19 Setembro 2019
Após uma recente polêmica em torno do Papa Francisco, que disse que considera uma honra quando “os americanos me atacam”, dois bispos dos EUA, que estão em Roma nesta semana para apresentar os resultados de uma grande assembleia de católicos hispano-americanos, afirmam que a sua presença envia uma simples mensagem: nem todos os estadunidenses pensam do mesmo modo, e a maioria não é “antipapa”.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por Crux, 18-09-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Existem diferenças de opinião, e os estadunidenses são muito opinativos, mas a minha experiência esmagadora junto aos bispos e ao povo é de grande amor pelo Papa Francisco”, disse Dom Nelson Perez, bispo de Cleveland, Ohio.
Perez disse ao Crux que, quando ouve relatos da oposição norte-americana ao papa, “eu não sei exatamente do que eles estão falando”.
“Eu entendo que existem algumas facções, mas elas não representam o que eu vivenciei na Filadélfia, em Nova York onde eu estava e agora em Cleveland”, disse Perez. “Isso simplesmente não existe. Eu acho que há um grande amor pela Igreja e um grande amor pelo Santo Padre.”
O bispo auxiliar Arturo Cepeda, de Detroit, ecoou o sentimento.
“A minha experiência é de pessoas adotando os seus ensinamentos e o modo como ele espelha Jesus Cristo”, disse Cepeda. “Especialmente para a comunidade hispânico-latina, eu acho que ele é uma ponte para nós. Ele nos ajudou a entender melhor quem somos e o que precisamos ser.”
“Eu vejo um total apoio ao Santo Padre”, disse Cepeda em entrevista com o Crux na terça-feira.
Perez e Cepeda estão em Roma como parte de uma delegação que também inclui o arcebispo José H. Gomez, de Los Angeles, vice-presidente da Conferência dos Bispos dos EUA, para apresentar às autoridades vaticanas os resultados do “V Encuentro”, uma assembleia nacional de católicos latinos dos EUA que ocorreu em setembro de 2018.
A questão da atitude de Francisco em relação aos EUA e aos estadunidenses está no ar desde a sua eleição em 2013 e foi reavivada no início deste mês, quando o pontífice conversou com um jornalista francês no voo de Roma para Moçambique, no dia 4 de setembro, durante o qual o jornalista presenteou Francisco com o seu novo livro intitulado “How America Tried to Change the Pope” [Como a América tentou mudar o papa] sobre um suposto esforço dos conservadores estadunidenses para sabotar o papado.
Esse jornalista francês, Nicolas Senèze, citou especificamente a EWTN, o império multimídia fundado pela falecida Madre Angelica, e o LifeSiteNews, com sede no Canadá, como exemplos da reação conservadora norte-americana contra o pontífice.
“É uma honra que os americanos me ataquem”, disse Francisco em resposta, acrescentando que o livro é uma “bomba”.
Seis dias depois, em um voo de volta da África para Roma, Francisco foi questionado sobre os seus comentários sobre os EUA, incluindo se ele temia um cisma. Em resposta, ele disse que, embora reze para que um cisma não ocorra, ele também não tem medo disso, porque ao longo de toda a história da Igreja houve cismas.
Perez, no entanto, minimizou essas preocupações.
“Existem alguns [detratores de Francisco]? Sim, existem. Eu mesmo tenho meus próprios detratores, com certeza”, disse.
“Temos um pouco de tudo nos EUA, mas, em geral, eu tenho que dizer que a minha experiência como bispo de Cleveland é de um apoio esmagador ao papa”, disse Perez.
Cepeda disse ser um acaso que a viagem para apresentar os resultados do “Encuentro”, que foi planejada muito antes da recente confusão sobre os ataques norte-americanos ao papa, tenha permitido que os bispos apresentem uma face diferente da Igreja norte-americana em Roma.
“O que eu vi do nosso pessoal é que eles começaram o processo provavelmente sem saber exatamente no que estavam entrando”, disse Cepeda. “Nós os convidamos, eles ficaram muito empolgados, e foi através desse processo que vários membros da nossa comunidade vieram perguntar: ‘O que eu estou fazendo? Como Deus está me chamando?’”
“Isso faz parte do processo. Trata-se de discernimento e conversão. É isso que o Papa Francisco quer e está acontecendo”, disse ele.
Perez disse que o momento da viagem, embora acidental, também pode ser providencial.
“Eu acho que o fato de sermos uma delegação de 15 pessoas aqui e de estarmos falando do ‘Encuentro’ como uma encarnação da Evangelii gaudium no próprio coração da Igreja estadunidense, diz alguma coisa”, disse ele, referindo-se ao documento de Francisco de 2013, frequentemente visto como a “magna carta” do seu papado.
“O fato de estarmos aqui é um testemunho”, disse Perez.
Ambos os bispos admitiram que as consequências da última onda de escândalos de abuso sexual clerical na Igreja, incluindo acusações de que o próprio Francisco pode ter fracassado ao não agir diante de acusações relativas ao ex-cardeal e ex-padre Theodore McCarrick, deixaram cicatrizes na comunidade católica latino-americana também.
“Você não pode dizer que isso não interferiu, mas o que isso não fez foi desviar”, disse Perez. “Isso não desviou do objetivo, da missão, da emoção do ‘Encuentro’.”
“De fato, o que foi fascinante para mim foi que todo o processo do ‘Encuentro’ aconteceu em um momento em que a Igreja nos EUA estava tumultada e, em particular, os bispos", disse Perez, de 58 anos. “O ‘Encuentro’ foi o abraço [dos bispos] no povo católico, em todos eles, e foi um verdadeiro bálsamo.”
Cepeda disse que, em geral, a ala hispânica da Igreja nos EUA provavelmente enfrentou a tempestade dos escândalos de abuso com menos danos de longo prazo.
“Eles estão muito conscientes do que está acontecendo”, disse. “Temos redes sociais agora, e assim por diante, então eles sabem, eles veem as notícias todos os dias. Eles não estão negando isso.”
“Mas a minha experiência tem sido de que eles continuam muito positivos em relação a quem somos e querem fazer parte disso”, disse Cepeda.
Especialmente levando em consideração o 1/3 da comunidade católica estadunidense que já é latina, disse Perez, afirmações de que “os americanos” são um todo anti-Francisco não se sustentam.
“Eu não vejo essa generalização dos ‘americanos’ [atacando o papa]”, afirmou. “É algo mais multifacetado.”
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Bispos dizem que, apesar da ''polêmica estadunidense'', Francisco tem forte apoio nos EUA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU