30 Janeiro 2020
Em um breve livro em que reitera sua oposição à lei bioética, o arcebispo parisiense Michel Aupetit elogia surpreendentemente os encantos da retirada, mais ecológica que a pílula.
A reportagem é de Bernadette Sauvaget, publicada por Libération, 27-01-2020. A tradução é de André Langer.
Em matéria de contracepção, Michel Aupetit, arcebispo de Paris, está assumindo posições, digamos, ousadas. Em um pequeno opúsculo que acaba de ser publicado, o prelado, ex-médico de profissão, de maneira surpreendente se transforma em porta-voz do coitus interruptus (coito interrompido), uma antiga prática que se acreditava ainda ser reprovada pela Igreja Católica. A atitude de Aupetit está começando a dar o que falar no pequeno Landerneau (mundinho) católico que está se perguntando, nas últimas horas nas redes sociais, qual a mosca que picou o arcebispo.
Reprodução da capa do livro
Fustigando o que ele chama de irresponsabilidade dos homens, Aupetit apela para os manes dos ancestrais. “Nossos pais, e especialmente os nossos avós, praticavam majoritariamente o coitus interruptus, o que é mais difícil, certamente, mas mais ecológico”, escreve em Humanae vitae, une prophétie (Éd. Salvator, 10 euros). O livro de cem páginas tem como objetivo defender a encíclica de Paulo VI, uma das mais polêmicas da história contemporânea do papado. Publicada em 1968, na verdade proibiu o uso da pílula e, na época, provocou uma revolta silenciosa das mulheres católicas, que, em muitos casos, ignoraram a imposição papal.
O arcebispo de Paris aprova o coitus interruptus? Sua formulação sugere que sim. De qualquer forma, Aupetit claramente o prefere à pílula. “Essa prática de retirada, mesmo que não correspondesse a uma doação total de si, responsabilizava-os [homens, ndlr] e, quando a criança estava aí, eles se sentiam realmente envolvidos”, prossegue. Assim, para o arcebispo, os pais de hoje seriam inconsequentes? Eles vão apreciar.
Essa promoção do coitus interruptus tem algo de surpreendente. Desde o teólogo Tomás de Aquino (no Século XIII), um dos grandes pensadores do cristianismo, a Igreja Católica o reprova em nome do crime de Onã, que, ao contrário do que se costuma acreditar, não se limita à masturbação. No pensamento católico, a retirada é tolerada (na melhor das hipóteses) como uma solução paliativa.
Cinquenta anos após sua publicação, Aupetit, pois, defende firmemente a encíclica Humanae vitae, ainda hoje muito polêmica. Mudança de época! Em 1968, o episcopado francês era muito mais cauteloso. O atual arcebispo de Paris sugere até que a chamada contracepção artificial seja a mãe da devassidão e de vícios, tomando como exemplo o “adultério generalizado”, sobre o qual se faz, segundo ele, “publicidade até nas estações de metrô”.
O arcebispo se faz o porta-voz principalmente do que hoje é chamado de bioconservadorismo. Em nome da natureza e da ecologia integral, trata-se de condenar tanto a pílula quanto a PMA (Procriação Médica Assistida), enquanto surfa a onda ecológica. Defensor da nova lei bioética, Aupetit obstina-se, estigmatizando fortemente os casais gays. “Vemos que é mais uma questão de preencher uma frustração cuja legitimidade não é óbvia à custa do bem do feto, que corre o risco de tornar-se um bem de consumo manufaturado”, escreve sobre a PMA.
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A Igreja, o arcebispo e o “coitus interruptus” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU