15 Dezembro 2021
Padre Enzo Bianchi fala na igreja de San Secondo e fala sobre o desinteresse dos jovens pela Eucaristia e liturgia. Nos bancos, uma centena de pessoas aplaude quando o monge cristão fala de sua história na comunidade.
O padre Enzo Bianchi concede apenas poucas palavras sobre Bose, sobre sua experiência na comunidade da qual foi afastado, em meio a mil polêmicas. Aqui está: “Em Bose tentei mudar as orações. Eu havia transformado a linguagem de muitas delas para torná-las mais atuais. Mais perto dos jovens, mais modernas. E não é que esta escolha me trouxe grande sorte...”.
Ele diz isso e só. Mas é suficiente para que sob as sagradas abóbadas da igreja de San Secondo, dos bancos onde durante mais de uma hora e meia uma centena de fiéis ouvem as suas palavras, comece um longo aplauso. E algumas risadas contidas. Isso é o suficiente para atestar o quanto o monge Enzo Bianchi ainda seja considerado um monumento no mundo católico. Um guia para a fé. E não só.
Em agosto, quando postou no seu perfil social uma fotografia na qual convidava os amigos a visitá-lo, que se sentia sozinho, milhares e milhares de pessoas comentaram com emoticons ou com mensagens longas e articuladas: “Conte com a gente”, “Estamos indo”, “Diga onde está, certamente não o deixaremos sozinho”.
Na época ele contava que morava em Turim. Em uma casa colocada à disposição por amigos após seu afastamento da comunidade de Bose. Mais, contudo, não quis acrescentar. Ao telefone explicou que sim, sentia muita solidão, mas que ainda tinha muito a fazer, com conferências e encontros pela Itália.
Desde então, Enzo Bianchi voltou muitas outras vezes a público. Acolhido nas igrejas (mas não só) para falar sobre fé e futuro. Para incitar os ânimos e as sensibilidades. Mudando a perspectiva com que olhar para o mundo. Ele voltou a Turim ontem para falar sobre o Natal e a fé. Para oferecer pontos de reflexão para aquela centena de pessoas reunidas na igreja paroquial de San Secondo. Diz ele: “A liturgia que hoje é oferecida pela Igreja está muito distante dos jovens. Demais para eles ainda se sintam atraídos”.'
A entrevista é de Stefano Poletto, publicada por La Stampa, 13-12-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Padre Bianchi, quais são as causas de todo esse desinteresse?
A linguagem e também a forma como ela se realiza. Os jovens conseguem ter interesses em lugares de liturgia como Taizé, ou como Bose, onde a liturgia foi reformada e se emprega uma linguagem diferente. Através de novos cantos, e também com novas palavras.
Você compartilha tudo isso?
Tenho dificuldade em aceitar a liturgia e a Eucaristia assim como são celebradas hoje.
Por que razão?
A Itália é o único país do mundo que não traduz exatamente as palavras da consagração. Dizemos ‘Este é o meu corpo oferecido em sacrifício por vós’. Enquanto na realidade a tradução exata seria ‘Este é o meu corpo para vós’. Tanto que sempre me pergunto por que temos que falar de sacrifício quando não existe. Por que temos que deixar essas palavras?
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Para o padre Bianchi, isso é fundamental: “As orações repetem uma linguagem que não diz mais nada. As redes sociais, e muito mais, mudaram a forma de comunicar. E a Eucaristia e a oração devem falar também aos jovens, que são cada vez menos numerosos nas nossas igrejas”.
A mensagem é clara. E quem escuta acena com a cabeça. Afinal, o padre Enzo Bianchi é assim, acostumado a dizer coisas que muitos pensam, mas depois não ousam. Último aplauso, depois o fim do encontro. Há uma fila para apertar sua mão. Ele sorri. Depois vai embora, acompanhado pelo padre Mario Foradini, que abriu a ele as portas de sua esplêndida igreja.
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“Em Bose usávamos orações modernas, mas isso não me trouxe sorte” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU