19 Março 2025
Ben-Gvir retorna ao governo depois de sair em janeiro denunciando o acordo "escandaloso" com o Hamas. Agora o primeiro-ministro sabe que tem os números para aprovar a lei orçamental e sair ileso da crise causada pela sua tentativa de demitir o chefe dos serviços secretos.
A reportagem é de Fabio Tonacci, publicada por La Repubblica, 18-03-2025.
Poucas horas depois do ataque massivo de Israel a Gaza ter quebrado a trégua e deixado mais de 400 mortos, incluindo muitas mulheres e crianças, Netanyahu alcançou uma vitória política. Itamar Ben-Gvir, o mais extremista dos líderes israelenses, voltou a apoiar seu governo: ele o deixou em 19 de janeiro, renunciando ao cargo de Ministro da Segurança Nacional em protesto contra o cessar-fogo, que ele considerou "um presente ao Hamas". Isso reduziu muito o tamanho da coalizão governante, restando apenas um punhado de assentos na maioria do Knesset.
"Meus filhos morreram famintos! Não pense que você está vencendo, Netanyahu. Não temos medo de você. Seu fim está próximo"
— FEPAL - Federação Árabe Palestina do Brasil (@FepalB) March 18, 2025
Mãe palestina manda recado a Netanyahu após ter os filhos e o marido assassinados por "israel" em novo massacre em Gaza que matou mais de 400 palestinos. pic.twitter.com/2NfFFj37gl
Agora, com o Poder Judaico de volta ao seu lado, Netanyahu sabe que tem números suficientes para aprovar o projeto de lei orçamentária que será debatido no parlamento na semana que vem e sair ileso da tempestade interna provocada por sua tentativa de demitir o chefe dos serviços secretos e pelo chamado escândalo Qatargate. E é amplamente acreditado, tanto entre palestinos quanto israelenses, que o cálculo político é a verdadeira razão pela qual ele decidiu violar o acordo de trégua.
“As justificativas oficiais de que o Hamas não está cooperando na libertação dos reféns são insustentáveis e falsas”, diz Mohammar Orabi, diretor do Wattan, um meio de comunicação independente sediado em Ramallah. " Netanyahu lançou os ataques a Gaza principalmente para resolver a crise interna. Ele tem o apoio total dos Estados Unidos, que, portanto, devem ser considerados corresponsáveis pelo massacre. O objetivo do primeiro-ministro israelense é conduzir uma negociação armada, uma negociação sob fogo, mas dessa forma ele acabará matando as pessoas sequestradas."
Até no Haaretz, o jornal diário progressista israelense, Amos Harel assina um artigo que vai na mesma direção. “Não há outra maneira de explicar isso”, ele escreve. “Israel violou conscientemente o acordo com o Hamas porque não quis cumprir os termos com os quais se comprometeu há dois meses.” Em particular, a retirada completa das IDF do corredor da Filadélfia, ao longo da fronteira com o Egito: estava programada para o fim da primeira fase, mas os soldados ainda estão lá.
No contexto da crise interna, o violento confronto entre Netanyahu e Ronen Bar, o diretor do Shin Bet, a agência de inteligência doméstica. O primeiro-ministro quer demiti-lo porque não confia mais nele, algo que nunca aconteceu na história do estado judeu, e de fato o procurador-geral levanta dúvidas e considera a atitude do primeiro-ministro ilegítima. Existem várias teorias em Israel sobre as razões por trás do ódio de Netanyahu por Bar. O Shin Bet está investigando a falha de segurança no ataque de 7 de outubro. E o Qatargate certamente tem impacto, a investigação sobre três conselheiros de Netanyahu acusados de receber dinheiro do Catar. Outra circunstância embaraçosa para o primeiro-ministro israelense.