25 Junho 2012
"O roubo de documentos confidenciais, a prisão do mordomo do papa. É tudo muito triste, em primeiro lugar para o próprio Bento XVI, que vê traída a confiança atribuída ao seu ambiente mais próximo. E é igualmente uma perturbação para a Igreja, que não sabe o que pensar do funcionamento da Cúria".
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 22-06-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O cardeal André Vingt-Trois, 69 anos, fala sem eufemismos do caso Vatileaks, apresenta o problema da reforma de uma máquina curial que tem "vários séculos", chega a considerar "previsível" a aposentadoria do secretário de Estado vaticano, Tarcisio Bertone. Em suma – ele que é arcebispo de Paris e presidente da Conferência dos Bispos da França –, mostra um desconforto que, nos episcopados europeus, está certamente presente, mas até agora permaneceu subterrâneo, o desconforto com um episódio percebido como sendo totalmente italiano.
O cardeal falou na Rádio Notre-Dame, uma entrevista retomada pelo site da diocese parisiense. Sobre os documentos, ele distingue "o desejo de fazer disso um evento midiático" (ao qual "se soma um clima muito habitual em Roma de rumores e de comentários infinitos") dos "fatos" concretos, o furto e a prisão há um mês.
Pergunta: o secretário de Estado é o alvo do vazamento dos documentos? "O cardeal Bertone tem 78 anos. Não há necessidade de revelações secretas para saber que a sua saída da Secretaria de Estado é previsível", responde o arcebispo de Paris. Ele também admite "não ter acesso ao inquérito", fala da investigação confiada a uma "equipe de quatro cardeais" (na realidade, são três) e convida a "esperar que façam o seu trabalho".
Mas a questão central refere-se à Curia, uma organização que "tem vários séculos", e ele observa: "Certamente ela não é adequada em todos os sentidos ao funcionamento da Igreja". Depois do Concílio, lembra Vingt-Trois, "quando Paulo VI quis iniciar novos projetos, ele foi obrigado a criar órgãos ad hoc. Do mesmo modo, Bento XVI criou o Pontifício Conselho para a Nova Evangelização. Tudo isso permite avançar, mas não reforma o funcionamento do conjunto do sistema".
A crítica é explícita: "Hoje, todo dicastério funciona por conta própria, e as comunicações entre eles são lentas às vezes ou, melhor, inexistentes, exceto através das conversas dos cardeais". Moral da história: "Um trabalho de refinamento e de coordenação do funcionamento" da Cúria, diz o cardeal, "é certamente necessário".
Em Roma, a renovação da Cúria segue em frente. A mudança na cúpula do ex-Santo Ofício é esperada para as próximas semanas: o cardeal William Levada foi convidado a voltar para os EUA, e o seu sucessor mais creditado é o arcebispo de Regensburg, Gerhard Ludwig Müller. Mas resta o problema da estrutura. O cardeal Vingt-Trois conclui: "Para todo pontificado, invariavelmente levantam-se rumores para dizer que, enfim, o novo papa irá reformar a Cúria e a fará funcionar. Vê-se que isso não é tão fácil de fazer...".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
''A Cúria é inadequada aos nossos tempos e deve ser reformada'', propoõe arcebispo de Paris - Instituto Humanitas Unisinos - IHU