29 Novembro 2021
Monsenhor Michel Aupetit admitiu que teve um comportamento "ambíguo" com uma mulher em 2012.
A reportagem é de Cécile Chambraud, publicada por Le Monde e reproduzida por Fine Settimana, 28-11-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Depois de vários dias de rumores sobre sua vida privada, Michel Aupetit, 70, devolveu às mãos do papa suas funções como arcebispo de Paris, que exerce desde dezembro de 2017. Cabe agora ao chefe da Igreja Católica aceitar ou rejeitar seu pedido de demissão.
A carta foi enviada após um artigo no Le Point, terça-feira, 23 de novembro, afirmar que, enquanto era vigário geral das dioceses de Paris, o clérigo teria tido, em 2012, uma "relação íntima" consensual com uma mulher. O prelado negou tal relação, contrária à disciplina do celibato na abstinência a que os padres católicos e os bispos da Igreja latina estão teoricamente vinculados.
O semanário contava que em 2012 Michel Aupetit teria enviado por engano à sua secretária um e-mail que se destinava a outra mulher, um e-mail que demonstrava uma "relação íntima com aquela mulher". O artigo não mencionava o e-mail, do qual evidentemente não tinha cópia, mas acrescentava que aquela mensagem havia sido guardada e que "a equipe próxima ao bispo" teria tido conhecimento do teor do texto na primavera de 2020. O e-mail teria sido posteriormente enviado ao núncio apostólico - representante da Santa Sé - na França.
Questionado pelo Le Point, o arcebispo afirmou que não era o autor, mas o destinatário da mensagem eletrônica. Afirmou que naquela época uma mulher havia "entrado em contato várias vezes" com ele, incitando-o a "tomar providências para colocar uma distância entre eles", mas que seu comportamento poderia ter sido, naquele momento, "ambíguo, deixando subentender a existência entre eles de um relacionamento íntimo e relações sexuais”, que ele “negava veementemente”.
Quem sabia do episódio e desde quando? Ao Le Monde, a diocese especificou que Michel Aupetit havia falado sobre isso no início de 2012 com seu diretor espiritual e com o cardeal André Vingt-Trois, então arcebispo de Paris e seu superior direto.
Posteriormente, o vigário geral foi ordenado bispo em fevereiro de 2013, foi nomeado bispo de Nanterre em abril de 2014 e, finalmente, arcebispo de Paris. Cada ordenação e nomeação de bispo é precedida de uma investigação conduzida pela nunciatura, cujo resultado é comunicado a Roma. Aquela história de e-mails e relações estreitas, senão íntimas, não deveria necessariamente já ser do conhecimento da Santa Sé antes de voltar à tona em 2020? Seja como for, Roma foi informada a respeito pelo menos desde o começo de 2020.
O caso sem dúvida afeta negativamente D. Aupetit, especialmente porque este ardente opositor do aborto é regularmente criticado por sua forma de governar a diocese e, mais recentemente, pelo seu silêncio, inclusive sobre a questão das violências sexuais. Em várias ocasiões, provocou ressentimento em certos padres e críticas de fiéis influentes, que puderam dar a conhecer seu descontentamento até mesmo a Roma.
O último episódio diz respeito à aplicação do motu proprio Traditionis custodes, com o qual em julho o Papa Francisco reduziu o uso da missa em latim, amada pelos tradicionalistas da Igreja Católica. Suas modalidades de aplicação na diocese de Paris pelo arcebispo, divulgadas em setembro, foram julgadas demasiado severas por aquelas correntes, que ficaram irritadas com ele.
Em grupos do lado oposto do espectro do catolicismo parisiense, fortes críticas foram formuladas contra o bispo Aupetit quando ele anunciou, em fevereiro, o fim da missão confiada desde 1975 pela diocese ao centro pastoral Saint Merry (4º arrondissement), uma experiência emblemática do catolicismo pós-Concílio Vaticano II, fundada na "corresponsabilidade" dos leigos e do clero.
O arcebispo havia censurado os leigos daquele centro pastoral "pela maldade, pela falta de caridade e pela vontade de destruir" que teriam manifestado em relação aos sacerdotes da paróquia de Saint Merry, à qual o centro está vinculado.
Junto com outros representantes do centro pastoral, Guy Aurenche, ex-presidente da CCFD-Terre solidaire, havia protestado contra um método considerado brutal e unilateral. “Desde então, especifica hoje, esse autoritarismo se confirmou. Escrevi quatro vezes a ele, nem recebi um aviso de recebimento. Mas 450 pessoas ficaram ofendidas com esse comportamento e continuam a se encontrar no Zoom e a trabalhar juntas”.
Outro evento desagradável: em março, um de seus vigários-gerais, Benoist de Sinety, pediu demissão, o que foi imediatamente aceito. Nenhuma explicação oficial foi dada para aquele gesto. Fato que ocorreu apenas quatro meses após a renúncia, em dezembro de 2020, de outro vigário-geral, Alexis Leproux. “Nada sério”, apenas “movimentos habituais das equipas de governo de qualquer organização”, havia comentado a diocese.
Outros, contudo, comentavam: consequência de um exercício de poder autoritário e demasiado pessoal.
A primeira acusação de alguma importância surgiu quando a tutela diocesana demitiu abruptamente o diretor da escola parisiense de Saint-Jean-de-Passy, François-Xavier Clément, em pleno lockdown, em 14 de abril de 2020. Ele era acusado de "práticas gerenciais disfuncionais" e, portanto, havia sido demitido por tal motivo. A decisão e sua execução sem explicação clara desencadearam uma violenta crise na instituição, dividindo as famílias.
O arcebispo foi o destinatário de mensagens de pais indignados com a forma de proceder e que exigiam explicação, a tal ponto que teve que conceder uma nova análise sobre os métodos do chefe do instituto, e nomear um mediador - antes de tomar ele mesmo uma decisão.
Em uma declaração ao jornal La Croix na sexta-feira, monsenhor Aupetit especificou que não havia apresentado as demissões, o que significaria abandonar seu cargo, mas que devolveu o cargo às mãos do papa que o nomeou. “Fiz isso para preservar a diocese, afirma ele, visto que, como bispo, devo estar a serviço da unidade. Não é por aquilo que eu teria ou não teria feito no passado – caso contrário teria saído há muito tempo - mas para evitar a divisão, se eu mesmo me tornei uma fonte de divisão”.
Antes de entregar o cargo ao papa, ele consultou o prefeito da congregação para os bispos em Roma, encarregado de preparar as nomeações do papa. Cabe agora ao Papa Francisco dar uma resposta.
E talvez também explicar sua a decisão, seja ela qual for, já que o assunto se presta a leituras muito diferentes. Uma gestão controversa da diocese? Uma relação sentimental que só se torna um problema eclesial depois de divulgada na imprensa? Neste período conturbado para ela, a Igreja Católica teria tudo a ganhar esclarecendo os fatos.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O arcebispo de Paris apresenta sua demissão ao papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU