes, incêndios, restaurações, adaptações. E tudo isso aconteceu devido a um entrelaçamento de história eclesial, história civil, danos intencionais e acidentes casuais. Considere-se, por exemplo, que Luís XIII, rei da França prometeu construir um novo altar para a catedral, cujo projeto foi realizado apenas 110 anos depois dele, através de discussões sobre vários projetos que se seguiram por mais de um século.
O mesmo deve ser dito para o relançamento da catedral no século XIX, com profundas modificações do exterior, bem como do interior. O fogo recente também faz parte da evolução da Catedral. Da qual Notre-Dame poderia ressurgir com novo fulgor, mas dentro de um projeto de restauração que também poderia ser, em parte, uma adaptação e uma renovação.
Mas quem faria o projeto da nova basílica? Aqui, nos comentários no calor do primeiro dia, ficou evidente a diferença entre a tradição italiana e a tradição francesa. A competência pública é dada como certa para a França. Mas isso não significa, como um italiano tenderia logo a pensar, que portanto o bem está "em risco". Para os franceses, o conceito de "público" é muito diferente que para um italiano. A diferença está na duração da tradição estatal francesa, onde existe uma experiência pública de 900 anos, enquanto na Itália só existe há pouco mais de 150 anos. Essa diferença também cria certo embaraço no "planejamento" da reconstrução. Deve-se construir um "monumento público" ou uma "igreja católica"?
Depois, há uma segunda questão, que deve ser colocada: a comunidade católica terá que pensar em uma assembleia de "circumstantes" ao redor do altar ou a uma assistência à "visão da hóstia" ou à mediação diante da "privacidade do mistério"? Se a igreja de Notre-Dame não terá um fim, é porque manterá uma finalidade. Mas qual é a sua finalidade? Ser objeto de fotografias dos 5 continentes? Ser um enorme museu de itens sagrados? Ou ser um templo de pedras mortas que abriga, forma e acompanha uma igreja de pedras vivas?
Depois dos incêndios, depois dos terremotos, depois dos bombardeios, a recuperação quer ser, de imediato, uma maneira de retornar ao que havia ali antes. Mas isso nunca é assim. Não se volta para trás. Só se pode continuar em frente. A consciência eclesial e estatal francesa sabe que herdou uma grande tarefa desde o recente incêndio. Terá que construir uma Basílica de Notre-Dame que, em fidelidade ao edifício centenário, saiba dar forma e voz a uma igreja viva e a uma comunidade em caminho. As pedras permanecerão cheias de história e ricas de vida se souberem se abrir para novas histórias e surpreendentes vidas, de cidadãos cristãos e cristãos cidadãos.
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Notre-Dame. O fogo, o terremoto e guerra. O fim e a finalidade de uma Igreja. Artigo de Andrea Grillo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU