28 Março 2024
O fim da Quaresma e o início da Semana Santa projetam-nos para a alegria da Páscoa.
Mas qual é – hoje – o significado mais profundo dessa celebração? Conversamos sobre isso com Enzo Bianchi, líder da fraternidade Casa Madia em Albiano di Ivrea e fundador (e prior até 2017) da Comunidade de Bose, que acaba de publicar L'arte della preghiera pela editora San Paolo. “Para os cristãos, o mistério da Páscoa é o fundamento de toda a sua fé porque é a memória da Ressurreição de Jesus Cristo, que está vivo e presente na História. O apóstolo Paulo diz: ‘Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa fé’". A Páscoa alerta a todos que a morte não é a fronteira final.
Aliás, faz mais: testemunha que Jesus, como homem, mas também como filho de Deus, retornou e o fez por amor a todos.
A entrevista com Enzo Bianchi é de Luca Cereda, publicada por Famiglia Cristiana, 26-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
A morte e a ressurreição de Jesus ainda questionam os cristãos de hoje como se pode viver esse Mistério plenamente?
Diante da morte descobrimos “o sentido do sentido”, como eu o chamo, e nisso reside o mistério pascoal, viver a Semana Santa significa acompanhar Cristo na Paixão e estar presentes quando Ele ressurge espiritualmente. Mesmo que não realizamos esse percurso de forma definitiva, o exercício nos prepara para o dia em que teremos que enfrentar efetivamente a morte, na nossa condição terrena. A profundidade do sentido da Páscoa é, portanto, a resposta da Paixão de Cristo a essas perguntas: diante da morte, “o que posso fazer”, o que posso saber”, mas também “o que posso esperar”? Isso para mim é “o sentido do sentido da Páscoa”. Se não tivermos a esperança da vida no amor de Deus, se a morte continuar a ser a última fronteira, será difícil encontrar a paz.
A partir das reflexões do seu novo livro, qual a força de rezar juntos nesse período de Páscoa?
Os cristãos devem esforçar-se por seguir a liturgia da Igreja porque ela não é apenas uma pedagogia, mas é algo que nos envolve na morte e ressurreição de Cristo, portanto, participar nas funções da Quinta-feira Santa ao Domingo de Páscoa é uma forma de viver pessoalmente o mistério da ressurreição: como cristão e junto com a comunidade. De fato, o propósito da oração é precisamente a comunhão com todos os irmãos e as irmãs na fé, mas num sentido mais amplo com toda a humanidade.
Mesmo com os não crentes?
Certamente, aliás, diria mais: gostaria que os cristãos soubessem testemunhar em toda parte o que é a Páscoa. Não simplesmente dizendo “Cristo ressuscitou porque era filho de Deus”. A Páscoa é sobretudo a vitória do amor sobre a morte. Quando dizemos a uma pessoa “eu te amo”; fixamos aquele sentimento que está inscrito na eternidade. Quem não tem fé, chama isso de vida interior, consciência.
Dentro de todos nós existe a capacidade de ver o bem e o mal e julgá-los. Mas também para entender que o amor dá sentido à vida e salva as nossas existências. Isso só acontece graças à Páscoa, enquanto, por exemplo, o Cântico dos Cânticos termina dizendo que o amor e a morte estão em um duelo eterno e que o amor é tão forte quanto a morte. Mas isso não resolve o problema. Em vez disso, o Cristianismo, com a sua fé na Ressurreição, transmite esta mensagem à humanidade: o amor é mais forte e a morte não pode ser a última palavra. O amor pode vencer: isto toca a todos e pode ser de todos.
Também das muitas comunidades que em várias partes do mundo viverão a Páscoa escondidas ou perseguidas por sua fé?
Esse é um ponto fundamental! Cristo, tendo vivido o amor até ao extremo, fazendo o bem, nunca respondendo à violência, foi morrer por todos, condenado pelo poder religioso e político. E isso acontece muitas vezes com os justos e com todos aqueles que se opuseram ao mal na história. Hoje penso naquelas comunidades de cristãos da Índia, do Paquistão e da Nicarágua que sofrem porque existe hostilidade contra elas por parte de diversas formas de fundamentalismo. Acredito que sejam as verdadeiras testemunhas da paixão de Cristo: com os corpos na prisão, torturados, perseguidos, caçados, convertidos à força, enviados ao exílio. Aquela é a Paixão de Cristo que continua nas vítimas das iniquidades contemporâneas. Jesus é a vítima que recolhe todas elas.
Portanto, você também rezará por eles nesta Páscoa?
Todos nós nunca deveríamos esquecer que onde há uma vítima há um grito que sobe a Deus, e chega mesmo que os oprimidos não rezem. Deus ouve a sua voz, sente a sua escravidão e decide intervir: isso deve ser uma certeza. Nesta Páscoa rezarei e rezaremos por todos os cristãos perseguidos, para que a nossa oração pascal fortaleça a comunhão que abraça indiscriminadamente toda a humanidade.
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A Páscoa nos ensina a ter esperança na vida. Entrevista com Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU