26 Março 2024
"Jesus permanece sempre manso, longe de qualquer tentação de violência. A sua não é rendição, mas submissão realizada livremente", escreve o monge e teólogo italiano Enzo Bianchi, prior e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por Repubblica, 25-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Muitas vezes me pergunto nestes dias antes da Páscoa o que muitas pessoas hoje possam entender daqueles cristão que vivem a chamada “Semana Santa” escolhendo ser discípulos de Jesus de Nazaré.
Sim, porque durante uma semana estes últimos rezam de forma diferente do habitual, realizam ritos que querem ser representações evocativas, vivenciam horas de tristeza e depois explodem em cantos de alegria, trocam abraços festivos. Eu sei que isso é geralmente recebido com indiferença e, quando desperta interesse, é tratado como um evento folclórico. Assim a Semana Santa com as suas “Paixões vivas” torna-se até uma oportunidade de forte atração turística.
Se você for nas igrejas onde são celebradas as liturgias que querem fazer o cristão participar dos eventos da Paixão e morte de Jesus, constata-se a presença de poucas pessoas. Certamente hoje a vida parece passar nos dias da Semana Santa, como nos últimos dias do ano, sob um único sinal: a compra e a troca das ‘colombas’, o equivalente do panetone de Natal.
Mas para os cristãos viver esses dias de forma autêntica significa garantir a sua presença na igreja, na comunidade, para formar um único corpo que celebra a Paixão do Senhor. Não é imitação, nem operação dolorosa, mas é contemplação, exemplo de fé, mais profundo conhecimento de uma vida oferecida aos homens tão amados: Jesus, que viveu amando, amou até o fim aceitando a morte sem se defender, solidário com todas as vítimas da história, vítimas da injustiça e da maldade de seus irmãos. O que a Páscoa de Jesus nos testemunha é seu deixar-se capturar sem oferecer resistência armada, é o seu silêncio eloquente diante do rei Herodes, que não merecia nem uma palavra de Jesus, é o seu interrogatório pelo Sumo Sacerdote.
Jesus permanece sempre manso, longe de qualquer tentação de violência. A sua não é rendição, mas submissão realizada livremente. Até ao fim, mesmo torturado, flagelado e finalmente crucificado, Jesus vê os seus algozes como pessoas que não sabem o que dizem e o que fazem, e certamente não é ele quem concede o perdão, mas pede a Deus, seu Pai, que os perdoe. A morte de Jesus era uma morte anunciada porque, como profeta, ele sabia que a recusa até à eliminação era o que o esperava entre os seus, de parte dos seus. Era sexta-feira, 7 de abril de 30, às 3h da tarde!
Mas essa morte, último resultado de um caminho de mansidão e de não-violência, de serviço e de cuidado pelos mais fracos e pobres que encontrava, última etapa que o via ser contado entre os pecadores, "amaldiçoado por Deus e pelos homens", e por isso pendurado na cruz, era uma morte que não poderia ser a última palavra sobre ele. E depois de um dia de aporia, um Sábado Santo de silêncio mudo e vazio, em que não estão previstas liturgias, Deus ressuscita dos mortos Jesus, vivo, entre os seus. É o Kýrios, o Senhor vivo e ressuscitado! E aqui a festa explode.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O rito da Páscoa. Artigo de Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU