12 Setembro 2023
"Hoje recomeço. Como todos os dias", porque "a vida cristã é sempre um recomeçar, com inícios que não têm fim." O Irmão Enzo Bianchi explicou o sentido da nova comunidade “Casa Madia”, na casa de Albiano di Ivrea, no campo rodeado pela Serra na zona de Ivrea.
A reportagem é de Chiara Genisio, publicada por Avvenire, 10-09-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Ontem, num esplêndido dia de sol, com o perfume da grama recém-cortada, deu as boas-vindas no alpendre da casa recentemente reformada, a muitos amigos. Suas palavras, proferidas com vigor, comoveram, emocionaram e convidaram à reflexão. Ele começou de longe, do século IV, para explicar no dia da inauguração da nova comunidade (no total 7 monges incluindo ele, 5 homens e duas mulheres) o sentido do recomeçar. Ele se inspirou no primeiro monge cristão Antônio, que quando com mais de cem anos foi questionado por um discípulo sobre o que faria naquele dia, respondeu: hoje vou recomeçar.
O Irmão Enzo recomeça da Casa Madia, três anos depois da separação da Comunidade de Bose, “deve-se recomeçar todos os dias - disse - porque fracassa o objetivo de viver plenamente o Evangelho. Tentamos viver isso, mas não conseguimos. Pecamos. A graça de Deus permanece conosco, um amor que não precisa ser merecido." Recomeça com uma vida de comunhão, de oração comum (uma das coisas de que mais sentiu falta nestes últimos anos vividos sozinho nas colinas de Turim), de acolhimento, silêncio e escuta. Com todos: crentes e não-crentes, justos e pecadores, pessoas simples e eruditos. Seguindo os passos de Pacômio.
Um recomeçar que é também a confirmação da sua escolha de ser monge: “Sempre disse não a quem queria que me tornasse um sacerdote". Na Casa Madia (o responsável será eleito em breve e não será Bianchi) o estilo será ditado pela oração, pelo acolhimento, pelo trabalho, pelo diálogo, pela busca de respostas às perguntas feitas por quem baterá à sua porta. “Nunca busquei o sucesso ou projetos grandiosos, mas respondi o que nos era pedido." Ele não negou o sofrimento vivido com o desligamento da comunidade de Bose, pediu novamente perdão pelo que pode ter feito de errado, “hoje o diálogo recomeçou, não há mais atritos”.
A palavra-chave foi viandante, um termo que o irmão Enzo muito aprecia. Viandante será aquele ou aquela que bater à porta e encontrará acolhimento (sete quartos já estão prontos), nascerá um bosque para favorecer a meditação, a reflexão e a oração. Ele se declarou derrotado, mas não fracassado. Mas sobre isso os seus amigos não concordam. Primeiro entre eles o arcebispo de Pescara-Penne, Tommaso Valentinetti, ligado a Bianchi por uma longa amizade, nascida na Terra Santa nos anos 1970, “não deve considerar-se um derrotado – observou – porque não há nada a derrotar, mas apenas se deve colher os eventos da vida e poder afirmar que aos 80 posso recomeçar. Assim como sugerem os Padres da Igreja: caio e me levanto”. Foi ele quem presidiu a Eucaristia e durante a homilia no comentário ao Evangelho destacou o valor de olhar além, de ter uma visão mais ampla, como convida o Papa Francisco. Lembrou os imigrantes no mundo que ousam, em busca de uma vida melhor, daqueles que têm fome de paz e de misericórdia e daqueles que têm fome de humanidade e da Palavra. “Espero – concluiu – como ‘amigo’ que vocês saibam responder a esta humanidade, doar paz, misericórdia e a Palavra”.
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O monge Enzo Bianchi “recomeça” na Casa Madia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU