22 Março 2022
"Aconteceu o que, para os cristãos, não pensávamos mais possível: uma guerra foi sacralizada e a religião foi invocada como justificativa para o conflito", escreve Enzo Bianchi, monge italiano fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por La Repubblica, 21-03-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Segundo ele, "em lados opostos as igrejas sucumbiram à tentação do nacionalismo, e quando religião e nacionalismo se cruzam, a mistura é explosiva. Apenas o Metropolita de Kiev Onuphrij (Igreja Ortodoxa Russa) pediu a Putin 'para parar a guerra fratricida que não tem justificativa nem para Deus nem para o homem!'. E lembrou: 'Não há um inimigo a destruir, mas um irmão que não temos o direito de matar'. Palavras brilhantes, claras e cristãs".
"Com esta guerra, o ecumenismo entre as Igrejas, que já atravessa um inverno, fica ainda mais ferido e desautorizado", conclui o monge.
Aumentam os mortos entre civis e jovens soldados ucranianos e russos. As populações atingidas pelas bombas estão desesperadas, fugindo e vagando, e os escombros deixados pela guerra desfiguram aquelas terras.
Mesmo que um armistício fosse alcançado, seria tarde demais: o massacre inútil aconteceu e ninguém conseguiu detê-lo. Aliás, o conflito foi alimentado de muitas maneiras. No livro Vida e Destino, de Vasily Grossman, um monge louco por Cristo revela: "A história dos homens não é a luta do bem que tenta superar o mal, mas é a luta do mal que procura destruir aquele pouco de humanidade que continua a viver. Mas por enquanto o que é humano não está destruído, então o mal não vencerá!”. Nós também não podemos dizer mais nada nesta terrível guerra, que vê a loucura de quem desencadeou um conflito que não terá vencedores.
Mas, mesmo correndo o risco de interessar a poucos, deve-se denunciar a presença de cristãos que, por vocação, deveriam ser "pacificadores" na companhia dos homens. Pois bem, o que eles fazem? Temos vergonha de aceitar, mas é a realidade: as Igrejas são diferentes, mas se aquela russa com o Patriarca Kirill deu apoio à agressão, motivando-a também como guerra escatológica entre o bem e o mal e declarando que é "uma ação para manter unido o mundo russo", o primaz da Igreja Ortodoxa Ucraniana Epiphany disse que "nossa tarefa comum é defender a pátria, repelir o inimigo tirano", e o chefe da Igreja Greco-Católica Shevchuk proclamou que "é um dever sagrado defender a pátria porque as vitórias da Ucrânia são as vitórias de Deus sobre a baixeza do inimigo!”.
Aconteceu o que, para os cristãos, não pensávamos mais possível: uma guerra foi sacralizada e a religião foi invocada como justificativa para o conflito.
Em lados opostos as igrejas sucumbiram à tentação do nacionalismo, e quando religião e nacionalismo se cruzam, a mistura é explosiva. Apenas o Metropolita de Kiev Onuphrij (Igreja Ortodoxa Russa) pediu a Putin "para parar a guerra fratricida que não tem justificativa nem para Deus nem para o homem!". E lembrou: "Não há um inimigo a destruir, mas um irmão que não temos o direito de matar". Palavras brilhantes, claras e cristãs.
E nós, católicos... somos convidados a rezar, rezar pela paz, a consagrar, a consagrar os países em guerra ao imaculado coração de Maria. Orar é necessário, não para mudar a atitude de Deus, mas para nos mudar. Deus não envia a guerra e não a leva embora.
Somos nós os braços de Deus que podem decidir fazer guerra ou paz. Orar multiplicando as palavras é feito por pagãos, idólatras, disse Jesus! Além disso, quando oramos como cristãos, não oramos pela vitória de uns sobre os outros, nem contra um inimigo. Mais ainda, a oração não deve ferir os não católicos.
Com esta guerra, o ecumenismo entre as Igrejas, que já atravessa um inverno, fica ainda mais ferido e desautorizado.
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A guerra das Igrejas. Artigo de Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU