09 Junho 2020
O futuro do catolicismo depende do diálogo sinodal entre clérigos e leigos.
O comentário é de Monique Baujard, Véronique Fayet, Marie Mullet-Abrassart, Véronique Prat e Dominique Quinio, publicada em La Croix International, 08-06-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Uma mulher candidata a arcebispa de Lyon! A provocadora declaração de Anne Soupa fez os católicos se pronunciarem. Alguns apoiam a medida, outros estão furiosos ou a consideram inadequada. E outros ainda são indiferentes e acham que a luta deve ser travada em outro lugar, lembrando-nos que os cristãos também precisam se engajar com o mundo para torná-lo mais justo e mais unido.
Mas a iniciativa está sacudindo o imaginário católico, e isso é bom. Porém, é realmente necessário usar atos de provocação?
Todos nós precisamos trabalhar juntos para visualizar a Igreja do amanhã, uma Igreja capaz de acompanhar as questões existenciais dos nossos contemporâneos.
Obviamente, a questão não é a relevância do Evangelho, mas sim o modo como é ele proclamado e compartilhado em uma sociedade que entende cada vez menos a linguagem e os símbolos que os católicos usam para expressar e celebrar a sua fé.
Em um mundo em rápida mudança, a Igreja precisa preparar o caminho. O Papa Francisco nos convida a fazer isso pedindo uma Igreja que “saia de si mesma”.
Mas somos como prisioneiros do nosso imaginário e devemos admitir que é um imaginário que foi moldado por homens e para homens durante séculos.
Escritura, interpretação de eventos e história, teologia, governo da instituição, pregação... Tudo isso tem sido prerrogativa exclusiva dos homens há séculos.
E, por causa disso, não está absolutamente claro que os homens da Igreja decidirão espontaneamente compartilhar essas responsabilidades com as mulheres. Como podemos deixar de ver que a teologia também pode ser usada para manter o status quo?
A partilha de responsabilidades com as mulheres, além disso, é apenas um aspecto da questão mais global do papel dos leigos. A imagem da Igreja hoje se rompeu devido aos muitos tipos diferentes de abuso que foram cometidos nela.
Abuso sexual, abuso de poder e de consciência, e relacionamentos espirituais abusivos que levam a situações de controle. Existem inúmeros exemplos disso, e eles provocaram nojo entre muitos católicos.
Para além das falhas e desvios individuais, temos visto a ficção de como os padres ou fundadores de comunidades são frequentemente colocados em um pedestal, colocando-os acima de qualquer suspeita. Há uma necessidade urgente de desconstruir essa ilusão, a fim de estabelecer relações mais fraternas que levem em conta a fragilidade de cada pessoa.
Finalmente, ainda estamos presos a uma visão territorial da Igreja, modelada sobre as paróquias. Mas isso atrai cada vez menos pessoas, e aquelas que participam da vida paroquial nem sempre encontram o alimento espiritual que procuram.
A fim de alcançar os nossos contemporâneos, temos que inventar outros lugares da Igreja. Já existem muitas iniciativas, mesmo que algumas sejam modestas.
Sem dúvida, isso implica pensar em outros ministérios. O jesuíta franco-alemão Christoph Theobald já sugeriu ministérios novos e separados para a governança, a Palavra e a hospitalidade. Certamente também existem outras opções.
Inventar a Igreja do amanhã exige poder falar sobre esse imaginário, as lacunas existentes com a realidade que os católicos experimentam e trabalhar pela sua transformação. A “Carta do Papa Francisco ao Povo de Deus” nos exorta a fazer isso.
Mas a Igreja carece de fóruns para o diálogo. Quando há pouco espaço para a discussão sobre o papel das mulheres na Igreja, algumas pensam que não têm outra opção a não ser por meio do confronto e da provocação.
Dom Michel Dubost, atualmente administrador apostólico da Arquidiocese de Lyon, tentou em vão convencer seus coirmãos a formar um grupo de trabalho sobre esse assunto.
E os papas têm escrito muito sobre o chamado “gênio feminino” e o papel das mulheres na Igreja. Mas nunca estabeleceram um verdadeiro diálogo com as mulheres.
Hoje, existem caminhos possíveis, e a Alemanha nos dá um exemplo disso. O Caminho Sinodal, lançado por iniciativa dos bispos alemães em estreita colaboração com os leigos, aborda questões delicadas: a moral sexual, o papel das mulheres, o exercício do poder e os remédios contra os abusos, o celibato de padres...
As discussões e os votos seguem um protocolo rigoroso, e os intercâmbios permitem que bispos e leigos – e, portanto, as mulheres – se escutem e considerem os argumentos uns dos outros.
Na França, os bispos já convidaram os leigos para vir e discutir questões ecológicas com eles. Esse é um assunto muito importante que desafia os nossos estilos de vida e, por sua vez, também pode ajudar a renovar a Igreja.
Sonha-se ir ainda mais longe hoje, e que os bispos da França também preparem um sínodo nacional para enfrentar de cabeça erguida alguns dos problemas que a Igreja tem pela frente. Muitos católicos estão prontos para trabalhar com eles na imaginação da Igreja do amanhã.
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Imaginando a Igreja do amanhã - Instituto Humanitas Unisinos - IHU