05 Agosto 2021
O padre diocesano Rubén Orlando Leyva, conhecido como Rubén de la Trinidad, pertencente à Arquidiocese de Havana, é uma pessoa muito querida pelos jovens católicos cubanos. Já que é um dos fundadores da plataforma comunicativa Rede Católica Juvenil Cubana, um instrumento de comunicação para a evangelização que desde sua criação presenteou novas possibilidades para conectar a diferentes gerações de católicos cubanos em um projeto comum com participação ampla dos católicos cubanos exilados.
A reportagem é de Julio Pernús, publicada por Religión Digital, 03-08-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
No dia 1º de agosto, padre Rubén escreveu em suas redes sociais sua posição sobre a situação atual do país: “Não podemos fechar os olhos para a dureza da realidade cubana. Há pessoas morrendo em hospitais e em centros de isolamento. Por falta de remédios. Em Cuba não existem nem os mais básicos como analgésicos, antibióticos ou vitaminas”. O também pároco da comunidade de Santiago de Las Vegas, na periferia da capital cubana, argumentou: “O povo cubano está desnutrido e não vacinado, está cada vez mais doente e é uma população muito vulnerável devido ao envelhecimento, à fome e à nutrição terrível”.
Foto: Julio Pernús/Religión Digital
O clérigo aludiu ao fato de que os meios de comunicação controlados pelo sistema mentem impunemente, mantendo o discurso oficial permitido pelo Dono Absoluto da nação, o governo com seu único partido, o comunista, o Estado, as Forças Armadas (tudo isso é a mesma coisa). Sem dúvida, afirmou: “Não há apoio concreto por parte da comunidade internacional. Infelizmente, esta bebida amarga da fatalidade que dura para sempre desde o triunfo do mentiroso e ditador camaleônico em 1959, é uma bebida que comove a todos nós, filhos desta amada ilha, estejamos dentro ou fora dela”.
Ante a pergunta feita a vários de seus amigos sobre se em Cuba há esperança, o padre Rúben responde: “Muitos me perguntam se há esperança... eu creio que sim, que sempre há uma esperança. Uma esperança de que todo este pesadelo passará, que estes 62 anos de silêncio e medo já acabaram com último 11J. Cuba tem agora a oportunidade de escrever uma nova história. Cuba tem a oportunidade de ser valente e dar um giro nesta rota tão acidentada. Cuba tem a chance de retomar o caminho que nunca deveria abandonar, de uma República democrática e realmente livre em sua participação política, social e econômica. As forças armadas e policiais tem a chance de se unir a esses a quem devem servir e não reprimir, o Povo”.
Seu comentário alude ao fato de que o Governo da Revolução tem a oportunidade de proporcionar um legado e um futuro diferente para as novas gerações que contemplam com clareza e nojo a ineficácia de uma ideologia de ódio e não-liberdade, arraigada no poder. “Os que detêm o poder político, militar e econômico em Cuba – destacou – têm agora a oportunidade de acabar de enterrar este sistema obsoleto, absurdo e sombrio que é o comunismo e que está dando os últimos acessos de raiva. Por favor, não prolonguem esta fatídica letargia que está destruindo vidas, famílias e o pouco que resta de valores e esperança em Cuba”.
Em sua mensagem há um apelo à harmonia e à compreensão entre os cubanos, já que ele mesmo lê: “Sejamos todos os protagonistas de uma Nova Cuba juntos, com verdadeiros direitos, com liberdade de empreendedorismo, com liberdade econômica, com sonhos e sorrisos nos lábios e seus corações. Acabem de reconhecer, vocês que governam em meio ao descontentamento popular, que o marxismo não é desejado pelos Filhos da Nação, que o comunismo é uma importação desastrosa dos soviéticos, que também não funcionou para eles. Aprendam a valorizar todo o legado inestimável dos verdadeiros heróis de Cuba. Há tanta riqueza política a aprender com os forjadores da Nação e da República e, ao mesmo tempo, tanta energia e capacidade nas novas gerações que devem estar no comando do País que queremos”.
Foto: Julio Pernús/Religión Digital
No último parágrafo de seu texto, padre Rubén faz uma alusão à tão almejada Cuba do futuro e a descreve assim: “Esta Cuba que almejamos já lançou seus alicerces no coração de todos os cubanos que choraram angustiada e silenciosamente pela liberdade há mais de 60 anos, e que agora eles já decidiram tirar do peito este grito, amargo e doce ao mesmo tempo, de uma vez por todas”.
A mensagem, em parte dirigida especialmente aos jovens comenta que “cabe a nós todos nos armarmos desta esperança para levantar novamente a Nação. Uma Cuba ‘com todos e para o bem de todos’, uma Cuba onde não reine mais a ideologia, onde caibam todos, onde as ruas sejam de todos, onde o poder não oprima nem reprima, nem golpeie. Uma Cuba onde o limite da liberdade seja a caridade e o direito alheio, onde ninguém tenha que se esconder ou abaixar a voz para expressar o que pensar e crê ser correto. Uma Cuba onde haja verdadeira participação política e onde se possa empreender com liberdade. Uma Cuba, enfim, nas mãos dos cubanos e não mais do que qualquer ditadura. Uma Cuba-Casa-Mãe, onde todos os seus filhos possam voltar ao seu seio e à intimidade da sua mesa, sem que nenhuma carne ouse chamar o irmão de 'traidor' ou 'verme' ou 'escória'. Os filhos de Cuba não nasceram para essa vileza. É o momento de reconhecer pessoalmente diante de Deus nossa mesquinhez, se houver alguma, e retomar as rédeas de nossa história, para colocar tudo em seu lugar e acabar com este pesadelo exaustivo”.
Foto: Julio Pernús/Religión Digital
Desde os protestos de 11 de julho na ilha, cada vez mais padres retiraram o manto do silêncio para denunciar o que está acontecendo em Cuba. O padre Rubén, que teve um perfil político moderado desde a sua ordenação, termina o seu texto esclarecendo que reproduz uma humilde oração a Nosso Senhor Jesus Cristo e à sua Santíssima Mãe pela sua Pátria.
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Cuba. Padre de Havana pede para que militares e policiais se unam aos protestos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU