Sob a batuta do neoliberalismo, os mais empobrecidos do Brasil continuam a pagar a conta que engorda os ricos beneficiados pela bolsa banqueiro. Ao mesmo tempo em que a política econômica segue refém dos parasitas, que junto com o acordo Europa-Mercosul jogam a pá de cal da indústria brasileira, a economia não se mostra mais a serviço da vida, mas coloca a sociedade a seu bel prazer. Todo esse jogo de poder é também conduzido pelo Congresso Nacional ultraconservador e mais retrógado desde a redemocratização. Atores que deveriam representar o povo brasileiro, mas atendem a interesses privados e deturpam a Constituição de 1988. O anarcocapitalismo argentino vindouro pode chegar de paraquedas ao Brasil. No mundo, cai mais uma ditadura, mas pairam incertezas sobre o novo regime. Enquanto isso, a rica e avançada Europa fecha suas portas aos migrantes sírios e Israel caminha para mais uma ocupação colonial nas Colinas de Golã.
Confira os destaques na versão em áudio.
O Orçamento Federal executado em 2023 foi de R$ 4,36 trilhões. Desse valor, o governo pagou mais de R$ 1,89 trilhão de juros e amortização da dívida pública. Isto é, mais do que 40% do total do orçamento. Uma verdadeira bolsa banqueiro, como bem sintetiza Maria Lúcia Fatorelli em entrevista do IHU esta semana. Segundo a auditora-fiscal aposentada, esta ‘bolsa’ é “a remuneração que o Banco Central paga diariamente aos bancos sobre um dinheiro que nem sequer pertence a eles. Atualmente, o montante de R$ 1,64 trilhão no caixa do Banco Central representa a sobra de caixa dos bancos; é um dinheiro que pertence à sociedade. Esse dinheiro da sociedade deveria retornar a ela, a fim de dinamizar a economia com a ampliação de negócios e geração de emprego e renda. Mas não é isso que acontece”, adverte.
“Em 2023, o Banco Central gastou mais de R$ 220 bilhões para doar esses juros aos bancos, sobre um dinheiro que nem sequer pertence a eles. Por isso, denominamos esse pagamento de bolsa banqueiro”, complementa. Um ataque direto aos mais empobrecidos, pontua a entrevistada. Ela ainda chama a atenção para a repercussão desses cortes na sociedade. “A redução de gastos sociais resultante das medidas desse pacote, que recai principalmente sobre as pessoas mais vulneráveis, deve ser de R$ 30,6 bilhões já em 2025, segundo anunciado pelo governo”, esclarece.
Com uma política econômica que tem o neoliberalismo como fio condutor, o anúncio de corte de gastos do governo Lula mira no abono salarial, na política de valorização do salário mínimo e em ajustes para minar a adesão ao Benefício de Prestação Continuada – BPC, a maior perversidade, como pontou Bianca Valoski. Nessa rota austericida, o governo dá um cavalo de pau à direita e em direção de um “neoliberalismo mais raiz”, onde os pobres são colocados no altar do sacrifício.
Olhando em perspectiva, Leda Paulani é direta ao afirmar que os prognósticos para o Brasil, elaborados por Celso Furtado, estavam “assombrosamente certos”. Ao retomar a obra do economista, O mito do desenvolvimento econômico, que agora será republicada, a professora avalia que nos últimos 50 anos do processo de modernização econômica, há “um e outro alívio trazido por políticas sociais de alto impacto implantadas por governos populares, mas, de forma geral, o atraso só fez transbordar”.
O Banco Central, na sua sanha de alcançar a recessão, estagnar o PIB e aumentar o desemprego, elevou mais uma vez a taxa de juros na última reunião do Copom. Um presente aos rentistas histéricos, que de quebra vão receber o dinheiro que será economizado com o corte de gastos, isto é, R$ 50 bilhões a mais com uma só canetada. Por falar em neoliberalismo, Vladimir Safatle aproximou a perspectiva do sofrimento psíquico à subjetividade neoliberal.
Quando se impede a inclusão, a melhoria no consumo das famílias de baixa renda e se aposta na recessão - como faz o Banco Central- o que se realiza na vida é uma política criminosa contra o projeto de nação inscrito no Preâmbulo da Constituição. Leiam para concluir! Está lá! https://t.co/Vt92L8j1FU
— Tarso Genro (@tarsogenro) December 12, 2024
Flávia Oliveira falou tudo! "A ata do Copom está bastante clara na direção de que o Banco Central quer produzir uma recessão. Eles não querem um PIB muito alto e nem um desemprego muito baixo”. Isso é criminoso! Estão boicotando o próprio país.
— Lázaro Rosa 🇧🇷 (@lazarorosa25) December 12, 2024
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No teatro encenado do Congresso, o centrão se aproximou da extrema-direita para fazer avançar pautas conservadoras, antiambientais, antipopulares e chantagear o governo. Com o Brasil operando essa economia às avessas, é um vale tudo: trabalho escravo, anistia a armas, castração química, internações compulsórias, ataque à moratória da soja, mudar a Constituição para dificultar a reforma agrária, jabutis em PL para beneficiar carvão e gás, fogo, muito fogo do agrossuicida. Para que o estado consiga concretizar o projeto neoliberal, há um processo de desumanização generalizado, que atua em diferentes pontas, sempre rompendo a corda no lado dos mais fracos. Basta olharmos os retrocessos que continuam sala adentro: o financiamento público do desmatamento, as comunidades rurais que desaparecem em meio ao veneno da soja, a violência policial, o empreendedorismo, o trabalho precário, a liberação da pulverização área de agrotóxicos.
“A CCJ virou a porteira do inferno. Eles sabem que isso não vai passar (...). É para fazer jogo de cena, terrorismo com a sociedade”, diz @natuzanery sobre projeto de voto impresso.
— GloboNews (@GloboNews) December 11, 2024
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A Argentina completou um ano de “liberdade” com Javier Milei à frente de um projeto que ele mesmo denomina como anarcocapitalismo. Agora, mais da metade da população do país é pobre e quem se beneficiou mesmo foram os donos do poder econômico, que agora ainda vão receber mais um agrado do “loco”, nas palavras do presidente: “vamos fazer um programa de ajuste para poder diminuir impostos e devolver o dinheiro ao setor privado”. Um Robin Hood às avessas, por assim dizer. Para Pablo Stefanoni, “Milei é mais do que uma toupeira antiestado. É verdade que odeia o Estado de uma forma quase patológica, mas não é menos verdade que ele não hesita em usá-lo para fortalecer o seu poder: para dar conta do que hoje se tenta projetar como mileísmo, devemos considerar a complementaridade de uma discursividade utópica/radical, que por vezes se projeta de forma palhaça, com o uso hábil dos mecanismos do ‘fio político’ que lhe permitiu manter a popularidade nas sondagens, situando-se acima dos 40% em termos de popularidade e alcançar a estabilidade política apesar de ter uma representação escassa no Congresso. Milei é responsável pelo discurso – de onde se projeta como ‘líder da liberdade’”.
Por falar em extrema-direita, “sem distinções, ela sabe da importância de ganhar músculos. Tornar visíveis os seus generais no comando. Seus porta-vozes promovem a desigualdade, demonizam a justiça social e se reconhecem no patriarcado. Estimulam a xenofobia e o racismo. Consideram o pagamento de impostos um roubo. Refratários à democracia, a condenaram como forma de governo”, assinalou Marcos Roitman Rosenmann. Aqui no Brasil, o fantasma comunista atacou até o bom velhinho, que teve o tradicional vermelho da roupa pintado de verde e amarelo.
Vamos ver o "viva lá libertad carajo" quando a fome levar aos saques. Aí vamos ver onde o "carajo" vai parar. https://t.co/HZNnTZiKqk
— Tarso Genro (@tarsogenro) December 13, 2024
Depois de 50 anos, o regime ditatorial da família Assad veio abaixo na Síria. Entre as boas notícias, a libertação de milhares de presos opositores ao regime. Mas, a tomada do poder pelos rebeldes mostrou ao mundo o que os sírios sabiam, as prisões eram matadouros. Os opositores eram presos, torturados ou mortos. “O legado da prisão de Sednaya é um terrível lembrete da brutalidade do regime de Assad”. Um adolescente foi preso aos 13 anos e sistematicamente torturado durante 12 anos nessa mesma prisão. O jovem, que sequer sabe seu nome, virou um símbolo da existência de uma vida cotidiana do mal na Síria.
ÚLTIMA HORA: Fotos filtradas revelan brutal t0rtura en la prisión de Sednaya, Siria.
— El Necio (@ElNecio_Cuba) December 12, 2024
🔄 Si crees que cualquier régimen que hace esto debe ser derrocado. pic.twitter.com/zPOALbnPom
A saída de Assad do poder pode representar um novo começo à Síria. Mas o futuro ainda é incerto, pois uma sombra jihadista vai comandar a transição de poder. Para o arcebispo de Homs, Jacques Mourad, é o “cheiro da liberdade” que paira no ar. O jornalista Riccardo Cristiano lembrou da profecia do padre Paolo Dall’Ogglio, que agora é cumprida. “Chegou a hora da libertação na Síria. Como sempre, o futuro não está garantido. Mas no dia da libertação, quando caiu o regime sírio, uma dinastia que atormentou a Síria e os sírios durante 54 anos, é triste que ninguém se tenha lembrado do padre Paolo Dall'Oglio”, desaparecido na Síria desde 2013. Dall’Oglio, um incansável defensor do diálogo inter-religioso da presença cristã no Oriente Médio, acreditava que “o otimismo deve permanecer obrigatório”.
Com a chegada dos rebeldes ao poder, Netanyahu aproveita para avançar com sua tentativa de redesenhar o mapa do Oriente Médio, estendendo o território israelense de Jerusalém até Damasco, atual capital síria. Israel bombardeou e depois avançou com suas tropas as cercas das Colinas de Golã, em uma possível nova ocupação colonial. Para Davide Assael, Tel Aviv é, sem dúvida, a vencedora desse cenário no Oriente Médio.
🇸🇾🇮🇱 Esta manhã, as FDI chegaram a Qatana, a cerca de 20 quilómetros de Damasco. Os sionistas continuam a avançar em território sírio para concretizar o projeto bíblico da “Eretz Yisrael”. Telavive efectuou a sua maior operação aérea da história contra a Síria durante a noite. pic.twitter.com/SKOyuRdDXS
— geopol•pt (@GeopolPt) December 10, 2024
🇸🇾🇮🇱 Israel apossou-se do Monte Hermon, a montanha mais alta da Síria, cujo pico atinge 2.814 metros. A capital da Síria, Damasco, fica a apenas 40 km de distância, agora ao alcance dos projécteis de artilharia de Israel. pic.twitter.com/U0z1L0qp2P
— geopol•pt (@GeopolPt) December 9, 2024
A rica Europa, repleta de tradições culturais e valores humanitários, não demorou nem 48 horas após a queda de Assad para mudar sua política migratória. Em atos quase sincronizados, “a Áustria anunciou os seus planos para deportar e repatriar o maior número possível de sírios (atualmente acolhe cerca de 100 mil); o departamento federal alemão para a migração e os refugiados informou que congelará as demandas de asilo de mais de 47 mil cidadãos sírios; a Grécia já suspendeu a avaliação de 9 mil pedidos de asilo de sírios. A Bélgica, a França e a Itália imediatamente seguiram o modelo.