15 Outubro 2021
"Gostaria de uma Igreja nos caminhos da Evangelii gaudium e de outros escritos do Papa Francisco, sobre os quais caminhamos num 'já e 'ainda não', em busca de novos equilíbrios entre bens e aspectos da vida", escreve o biblista e padre italiano Giovanni Giavini, ex-capelão de Sua Santidade, durante o pontificado de João Paulo II, em artigo publicado por Settimana News, 14-10-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Tento responder à pergunta que vem tanto de cima como de baixo: como poderá ser a Igreja do amanhã, ainda que a previsão seja muito difícil e a resposta só possa ser provável e parcial.
Cada um pode pensar livremente e podemos discutir sobre isso. A Igreja do amanhã, eu a imagino assim.
Menos sacramental: veja a suspensão da missa festiva tradicional com as suas várias consequências e das missas para funerais na época do Covid, o desaparecimento das filas nos confessionários, etc. E, no entanto, continuamos em frente do mesmo jeito, com a fé e com outras formas e iniciativas. Vejamos as igrejas nas missões: apenas uma missa de vez em quando!
Pensemos também nas igrejas apostólicas primitivas: nos Evangelhos e em São Paulo, quanto se fala dos sacramentos? Muito pouco. Talvez certa virada enfática ocorreu com Santo Ambrósio e depois com outros Padres da Igreja, em detrimento da escuta da Palavra e da caridade? É possível.
A reavaliação da liturgia da Palavra na Santa Missa é boa: o Papa Bento XVI considera a leitura da Bíblia quase um sacramento, especialmente durante a Santa Missa, onde também se torna uma importante catequese para todos. Por outro lado, um caso a ser totalmente repensado é a iniciação aos sacramentos: o que ela se tornou apesar de todas as tentativas de reforma? O que são determinados batismos, confirmações, primeiras comunhões?
No que diz respeito à Santa Missa, é necessário ressaltar mais o aspecto de memorial vivo de um grande amor, do que o do sacrifício oferecido ao Pai: quem acrescentou o termo “sacrifício” às palavras da consagração? Palavra que, quando aplicada a Jesus, é muito rara em todo o NT; aqui predomina o “para vós, a vós” (ou seja, em primeiro lugar, para “anjinhos” como Judas, Pedro e todos os 12 em busca dos primeiros lugares!). Sacrifício sim, mas antes de tudo como oferta do Pai e de Jesus ao mundo pecador!
Menos moralista (espaço em demasia para a moral sexual!), mais orientada e centrada no querigma-anúncio evangélico-pascal fundamental e sobre as suas consequências para a vida humana terrena e eterna, sobre pecado e salvação, sobre caridade como centro e sentido das outras virtudes.
Menos devocional, também menos mariana (talvez). Uma nova evangelização, portanto, favorecida também pelos novos meios de comunicação social, instrumentos novos que a Providência nos oferece através da ciência e da tecnologia.
Menos clerical: à parte as razões teológico-eclesiais (e, infelizmente, também os escândalos recentes), nós, padres, seremos cada vez menos, portanto teremos mais necessidade de leigos e de mulheres - e de casais - bem dispostos e formados para a colaboração e a corresponsabilidade.
Eu poderia dizer algo sobre as mulheres nos ministérios eclesiais ... As mulheres já são sacerdotes/tizas para o batismo, não pastores-presbíteros-epíscopos-presidentes, diáconos; uma mulher não tem carismas e dons para se tornar um? Pensemos no papel que as abadessas desempenharam na história. Hoje temos mulheres à frente de empresas e estados e, às vezes, até de comunidades cristãs ...
O mesmo vale para eventuais probi viri para o ministério presbiteral. Por quanto tempo poderemos deixar algumas igrejas sem a Eucaristia por falta de padres celibatários?
Menos milagrosa e mais disposta às surpresas da misteriosa Providência, mais em busca da "Graça do que das graças", até porque, na luta contra o Covid, a ciência e a vacina se mostraram mais eficazes do que tantas de nossas maratonas de terços e orações várias (embora válidas também, pelo amor de Deus!). Na oração poderíamos pedir com mais insistência o dom milagroso da assistência aos doentes (como, de fato, aconteceu).
Menos politizada, mais “religiosa” (oração!) e mais “serva” por amor ao seu Senhor e ao homem; mais livre de empenhos organizacionais e administrativos, que pesam especialmente sobre os párocos.
Menos católica e mais das e com as pessoas, mais ecumênica e missionária do que recolhida sobre si mesma. Uma Igreja ainda mais global em um mundo já muito globalizado (também por causa da pandemia).
Menos ligada a leis, preceitos e normas de todo tipo e mais aberta à voz das consciências e ao vento do Espírito (atentos ao desenvolvimento das Igrejas pentecostais católicas e não), menos centralizada e mais sinodal (verdadeiramente sinodal, e não apenas em certos aspectos e momentos, aqui também o Papa Francisco merece algumas críticas: às vezes parece agir mais por iniciativa pessoal do que de forma sinodal).
Menos preocupada com (a taxa dos impostos, segundo a legislação italiana) o 0,8 por mil (o que, por agora, nos convém), mais aberta aos pobres, seus e da sociedade humana.
Em suma, gostaria de uma Igreja nos caminhos da Evangelii gaudium e de outros escritos do Papa Francisco, sobre os quais caminhamos num "já e não ainda", em busca de novos equilíbrios entre bens e aspectos da vida (cf. o excelente artigo da revista dos jesuítas Civiltà Cattolica nº 4101 - "Desafios contemporâneos do catolicismo global" de Thomas P. Rausch - e os artigos de Gabriele Ferrari e Vinicio Albanesi na SettimanaNews).
Seria bom discutir tudo isso juntos, como já fiz com alguns coirmãos. Vamos entrar em contato, mesmo que apenas por escrito.
De 04 de junho a 10 de dezembro de 2021, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU realiza o XX Simpósio Internacional IHU. A (I)Relevância pública do cristianismo num mundo em transição, que tem como objetivo debater transdisciplinarmente desafios e possibilidades para o cristianismo em meio às grandes transformações que caracterizam a sociedade e a cultura atual, no contexto da confluência de diversas crises de um mundo em transição.
XX Simpósio Internacional IHU. A (I)Relevância pública do cristianismo num mundo em transição
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Qual igreja virá? Artigo de Giovanni Giavini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU