Onde encontramos o corpo de Jesús Crucificado?

29 Março 2024

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 20,1-9, que corresponde ao Domingo de Ressurreição, ciclo B do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.

No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo. Então ela saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava, e lhes disse: “Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram”. Saíram, então, Pedro e o outro discípulo e foram ao túmulo. Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. Olhando para dentro, viu as faixas de linho no chão, mas não entrou. Chegou também Simão Pedro, que vinha correndo atrás, e entrou no túmulo. Viu as faixas de linho deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte. Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu, e acreditou. De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos.

Aleluia, o Senhor ressuscitou! Com essas palavras, iniciamos a celebração do Domingo de Páscoa. O Evangelho lido neste domingo nos coloca no "primeiro dia da semana", dando início a um novo tempo, uma nova semana habitada pela presença do Senhor Ressuscitado. Lembremo-nos de que a comunidade joanina descreve a primeira semana da vida de Jesus, quando ele chama os discípulos para segui-lo, culminando "três dias depois" com o casamento que aconteceu em Caná da Galileia. Um casamento para o qual Jesus foi convidado e no qual Maria, a mãe de Jesus, intercede para que o vinho não acabe. É uma antecipação da festa da Páscoa, que sela a aliança definitiva de Deus com a humanidade. Essa aliança não pode ser feita sem o vinho da alegria, a alegria e o prazer da vida que nasce e renasce em meio à dor.

Este primeiro dia da semana não tem um fim, não é uma semana fechada, mas uma semana aberta, porque deixa o tempo cronológico para se tornar um tempo de salvação. É uma nova semana que dá início a um novo tempo que será um Kairós para aqueles que ousarem a aventura de acreditar.

Maria Madalena vai ao sepulcro “bem de madrugada, quando ainda estava escuro". Ela caminha em direção ao túmulo com o peso, a dor e a incompreensão do que viveu nos dias anteriores. Ela é uma mulher guiada pelo amor e pela dor pelo que aconteceu há apenas algumas horas. Jesus foi julgado, ultrajado e condenado a morte. Como muitas mulheres, ela também sabia que o agir e as palavras de Jesus incomodavam as autoridades, religiosas e políticas, que se sentiam desafiadas por sua mensagem. Ele os incomodava e por isso decidem quitá-lo do meio. Esse grupo de poder político e religioso, que também havia questionado o relacionamento de Jesus com as mulheres, recebeu os gritos do povo pedindo que ele fosse crucificado. Todos esses momentos estão presentes na memória e nos sentimentos de Maria Madalena e do grupo de discípulos que o acompanharam, de perto ou de longe, naquela noite.

“Ela sai quando ainda estava escuro”. Maria Madalena vai ao sepulcro, vai em busca de seu mestre e amigo que jaz morto e a quem ela quer honrar com perfumes para lhe dar um enterro digno. O que está batendo no coração de Maria Madalena que, depois de observar o sábado, vai, ainda no escuro, em busca do corpo de seu amado? Podemos imaginá-la esperando ansiosamente por aquele primeiro raio de luz que lhe permitiria caminhar. É uma luz que aparece pouco a pouco, pois a escuridão não desaparece de repente.

Nessa caminhada de Maria Madalena "quando ainda estava escuro” vemos refletida a fé das primeiras comunidades cristãs que se moviam entre a escuridão e a luz. Não é fácil acreditar que Jesus ressuscitou quando ainda palpita a lembrança das horas trágicas de sua captura, de sua condenação, da caminhada até o Calvário carregando a cruz. Dessa forma, o texto do Evangelho abre a perspectiva de uma fé pascal que é a adesão a Jesus morto e ressuscitado. É uma fé que nasce lentamente, pois não se passa das trevas para a luz imediatamente, mas se inicia esse caminho mesmo na escuridão, mas com um raio que irrompe e aponta para o horizonte.

Leituras do dia

"Viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo"

Alguém removeu a pedra do túmulo e Jesus não está mais lá. Aquele espaço deixou de ser um túmulo e se tornou um lugar novo e diferente. Não é mais um lugar que abriga a morte. Como diz São Paulo: a morte não tem mais poder sobre ele. Dessa forma, esse texto nos chama a reconhecer as pedras que condenam aqueles que sofrem a morte da injustiça, da discriminação social; pedras que encerram aqueles que estão abrigados em campos de refugiados, ou que vivem condenados sob o estigma das drogas, do racismo, da guerra que os transforma em itinerantes. Essas são pedras que precisam ser removidas.

Ele também nos convida a remover a pedra da dúvida, da resignação, da incerteza para dar lugar a uma fé mais sólida e firme. Depois de ver a pedra removida do sepulcro, Maria Madalena fugiu e foi ao encontro de Simão Pedro e do outro discípulo, aquele a quem Jesus amava, e lhes disse: “Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram”.

Onde o colocaram será a pergunta que permanecerá em aberto a partir deste momento. Onde está o Senhor? Em resposta ao grito de Maria Madalena, os discípulos correm para o sepulcro. O texto nos oferece diferentes visões do que aconteceu. O verbo "ver" aparece quatro vezes, detalhando assim a progressividade de ver e crer.

Maria Madalena "viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo". O discípulo que Jesus amava "olhando para dentro, viu as faixas de linho no chão". Simão Pedro, que vem atrás, entra no sepulcro e "viu as faixas de linho no pano e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus". O discípulo que chega primeiro entra no sepulcro e o texto nos diz que: “Ele viu, e acreditou”.

São diferentes maneiras de ver que refletem a realidade da comunidade do primeiro século diante da ressurreição de Jesus. Não é fácil ver e acreditar. A fé é construída em comunidade com as diferentes visões e opiniões de cada um. Embora o texto diga que o discípulo viu e acreditou, isso significa que ele começou a acreditar quando viu o túmulo vazio. É uma crença baseada na ausência de um corpo morto, pode-se dizer que é uma fé "incompleta": "eles ainda não entendiam a Escritura, segundo a qual ele tinha que ressuscitar dos mortos". Eles não comunicam essa realidade, que é apenas uma verificação e possivelmente um começo para entender o que Jesus lhes havia dito. Maria Madalena será a primeira testemunha da ressurreição de Jesus e a pessoa que a anunciará aos discípulos.

Neste domingo, somos convidados a acreditar que Jesus ressuscitou e que ele ainda está vivo em nosso meio. Ele está vivo e, como cristãos, somos chamados a comunicar a boa notícia de que a Vida vence a morte, que o Amor é mais forte que o ódio.

Oração

Desdobra-se no céu
a rutilante aurora.
Alegre, exulta o mundo;
gemendo, o inferno chora.

Pois eis que o Rei, descido
à região da morte,
àqueles que o esperavam
conduz à nova sorte.

Por sob a pedra posto,
por guardas vigiado,
sepulta a própria morte
Jesus ressuscitado.

Da região da morte
cesse o clamor ingente:
'Ressuscitou!' exclama
o Anjo refulgente.

Jesus, perene Páscoa,
a todos alegrai-nos.
Nascidos para a vida,
da morte libertai-nos.

Louvor ao que da morte
ressuscitado vem,
ao Pai e ao Paráclito
eternamente. Amém.

Liturgia das Horas Domingo da Páscoa

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