09 Mai 2017
Em meio a pequenos bairros que foram interditados por falta de materiais ou por várias complicações logísticas, cerca de sete mil guerrilheiros e guerrilheiras das FARC esperam ofertas de educação e sua reintegração na vida civil.
"A solidificação da paz é uma aspiração da nação", disse Alape.
A reportagem é de Katalina Vásquez Guzmán, publicada por Página/12, 07-05-2017. Traduzida por Henrique Denis Lucas.
No final de maio, se encerrará o prazo para a implementação da primeira fase do acordo de paz entre o governo colombiano e as FARC. De acordo com o cronograma de abandono de armas e reintegração, no DIA 180, as Nações Unidas terão acabado de reunir as armas da guerrilha mais antiga do continente, que decidiu, em Havana, Cuba, desistir de sua luta armada para se tornar um partido político.
No entanto, os contêineres da ONU nem sequer chegaram às 26 Zonas de Paz, onde a construção dos acampamentos deveria ter sido entregue no dia D+1, em 1º de dezembro do ano passado, o que não acontece em nenhum dos pontos. Já reuniram-se mil armas até agora, mas o governo não cumpriu o novo prazo acordado em Cartagena, com os delegados das FARC, para entregar 100% dos acampamentos até o final de abril.
Em meio a pequenos bairros que foram interditados por falta de materiais ou por várias complicações logísticas, cerca de sete mil guerrilheiros e guerrilheiras das FARC esperam ofertas de educação e sua reintegração na vida civil. Cursos de panificação e comunicação começaram em alguns casos, mas a maior parte da oferta educativa ainda não veio. O censo de ex-combatentes, que deveria ter começado no ano passado, após a assinatura do termo de paz e ficou a cargo da maior universidade pública na Colômbia, a Universidade Nacional, começa só nesta semana. E as leis que estão tramitando no Congresso, como a que diz respeito à participação política das FARC, já foram aprovadas, mas a Lei de Anistia, que está pronta desde 2016, não caminha no ritmo esperado.
Ao mesmo tempo, as próprias FARC denunciam que os paramilitares estão se aproximando de em algumas zonas de paz disparando, como aconteceu em Policarpa Nariño na semana anterior. E as balas atingem os líderes sociais – camponeses, indígenas, mulheres – que estão, literalmente, colocando sua vida em jogo pela paz. Neste contexto conturbado, a sociedade civil tem realizado congressos e assembleias para exigir a aplicação rápida e integral do Acordo de Paz, juntamente com as garantias de segurança para os defensores dos direitos humanos. E as Nações Unidas decidiram que seu Conselho de Segurança, presidido pelo Uruguai, realizará reuniões na Colômbia, pela primeira vez na América Latina.
No dia 04 de maio, o Conselho de Segurança reuniu-se com líderes sociais, o governo e a guerrilha para escutar em primeira mão os avanços e as complexidades da implementação. Em seguida, visitaram uma zona de paz e divulgaram uma mensagem de acompanhamento e apoio contínuo para a paz na Colômbia, destacando que, com o acordo com as FARC, a América Latina seria a única região sem conflitos armados no mundo inteiro, atualmente.
Na capital do país, o Página/12 conversou com o líder das FARC Pastor Alape sobre como elas veem as várias complicações de implementação do acordo e que pontos fortes podem destacar.
Eis a entrevista.
Em que ponto da implementação estamos, como você se sente com o que foi alcançado e o que falta alcançar?
Estamos a 27 dias de chegar na meta do D 180. Mais do que a meu sentimento, quero recorrer a pulsação do coração deste país, que se expressou através de um NÃO nas urnas e que continua exigindo que o acordo seja cumprido.
Como está a implementação?
Segundo estudos, 12,73% foi alcançado. A iniciativa Unidos pela Paz realizou uma análise e, de acordo com tudo isso, a implementação tem sido um fracasso, com base nas datas que foram estabelecidas para implementar as questões acordadas com o D+180. As anistias estão em 1%. Chegará o dia D+180 e os acampamentos não estarão prontos. Hoje, também me preocupo com o que está se acontecendo especialmente nas regiões onde houve eventos violentos, assassinatos e perseguições a líderes sociais.
O que é possível destacar sobre implementação?
Que este acordo já não pertence ao governo. A solidificação da paz é uma aspiração da nação e temos insistido na abertura de mais espaços de participação da sociedade civil e especialmente das regiões. São as regiões que viveram a guerra com maior rigor; a força política das regiões tem muito impacto sobre esta construção da paz. É preciso se abrir às possibilidades para que elas tenham maior influência. Também quero destacar o apoio do país à paz, pois o processo tem que ser deles.
Como serão resolvidas as complexidades nos campos e a entrega das armas?
É necessário prolongar o tempo de permanência nessas zonas. Os espaços físicos não estão assegurados, os projetos ainda não se estabeleceram, ainda estamos muito atrasados na questão da reincorporação. Não me atrevo a dar uma data. Teríamos que iniciar uma série de ações que não serão alcançadas nestes 27 dias, mas sabemos que o nosso compromisso continua sendo a paz. Nós não queremos fracassar como aconteceu com outros processos. O fenômeno da América Central é um espelho. Esperamos que na Colômbia possamos construir um território de paz para o continente.
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Colômbia. "O país apoia o processo de paz". Entrevista com o líder guerrilheiro Pastor Alape - Instituto Humanitas Unisinos - IHU