13 Dezembro 2021
O jornal francês La Croix publicou hoje no seu site uma entrevista com a teóloga Laetitia Calmeyn, a mulher "imortalizada" nas páginas da revista Paris-Match na companhia do arcebispo emérito de Paris, D. Michel Aupetit de quem o Papa aceitou a renúncia em decorrência de um caso do qual ninguém parece conhecer todos os detalhes e cuja verdade parece que permanecerá inatingível, mesmo que tenha causado sofrimento no mundo católico.
Quando questionada por La Croix sobre qual foi a reação da interessada sobre o fato de ser esta a primeira vez que uma teóloga, uma virgem consagrada da Igreja, é objeto de tal tratamento midiático, Laetitia Calmeyn responde: “Há dois dias fiquei realmente chocada, vivi tudo como um trauma. E depois surgiu a pergunta: se fosse um homem, um padre, ao lado do bispo Aupetit, teria havido o mesmo tratamento mediático? As mulheres na Igreja podem ser reduzidas a objeto de suspeita, fantasia, expressão de ciúme ou servilismo? Tudo isso significa que na Igreja e aos olhos do mundo é impensável uma relação entre um homem e uma mulher vivida em amizade? Posso entender que os jornalistas queiram me encontrar, mas esse roubo de imagens e essa montagem que sugerem suspeitas - embora não seja o caso - são terríveis”.
A entrevista é traduzida para o italiano e publicada por Il Sismografo, 12-12-2021. A tradução da versão italiana é de Luisa Rabolini.
Alguém poderia ter criticado você por uma forma de imprudência nessa caminhada com um bispo que acabara de renunciar após ser suspeito de ter um caso com uma mulher.
Eu entendo a pergunta. Devemos distinguir entre prudência e desconfiança. Como podia ser visto nas fotos do Paris Match, todos os espaços eram públicos. Faz parte do abc da fé para uma pessoa que recentemente foi extremamente atormentada, que se encontra diante de sua renúncia, preservar espaços de amizade para superar a provação. Não devemos errar o ponto. Onde está o escândalo hoje? Certamente não na amizade, mas no mal projetado sobre aquela amizade.
Como interpreta, de maneira mais fundamentada, as críticas que lhe dirigem por ter ocupado um lugar desproporcional no governo da diocese de Paris?
Devemos retornar à objetividade da minha situação. Quais são as minhas missões na diocese? Sou professora na faculdade Notre-Dame do Collège des Bernardins e diretora do ISSR (Instituto Superior de Ciências Religiosas). Também faço parte do conselho do seminário de Paris. Mas não faço parte da equipe que apoia Michel Aupetit em seu governo.
Em um ano, fui à sede da arquidiocese uma vez para um aniversário. Existem sacerdotes que têm responsabilidades importantes na diocese. Se poderia pensar neles: "Ei, ele é um homem de poder?" Além disso, eu não sou a única mulher, há outras nos vários conselhos diocesanos. E se por acaso sou consultada por sacerdotes ou leigos sobre qualquer questão, é em nome da minha competência teológica. Fala-se muito sobre o lugar da mulher na Igreja. Parece-me muito importante que seja não só numa relação hierárquica, mas vis-à-vis. Eu vivi isso no seminário: o olhar da mulher é muito diferente daquele de um homem. E não é pelas cotas das mulheres na Igreja. Não é esse o problema. Há um olhar feminino necessário, mas ligado aos carismas.
As mulheres na direção dos Bernardines são raras. Estar sozinha em um mundo de sacerdotes faz você correr o risco de participar, sozinha, você mesma, de um sistema clerical?
Em primeiro lugar, somos cada vez mais no Les Bernardins ... Depois, seguindo o seu raciocínio, você quer dizer que nós não deveríamos nos empenhar mais, por medo de participar de um sistema. Descobri que o clericalismo, em parte, é muito inconsciente.
Mas o que eu também experimento, inclusive diariamente, é que a fraternidade e as amizades movem as coisas e tornam possível viver verdadeiras relações de comunhão. Pouco depois da minha chegada, um padre veio até mim e disse: “Desde que você está aqui, encontrei o meu lugar”. A questão do lugar das mulheres é importante também para que os homens encontrem o seu como homens, sem necessariamente se identificar com sua função.
Que seguimento pensar dar a esta história?
O que vou fazer pessoalmente é ser fiel à minha vida consagrada no seguimento de Cristo e da minha missão. Mas essa lealdade não exclui um dever de justiça. Os advogados estão explorando todos os caminhos legais possíveis. Haverá uma denúncia. Mas ainda não definimos com precisão o objeto desta denúncia: violação da privacidade, difamação, calúnia ... Devemos evitar que isso aconteça novamente.
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“Se eu fosse homem, não teria surgido a questão da amizade com o bispo Aupetit”. Entrevista com Laetitia Calmeyn - Instituto Humanitas Unisinos - IHU