29 Novembro 2021
É o que afirma a reportagem investigativa do semanário francês hoje nas bancas Le Point, assinado por Marie Bordet e Violaine de Montclos, a única fonte de informações sobre a tempestade até agora.
O comentário é de Francesco Strazzari, teólogo e padre da Diocese de Vincenza, na Itália, publicado por Settimana News, 25-11-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Arcebispo Michel Aupetit nasceu em Versalhes em 23 de março de 1951. Família modesta. O pai era ferroviário. Em 1978 se tornou doutor em medicina e exerceu a sua atividade em Colombes. Em 1990 entrou no seminário e formou uma amizade profunda com o arcebispo de Paris, Jean-Marie Lustiger, que governou a diocese de 1981 a 2005. Tornou-se sacerdote em 1995 e um ano depois foi nomeado vigário geral.
Em 2013 tornou-se bispo auxiliar de Paris e em 2 de fevereiro de 2013 titular da diocese de Nanterre, sucedendo a D. Gérard Daucourt que desfrutava de grande estima. Em 7 de dezembro de 2017 foi nomeado arcebispo de Paris. Seu objetivo é difundir uma nova dinâmica na diocese um pouco adormecida sob o comando de seu antecessor, D. André Vingt-Trois.
Depois de três anos e meio, com Aupetit a diocese está passando por uma crise de grandes proporções, devido ao incêndio da Catedral de Notre-Dame e à divulgação dos abusos. Causaram grande alvoroço as demissões dos dois vigários-gerais: Benoist de Sinety e Alexis Leproux. A investigação garante que a forma de governar do arcebispo é semelhante a um "gabinete ministerial".
Em 30 de março de 2021, Benoist de Sinety, muito apreciado pelos parisienses, conhecido nos ambientes culturais e políticos, amado por grupos de migrantes e trabalhadores precários na época da pandemia, deixa Paris para atuar em uma paróquia em Lille.
Quatro meses depois, Alexis Leproux, após apenas dois anos de serviço, também abandona o arcebispo. É um intelectual, formado em ciências bíblicas, amado sobretudo pelos jovens. Ele vai para Marselha. Nenhuma palavra de comentário sobre os acontecimentos de parte deles.
Aupetit a princípio contava com o entusiasmo dos fiéis. Comparado a um ator de cinema, carismático, bela voz, comportamento teatral e sedutor. As pessoas corriam para suas missas. Ele dá nova vida às tradições populares de oração e de cura. Mas é o clero que fica preocupado.
A investigação afirma ter ouvido a opinião de padres, teólogos, professores e responsáveis diocesanos. O resultado é o retrato de um arcebispo que parece esmagado por um fardo muito pesado para ele, compensando a falta de cultura teológica com um autoritarismo e uma brutalidade incomuns. São relatados fatos. O centro pastoral Halles-Beaubourg, comunidade fundada em 1975, acolhia cristãos LGBT, divorciados e novamente casados, católicos progressistas. Em 2018, as demissões dos dois padres responsáveis revelam as graves tensões entre a comunidade e a paróquia. Em meados de fevereiro de 2021, com um simples e-mail enviado à equipe, o arcebispo pediu que todas as atividades fossem interrompidas em 15 dias. Pede-se ao arcebispo um encontro. Uma petição coleta 12.000 assinaturas. Nenhuma resposta.
O arcebispo - escrevem as jornalistas do Le Point, depois de ouvir muitas pessoas - é um homem que centra tudo em si mesmo, comporta-se como um médico seguro de si e do seu diagnóstico. Ele falou sobre o histórico “Collège des Bernardins”, um centro de irradiação católica em diálogo com a sociedade e as outras religiões, do qual se afastaram conhecidas personalidades por incompatibilidade com Aupetit. Ele corta toda polêmica: "Os Bernardins não são suficientemente católicos".
Causa preocupação e gera discussão o seu silêncio sobre o relatório de Sauvé sobre os abusos sexuais. Apenas uma mensagem minguada sobre a atenção dos fiéis. Nenhuma intervenção pública de quem é uma das principais figuras da Igreja da França.
Estoura o caso do e-mail. Na primavera de 2020, aparece um e-mail de fevereiro de 2012. Na época, Aupetit era Vigário Geral de Paris e o e-mail é endereçado a uma mulher sua conhecida. Tem todo o tom de uma relação íntima com a mulher. Também é lido por seu círculo.
O arcebispo sobe pelas paredes. Em maio de 2020, é o próprio núncio apostólico, D. Celestino Migliore, que toma conhecimento do e-mail. Ele se recusa a comentar. Tem-se a impressão (se não a confirmação) de que tenha sido iniciada uma investigação. De qualquer forma, a Santa Sé está ciente dos fatos.
Aupetit divulgou ao Le Point a seguinte declaração: “Quando eu era vigário geral, uma mulher se fez presente várias vezes com visitas, e-mails etc., a ponto de às vezes ter que tomar providências para me distanciar. No entanto, reconheço que meu comportamento em relação a ela pode ter sido ambíguo, sugerindo assim a existência de um relacionamento íntimo e relações sexuais entre nós, algo que nego veementemente.
No início de 2012, informei o meu diretor espiritual e, após ter conversado com o arcebispo de Paris da época (Card. André Vingt-Trois), decidi não voltar a vê-la e informei-a. Na primavera de 2020, depois de relembrar essa velha situação com meus vigários gerais, avisei as autoridades da Igreja”. Assim se explicariam as demissões dos dois vigários gerais.
Questionado por nós, um bispo que desfruta de grande prestígio no episcopado francês, expressou-se assim: “Não entro nos assuntos do arcebispo, mas que pessoas de seu círculo o ataquem com uma história verdadeira ou falsa do seu passado, considero repugnante. Que o arcebispo tenha tido uma aventura amorosa em seu passado como sacerdote, não me importa nem me diz respeito de forma alguma ... Confio nele porque, se for verdade, o Senhor restaurou nele confiança. Maldita sociedade em que reinam a tirania da transparência e a desconfiança sistemática”.
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Paris: Arcebispo Aupetit no meio da tempestade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU