04 Janeiro 2021
A maioria das pessoas que olharem para 2020 verão principalmente a pandemia do coronavírus, mas a Igreja Católica na Alemanha também foi abalada por uma série de outras questões, desde o impacto do escândalo dos abusos sexuais aos debates em torno do Caminho Sinodal que reverberaram para além das fronteiras da Alemanha e desencadearam intervenções de Roma.
A reportagem é publicada por Catholic News Service, 29-12-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A agência de notícias católica alemã KNA informou que foi um ano exigente para o presidente da Conferência dos Bispos da Alemanha, Dom Georg Bätzing, bispo de Limburg. Desde a eleição dele em março, o coronavírus restringiu severamente a vida da Igreja, incluindo uma Páscoa sem serviços religiosos públicos e acusações de que as Igrejas se submeteram muito rapidamente ao confinamento imposto pelo Estado – a ponto de até os moribundos serem abandonados. Durante o segundo confinamento, os serviços religiosos foram poupados, sujeitos a condições específicas.
Do ponto de vista do bispo de Osnabrück, Franz-Josef Bode, a pandemia renovará a Igreja. O trabalho pastoral se tornará “menos focado nos padres”, disse ele. As linhas telefônicas de ajuda, os serviços de aconselhamento e a pastoral nos hospitais e nos lares de idosos têm crescido em importância.
Inevitavelmente, a pandemia é um dreno nas finanças da Igreja. Após a receita recorde de impostos da Igreja em 2019 – 8,2 bilhões de dólares – espera-se uma queda de cerca de 10% no primeiro ano da pandemia.
No ano passado, também houve um número recorde de pessoas que abandonaram a Igreja na Alemanha, relatou a KNA. Os quase 273.000 católicos que abandonaram estão ligados ao escândalo dos abusos do clero, informou a agência. Os bispos concordaram com um sistema unificado de pagamentos às vítimas, que entrará em vigor no dia 1º de janeiro. Ele está alinhado com as decisões judiciais aplicadas em processos civis, com indenizações que chegam a 60.500 dólares por caso.
Mas agora o foco mudou para a responsabilidade pessoal dos bispos ou autoridades diocesanas. Os relatórios jurídicos encomendados pela Arquidiocese de Colônia e pela Diocese de Aachen destacam como essa questão é delicada. A Diocese de Aachen publicou seu relatório, que acusa ex-bispos e vigários-gerais de falhas massivas. Colônia, por outro lado, interrompeu a publicação relatando “deficiências metodológicas” e encomendou mais um estudo.
O Comitê Central dos Católicos Alemães e outras associações exigem a publicação do relatório de Colônia. Dois porta-vozes do conselho consultivo das vítimas da arquidiocese renunciaram. Enquanto isso, o ex-vigário geral, o agora arcebispo de Hamburgo, Dom Stefan Hesse, foi acusado de encobrir abusos quando era chefe de pessoal em Colônia – uma acusação que ele nega. Dois arcebispos falecidos de Colônia, os cardeais Joseph Höffner e Joachim Meisner, são acusados de não protegerem as vítimas de abuso de padres predadores.
A KNA relatou que o processo de reforma da Igreja também sofreu reveses em 2020. A pandemia interrompeu o roteiro do Caminho Sinodal. Previsto para durar dois anos, ele está debatendo questões de poder, moral sexual, vida sacerdotal e o papel das mulheres na Igreja. O objetivo é restaurar a confiança perdida no escândalo dos abusos do clero depois que a Conferência dos Bispos da Alemanha divulgou um estudo que revelou cerca de 3.700 casos de abuso sexual denunciados na Igreja alemã de 1946 a 2014.
Também emergiu uma oposição ao Caminho Sinodal. O cardeal Rainer Maria Woelki, de Colônia, disse que seria ruim se “algo como uma Igreja nacional alemã fosse criada aqui”. O bispo Bätzing discordou, dizendo: “Não há tendências para nos separar como uma Igreja nacional”.
Em 2019, o Papa Francisco escreveu aos católicos na Alemanha exortando-os a garantir que o seu Caminho Sinodal fosse guiado pelo Espírito Santo com paciência e não fosse simplesmente uma “procura de resultados imediatos que gerem consequências rápidas e imediatas”.
No fim de novembro, sem mencionar nenhum país, o papa disse em uma Audiência geral: “Às vezes, eu sinto uma grande tristeza quando vejo algumas comunidades que, com boa vontade, erra o caminho porque pensa que está fazendo a Igreja por meio de reuniões, como se fosse um partido político: a maioria, a minoria, o que este ou aquele ou aquele outro pensa [dizendo]: ‘Isto é como um Sínodo, um caminho sinodal que nós devemos fazer’”.
“Eu me pergunto: ‘Onde está o Espírito Santo ali? Onde está a oração? Onde está o amor comunitário? Onde está a Eucaristia?’ Sem essas quatro coordenadas, a Igreja se torna uma sociedade humana, um partido político”, disse ele. “Mas não há o Espírito Santo.”
Em uma “instrução” de julho sobre as reformas paroquiais, o Vaticano expressou sua oposição ao fato de colocar leigos e padres em pé de igualdade na administração das paróquias. Muitos bispos alemães criticaram duramente a instrução.
Em setembro, a Congregação para a Doutrina da Fé expressou grandes objeções a uma proposta de convites mútuos para a Eucaristia católica e a Ceia do Senhor protestante. As diferenças entre católicos e protestantes na compreensão da Eucaristia e do ministério “ainda são muito pesadas” a ponto de excluírem a participação mútua neste momento, disse a congregação.
No entanto, no início de outubro, os líderes de ambas as Igrejas disseram que continuariam as discussões e identificaram questões que “ainda precisam ser esclarecidas” e abordadas tanto pelo lado católico quanto protestante de maneiras diferentes, informou a KNA.
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Além da Covid-19, Igreja alemã enfrentou outros problemas em 2020 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU