01 Outubro 2019
"Às vezes há apenas uma saída. Ir embora." Gianfranco Bastianello tem 63 anos, sofre de distrofia muscular desde os 14 anos e há 10 é forçado a se locomover com uma cadeira de rodas. Como católico praticante, escreveu uma carta aberta ao papa Francisco para lhe dizer, como alguém diria ao seu amigo mais caro cujas ideias não são compartilhadas, que "a eutanásia e o suicídio assistido não são soluções cômodas ou precipitadas. Garanto-lhe”. A carta, publicada ontem pela Nuova Venezia, partiu de Cavallino, uma cidade na costa veneziana onde Bastianello mora.
A entrevista é de Francesco Furlan, publicada por la Repubblica, 27-09-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Aposentado depois de trabalhar no Hotel Danieli em Veneza, ele está engajado na União Italiana contra a Distrofia Muscular e na assistência a pacientes graves.
Bastianello, por que você decidiu escrever uma carta aberta ao papa?
Sou católico e me questiono. Acima de tudo, porém, eu queria levar a minha experiência pessoal, tentar transmitir o estado em que alguns pacientes graves enfermos são obrigados a viver depois que o papa falou da eutanásia como uma escolha precipitada. Eu tenho distrofia muscular desde criança, a cada dia mais uma parte do meu corpo não responde mais aos comandos, tenho que lidar com isso todos os dias.
Fala de experiência pessoal, está ali a sua biografia. Mas qual a importância do comprometimento com a assistência aos doentes graves?
Com um grupo de voluntários, ajudamos pessoas com deficiências graves, acamadas, geralmente em estado vegetativo. Deixe-me ser claro, luto pela vida e por uma assistência digna para aqueles que sofrem de distrofia muscular, de ELA ou outras doenças neurodegenerativas graves. Lembro-me com orgulho da batalha que conduzi anos atrás, me acorrentando em frente ao Palazzo Balbi, sede da Região em Veneza, para garantir a assistência noturna que era negada a um doente de ELA. Porém, estou dizendo que deve haver a liberdade das pessoas.
O que você quer dizer quando fala sobre liberdade das pessoas?
Falo da liberdade de escolha das pessoas. Quem decide permanecer em vida deve fazê-lo, e todos os cuidados e apoio necessários devem ser garantidos, o que não é o caso hoje, como as famílias bem sabem. Mas quem decide partir deve ser deixado livre.
Não há contraste entre essa posição sobre o fim da vida e ser católico?
Não é uma questão de religião, mas de bom senso. Fala-se da sacralidade da vida, mas o que há de sagrado no corpo de uma pessoa em estado de coma vegetativo permanente? Não quero ser desrespeitoso, mas repito: se alguém quiser partir, deve estar livre para fazê-lo. Qual é o sentido de mantê-lo vivo, de mantê-lo, como se costuma dizer, ligado às máquinas? Não vejo nenhuma, parece-me um ato de violência. Deixe-nos ir.
Você espera que seu testemunho afete o debate?
Estou decepcionado, até um pouco cansado. Mas não desisto. O debate já dura há anos, não leva a lugar algum. A CEI falou de uma derrota. Gostaria de saber quantos daqueles que falam têm experiência direta com o fim da vida, quantos conhecem sobre o esforço das famílias. A única esperança veio do Tribunal Constitucional, mas temo que, dentro de alguns dias, ninguém mais fale sobre isso.
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O doente. “Eu, católico, quero liberdade de escolha e escrevi isso ao Papa” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU