14 Julho 2021
Primeiro, vem o corte drástico da renda, normalmente provocado pela perda do emprego de um ou mais integrantes da família. Algum tempo depois, a cruel escolha entre necessidades básicas:
Esse é o roteiro padrão dos relatos de inúmeras famílias que passaram a morar nas ruas de Belo Horizonte desde o início da pandemia. Um total estimado em 8.840 pessoas pelo Projeto Polos de Cidadania da Universidade Federal de Minas Gerais, em relatório publicado em abril deste ano. Se esse grupo formasse uma cidade, teria mais habitantes que a população individual de 450 municípios mineiros, e equivaleria ao número de moradores estimado pelo IBGE para Coluna, no Vale do Rio Doce.
Moradores de rua em BH já superam população de 450 cidades mineiras
Eis o país que o golpe de 2015 e 2016 produziu e o governo Bolsonaro sacramentou. Não se trata de um efeito colateral. A generalização da miséria é fundamental para destituir as pessoas do domínio objetivo e subjetivo de sua força de trabalho. Quem se vê ameaçado pelo risco da miséria aceita qualquer negócio.
Frase lúcida de Galo - líder dos entregadores de aplicativo antifascistas: "Quando você coloca os trabalhadores por conta própria como 'empreendedores', estará dando um chicote para o trabalhador bater nas próprias costas".
O "empresário de si mesmo" enquanto imaginário coletivo parece estar em estado de dissolução entre os movimentos sociais que perceberam a dissimetria abissal entre o trabalho vivo e a arquitetura do sistema financeiro. Leia aqui.
A questão mais importante me parece ser a construção do consenso da destruição. Com que instrumentos, poderes, máquinas de alienação universais um país chegou à degradação política total? Como foi possível 58 milhões de espertos, cafajestes, dementes e infantilizados chegarem ao exato nível de Jair Bolsonaro e desejá-lo para gerir as suas vidas e exterminar a dos outros? De que modo estas pessoas perderam todo contato com a moralidade pública, a história e o que importa na vida? Como se tornaram vazias e disponíveis para serem preenchidas por esse desejo, se tornaram os idiotas voluntários que são de um assalto mafioso ao Estado, com satisfação e excitação? O fascismo contemporâneo não é uma somatória caótica de ideias reacionárias e violentas, irracionais e destrutivas. É essa máquina, capaz de impor o pior ao próprio desejo.
Donald Winnicott no Brasil em 2021
Esse livro é para todos os amigos, e os amigos leitores
Donald Winnicott é o psicanalista da vida. Só quem conheceu como próprios os meandros produtivos da psicanálise, que ele chamava de fundamentalmente criativa, poderia dizer um dia que “a vida é mais importante que a análise”. Para ele, sem abrir mão da teoria do inconsciente que recebeu de sua tradição, a psicanálise sempre foi de fato vida. Tendo anos de análise pessoal com James Strachey, que se analisou com Freud em Viena, e de estudos com Melanie Klein, que se analisou por sua vez com Sándor Ferenczi e Karl Abraham, Winnicott soube fazer seu tudo aquilo que recebeu, bem como, em sonhos, Goethe propôs a Freud. Ao seu modo altamente idiomático, ele reinventou a psicanálise, o objeto cultural que tanto amava, no mesmo movimento em que a incorporou. E foi exatamente esta ética de civilização como criação que ele ofereceu aos milhares de crianças e bebês que teve no colo, durante cinquenta anos, em sua clínica psicanalítica pediátrica que acontecia no hospital público inglês. Talvez por isso elas transformassem de modo tão vivo suas dores e seus medos junto a ele, junto à sua zona de ilusão.
Passando por baixo e indo além de todo caráter contratual que estrutura grande parte da vida social da psicanálise no mundo, como Gilles Deleuze dizia sobre ele, sendo o primeiro a nos ensinar a “a ir até lá”, como o filósofo completava, observando, como também dizia Giorgio Agamben dele, o modo com que o objeto põe o humano para ser nele próprio, como os índios, as crianças e os artistas sabiam, Winnicott é, por estas e por outras, para muitos de nós, depois de Freud, o psicanalista dos psicanalistas. Com ele aprendemos a respeitar, e a desrespeitar, todo o cânone ao mesmo tempo. Passamos a pensar, ou melhor, a viver, em um mundo “entre os mundos” e a partilhar, em suas palavras rigorosas, a origem temporal do simbolismo.
Pensamentos, experiências e concepções de clínica diretamente “inspiradas” nele foram os de Marion Milner, M. Masud Kahn, Margaret Little, Jean-Bertrand Pontalis, Christopher Bollas, Harold Searles, René Kaës, René Roussillon, Adam Phillips, entre tantos. Jessica Benjamin e Axel Honneth o estudaram bastante e o consideraram, ambos, como uma espécie de último limite de uma teoria ética e ontológica, desde a psicanálise, do reconhecimento: o mundo fundante de um humano como ser político e de cultura. Ele próprio tinha um vínculo de afinidade eletiva especial, de pai para filho inconsciente poderíamos dizer, com o pensamento do então bem censurado da psicanálise Sándor Ferenczi, com o qual entrou em contato através de seu amigo psicanalista Michael Ballint, analisado por Ferenczi e guardião do mítico “diário clínico” do genial discípulo húngaro de Freud.
No Brasil, seu trabalho frutificou como em poucos centros da psicanálise de hoje e deu origem, entre outros, ao inspirador pensamento de Gilberto Safra, altamente humanista. O meu próprio trabalho com a Clínica Aberta de Psicanálise, e nosso grupo analista, nosso coletivo de psicanalistas sociais na Casa do Povo em São Paulo, só pôde existir porque em 1930 Winnicott se ajoelhou com uma criança em um corredor de hospital em Londres e eles desenharam juntos belas figuras, enquanto ela lhe contava seus sonhos… A Clínica Aberta se sustenta articulando uma série, aberta, inventada pelo paciente, de “consultas terapêuticas”, a poeticidade psicanalítica muito especial do encontro único, verdadeiro mundo clínico descoberto por Winnicott.
Certa vez Rodrigo Naves me disse desconfiar que os “objetos relacionais” de Lygia Clark tinham inspiração e base no objeto e fenômeno transicional de Winnicott, que ela teria aprendido na época diretamente em Londres, quando morou lá… Perto do fim da vida, Winnicott nos contou sobre um clube de amigos que lhe aparecia em sonhos, no qual costumava se encontrar e conversar com C. Gustav Jung. Ao mesmo tempo, ele nos mostrava todo o valor do “sem sentido” em psicanálise; enquanto pedia a Mohammed Masud Khan que fosse com a sua roupa de cavaleiro atender uma moça anoréxica que amava cavalos…
Há pacientes lacanianos como há pacientes kleinianos. Pode-se rastrear os termos da teorização freudiana em todas as suas coordenadas e conceitos e fazer ainda mais mil e um mapas dos grafos de Lacan. Mas qualquer coisa do tipo perde o principal em Winnicott, o momento fulgurante de um acontecimento em psicanálise, disse dele Pontalis. Psicanalista do potencial, dos “mundos sem fim”, ele inverteu o valor e o sinal da ideia ocidental de ilusão e nos mostrou um pouco como “viver o paradoxo”. O paradoxo para Winnicott: verdadeira fonte de devir, antes de julgá-lo como qualquer modo de significação ou de significante. Por isso ele foi lido por alguns com Espinosa, por outros com Heidegger, e com Merleau-Ponty, quando foi de fato apenas um psicanalista pediatra que partilhou sonhos, e brincadeiras, com crianças. E com bebês, que adoravam o seu snack bar, a sua lanchonete, como ele chamava seu consultório no hospital, onde eles devoravam a espátula de prata, e voltavam à vida em seu colo.
Médico de aldeia, mesmo que a aldeia fosse Londres, diferente do mestre político Freud e da necessidade espetacular de reconhecimento de Lacan, só viemos a saber tudo o que ele era e tudo o que pensava após a sua morte. Definiu sua obra prima clínica, o “jogo do rabisco”, como “o jogo sem nenhuma regra”. Porque “o analista que não sabe brincar não sabe analisar”, e a vida é mais importante que a análise, “esta forma altamente civilizada que o século 20 inventou de… brincar”! Pode? Por saber brincar e por amar tanto a psicanálise, que o fez tanto quanto ele a fez, foi mesmo o animador da vaquinha entre os psicanalistas ingleses que instalou a estátua de Freud, de Oscar Nemon, em Swiss Cotage.
Salve Winnicott, nosso guia e bom sonho, analista da potência criativa que tomou a vida ocidental como cultura, e como contra-cultura!…, até outro dia. O brincar e a realidade é o duplo, interior da psicanálise, desde a clínica, do radical e utópico discurso político, desde a cultura, que foi Eros e civilização. E nem Marcuse, nem Winnicott, rigorosamente contemporâneos, ouviram falar um do outro enquanto levavam a psicanálise na mesma direção. Ofereço esse ensaio, este estudo e retrato, Winnicott, experiência e paradoxo, a todos os meus amigos que mantêm o humano vivo e íntegro, deste ou daquele modo, de todos os modos, de todos os mundos, nestes tempos tristes de pobreza psíquica, mercadoria como sujeito e violência como cultura. Tempo em que homens do sonho, do reconhecimento, da criação e da democracia, como Winnicott, são tidos por inimigos.
Agradeço muito à Florencia Ferrari, e aos amigos da Ubu editora, que me deram a responsabilidade feliz de acompanhar com esta apresentação e ensaio a sua nova e fundamental coleção Donald Winnicott. E agradeço a todos os colegas que estão presentes em mim. Estou disponível para conversar com quem quiser falar sobre este livro, que foi escrito para todos. Evoé, DWW
Estou fora do Rio, sem jornais e sem internet até ontem. Assim fico por mais uma semana, para concluir alguns trabalhos. Recebo apenas ecos do que se passa em Cuba - certamente, uma combinação de ação externa orquestrada e insatisfação interna legítima. O governo americano apertou o embargo comercial e financeiro até o limite para provocar o colapso do país. Mirou diretamente na grande vulnerabilidade cubana, a necessidade de importar energia e alimentos.
No post abaixo, escrito logo após a morte de Fidel Castro, tentei esclarecer qual é o problema central da rivalidade entre Estados Unidos e Cuba.
Chego de viagem e encontro os jornais com a cobertura da morte de Fidel Castro. Fico espantado com o nível dos repórteres enviados a Havana. Nenhuma informação relevante, nenhuma entrevista interessante.
Aqui no facebook há de tudo, contra e a favor. Mas há, sobretudo, desinformação.
Não tenho tempo para escrever com mais detalhes as minhas impressões sobre Cuba e Fidel. Serei telegráfico e apontarei apenas um ponto de partida.
Os Estados Unidos são a expressão de um projeto geopolítico extremamente bem-sucedido. Por meio de guerras, anexações e negociações, as treze colônias inglesas originais, relativamente pequenas e concentradas na costa leste, formaram o grande território bioceânico que conhecemos. O projeto original previa, explicitamente, que ele deveria ter três projeções extracontinentais: o Havaí (uma base avançada no oceano Pacífico), Porto Rico e Cuba (que garantiriam o controle do Caribe).
Havaí e Porto Rico foram devidamente fagocitados. Em Cuba, o projeto americano se chocou com o domínio da Espanha. As duas potências passaram a disputar o controle de um território que durante muito tempo só conheceu duas possibilidades: colônia espanhola ou protetorado americano.
Na segunda metade do século XIX um movimento endógeno, liderado pelo escritor e poeta José Martí, propôs outro caminho: Cuba seria uma nação.
Martí morreu em combate e seu movimento foi derrotado. Na sequência dos acontecimentos, os Estados Unidos suplantaram a Espanha e estabeleceram o desejado protetorado em Cuba, completando o desenho geopolítico imaginado pelos fundadores da nação americana. Formou-se na ilha uma elite associada a esse projeto.
A Revolução de 1959 foi uma retomada explícita do projeto de Martí, com forte componente nacional e extensa base popular. A ideia de edificar a nação cubana tornou-se, finalmente, hegemônica. É ela que explica, até hoje, tanto a espantosa legitimidade da Revolução em Cuba, apesar de todas as dificuldades, quanto a tenaz oposição a ela por parte dos Estados Unidos: quem é vocacionado para a hegemonia não aceita ser derrotado.
Dos dois lados, há memórias e princípios em jogo. Qualquer avaliação do processo cubano, a meu ver, deve começar por aí, para em seguida reconhecer que a revolução nacional cubana sofreu todas as consequências de ter sido realizada no auge da Guerra Fria, quando os povos haviam perdido o direito de construir suas próprias histórias. Todos os acontecimentos, em qualquer parte do mundo, eram logo enquadrados na lógica da confrontação entre os dois grandes blocos de então.
Tudo isso marcou profundamente os caminhos da pequena Cuba independente.
Não creio que as discussões que se estabelecem em torno de categorias abstratas – “capitalismo” e “socialismo”, por exemplo – possam descrever o real. O que há, sempre, são processos históricos cheios de especificidades.
Torço para que Cuba mantenha seu projeto nacional, que apresenta importantes conquistas, e saiba corrigi-lo, libertando-se da parte ruim da herança de uma época que já acabou. Tenho muitas evidências de que o governo e a sociedade cubana têm plena consciência disso e querem caminhar nessa direção. É o que importa. O resto é guerra de propaganda.
Quanto a Fidel Castro, ele agora descansa junto de José Martí, os fundadores da nação cubana.
Meus amigos, como se sabe Cuba está com a economia estrangulada e passa por grandes dificuldades.
O infame bloqueio, que já dura mais de 60 anos e impede inclusive a compra de produtos como combustíveis e equipamentos hospitalares, tornou-se ainda mais criminoso num momento em que as duas principais fontes de divisas do país (o turismo e a exportação de serviços médicos) estão inviabilizadas devido à pandemia.
Num mundo globalizado, qualquer empresa que faça negócios com Cuba é impedida de se relacionar com os Estados Unidos, a maior potência mundial.
Tudo isso provocou uma grave crise de desabastecimento, trazendo grandes sacrifícios para a população.
Deve-se ressaltar que as manifestações contrárias ao governo foram respeitadas. O presidente da República, em vez de mandar policiais armados, convocou a população a ocupar as ruas e defender a revolução. Ele próprio foi, pessoalmente, discutir com os manifestantes de oposição. Em que país isso aconteceria?
O resultado é que em pouco tempo as manifestações de apoio ao governo suplantaram as de oposição.
Mas Cuba não deve ser deixada só. É hora de os democratas e progressistas levantarem a voz, denunciando as agressões imperialistas e pondo-se incondicionalmente ao lado do governo e do povo cubano.
A política criminosa dos Estados Unidos tem que ser denunciada duramente. Até nas Nações Unidas ela está isolada. Há poucos dias o governo americano teve o apoio de apenas dois países para manter o bloqueio. Os demais 184 foram contrários. Nem mesmo Bolsonaro ficou a seu lado, preferindo se abster. Mesmo assim, o governo americano desrespeita a resolução da ONU e mantêm o bloqueio.
Nesse quadro, o apoio a Cuba deve ser total, sem qualquer vacilação.
As correntes de esquerda que, a esta altura, falam de "herdeiros do stalinismo" se omitem e lavam as mãos, abdicando de qualquer responsabilidade histórica. Mesmo que, em suas notas, condenem o bloqueio. Cometem uma omissão imperdoável.
A situação não está inteiramente controlada e o desabastecimento segue sendo um enorme problema.
O povo cubano, porém, já deu mostras de uma enorme consciência política e combatividade.
Todo apoio a Cuba.
Pelo fim das agressões imperialistas e do bloqueio criminoso.
Um texto absolutamente necessário neste momento.
Parabéns ao Jeudiel pelo desassombro com que o escreveu. A brasileiros com ânsias de "debatê-lo", recomenda-se cautela, caldo de galinha e senso de proporção do próprio (des)conhecimento.
Apoio sempre a quem luta por liberdade nas ruas.
Jeudiel Martinez
Cuba Libre.
No es extraño que desde la izquierda digan que los cubanos que protestan están manipulados. La izquierda, sea aquella del primer mundo, sea la inmunda clase media de izquierda latinoamericana, siempre ha creído que conoce países como Cuba y Venezuela mejor de lo que su gente los conoce: entonces, ellos tienen que saber mejor que los cubanos que es lo que les conviene, niños eternos los cubanos son manipulables a diferencia del izquierdista, modelo de la iluminación.
El sobresalto se entiende facil: para esa izquierda (que no es más que una provincia de la clase media universitaria, sus privilegios, sus ventajas y sus prejuicios) la sacudida en Cuba es la de una de sus creencias fundamentales.
El Castrismo fue pionero en diseñar una experiencia turístico-cultural en la cual un extranjero con poco o ningún conocimiento del país –al estilo de Beauvoir y Sartre- podía juzgarse experto en un país que no conoce, en una vida que no vive, de un idioma que no habla: no es cuestión de identidad, sino de experiencia, y el castrismo, como ningún otro régimen, consiguió fundamentar la política desde una experiencia turística y sentimental que apagó la de los que viven, día tras día, en Cuba: que la decadencia, la ruina y el óxido de las ciudades cubanas sea fascinante para la clase media de izquierda muestra toda la diferencia entre quien vive en una casa en ruinas y quien le toma fotos. Desde la ridícula, increíble, infantil, cursilería de la trova cubana a las visitas guiadas y el esnobismo de los intelectuales, la estabilidad de Cuba, en medio del bloqueo, estuvo asociada a la creación de un parque temático en la que el cubano común queda en la misma posición servil que los anfitriones de la serie Westworld: tiene algo de extraño que los snobs de nueva york, Santiago o París crean que alguien ha hackeado sus androides?.
Por tanto, es deber de los cubanos soportar lo que nadie más soportaría: tienen que vivir en ciudades decaídas y oxidadas, manejar carros viejos o colgar de “guaguas” llenas de gente, no pueden criticar al gobierno, no pueden fundar un sindicato, no puede elegir entre dos partidos distintos en una elección, están condenados a ser fieles y obedecer no sólo en beneficio de la nomenklatura que de hecho canceló la revolución para apropiarse del país sino en nombre de la izquierda internacional para la cual la islita valiente, doble de la Utopía de Tomas Moro, es el eje de la existencia.
Intelectualmente la función de Cuba es mantener la fe en una forma de gobierno que ni funciona ni tiene justificación: incluso Vietnam y China, que mantienen el régimen de partido único, se han alejado del estalinismo de viejo estilo que Castro mezcló tan bien con militarismo y caudillismo latinoamericanos, híbrido que ha arrastrado su fracaso por décadas, incapaz, pese a todos los esfuerzos, de emprender las complejas reformas que le habrían hecho falta para modernizarse, fijos en un camino más parecido al de Corea del Norte donde la incapacidad de cambiar y el apego al pasado sirven de orientación y de brújula.
El castrismo precisamente por eso, por neoarcaico, despierta la nostalgia de la izquierda realmente existente y, a la vez, revela su carácter totalitario: finalmente lo que llamamos “izquierda” no es el resultado de las grandes movimientos revolucionarios del siglo pasado sino la herencia de los partidos y los gobiernos que liquidaron esos movimientos y esas luchas: la izquierda no viene de rebeldes y creadores sino de los juicios de Moscú, de las burocracias partidarias, del Gulag, de las sectas fanáticas, los grupusculos universitarios, los intelectuales petulantes, los manuales y los amados líderes: su religión es un gobierno absoluto personificado en un líder incuestionable más allá de la necesidad de demostrar que representa a nadie o que sirve otra cosa que sus propios fines. La simpatía por Putin y la teocracia iraní ya demuestra el carácter de la izquierda pero hay que recordar que, en el “adn” de esa cultura está el castrismo: el marxismo más raro del mundo que no habla de proletariado o clase obrera sino de “pueblo” en los mismos términos que Franco y Mussolini, y contrabandeo las ideas autoritarias más tradicionales bajo el pretexto de ser “anti-imperialistas”: hay militarismo más agresivo, más opresivo y orwelliano que el “comandantismo” cubano que reduce a todos los cubanos a soldados obedientes en una guerra eterna?. El falansterio tropical cubano, con sus fiestas, sus turistas y sus intelectuales aduladores, siempre fue la imagen más seductora del totalitarismo.
Aunque fundamentalmente emotivo, el apego con Cuba se justifica en el bloqueo (que no explica que se hayan usurpado las libertades básicas de los cubanos) en el sistema médico (altamente mitificado y cuyo fracaso frente al Covid parece ser un detonante de las protestas) y esencialmente en la idea de que hay una extraña singularidad que justifica que los cubanos no puedan tener libertades que la izquierda sifrina de Paris, Nueva York o Buenos Aires no aceptaría perder.
Para la izquierda –la mayoritaria, la predominante, la que marca la pauta, no esas astillas de disidencia por las cuales gente ingenua pero bien intencionada quiere creer en la “diversidad”- los cubanos son extras, objetos sexuales, objetos estéticos, empleados, cuya función es llevarles mojitos y decir “patria o muerte, patroncito”, androides de confort condenados a vivir una vida que ellos nunca vivirían. Pero de hecho los cubanos son gente como nosotros: tienen derecho a decidir qué partido los gobierna (porque incluso cuando las opciones son miserables el hecho de elegir afirma que nadie es dueño del estado y que la gente común tiene la última palabra) tienen derecho a crear un sindicato e ir a huelga, a protestar en la calle, a escribir en periódicos, a denunciar al estado en un tribunal, a confrontar a la policía sin ser asesinados a vivir en ciudades limpias con servicios públicos decentes, porque todas esas libertades (que la izquierda llama burguesas pero no aceptaría perder) definen nuestra dignidad y nuestra calidad de vida y sin ellas no es posible pensar en libertades superiores o más profundas: la democracia no se expresa en el asambleismo y la habladera de mierda, que tanto ama la izquierda, y no del todo en el voto, que simplemente limita el poder de los partidos, sino en la capacidad de gobernar a los que nos gobiernan imponiéndoles una dirección y un horizonte.
Y así, los cubanos no están haciendo nada distinto de lo que estaban haciendo los colombianos hace pocos días o los ecuatorianos y chilenos hace algunos meses: si democracia todavía significa algo, es esa capacidad constituyente de sacudir los poderes establecidos, de crear desde el común, un horizonte nuevo para la vida. Olvidemos las ilusiones de que Cuba sea menos capitalista o menos desigual que cualquier otro país del continente: no estaba Fidel tomando ron y pescando marlines con García Márquez -y algún otro jalabola profesional- mientras los cubanos padecían el Periodo Especial?
Dejemos de pensar que la miserable política de los EEUU justifica los Actos de Repudio y los campos de concentración: todos sabemos que un régimen como el que hay en Cuba no se justifica en nada y los cubanos no tienen porque soportarlo: no sabemos que pasara en el futuro, y no hay razones para creer que el castrismo vaya caer de un día para otro, pero lo que ha ocurrido en estos días es irreversible y deberíamos alegrarnos por ello: no hay ninguna libertad que reclamemos para nosotros mismos a la que los cubanos no tengan derecho y no hay justificación alguna para quienes se las han robado.
Em 10 de janeiro eu publiquei o post abaixo. Ele antecipava o impacto que a reorganização da economia cubana teria nas condições políticas e sociais do país em curto prazo: "O que antes aparecia como escassez, agora aparecerá como inflação. Isso terá grande impacto numa sociedade que convive com preços estáveis há décadas. Por um período, impossível de precisar, os preços subirão mais do que os rendimentos da população."
É uma situação realmente complexa.
Duas notícias relevantes sobre Cuba estão passando despercebidas no Brasil. Uma é claramente positiva: o êxito, até aqui, das vacinas desenvolvidas na ilha contra o coronavírus. Cuba está no seleto grupo de países com capacidade científica para desenvolver e produzir, em pouco tempo, uma vacina própria. Como a epidemia está controlada lá, estão em curso convênios com outros países para ampliar a testagem. Se tudo correr bem, disponibilizará sua vacina gratuitamente para os países pobres.
A segunda notícia relevante exigirá mais tempo para ser avaliada. Há cerca de dez dias, Cuba adotou um conjunto de medidas que alteram profundamente o funcionamento da sua economia, incluindo aí um reordenamento monetário, com a unificação da moeda nacional. Desapareceu o peso dolarizado, importante fonte de renda para o Estado, mas fonte também de graves distorções sociais.
É uma reforma necessária, mas uma medida extrema num quadro de colapso do turismo, fonte de divisas para a ilha. Haverá tensões, que podem ser significativas, pois o primeiro impacto das medidas é o realinhamento do sistema de preços. Os preços administrados, que prevaleciam, altamente subsidiados, não carregavam consigo a informação necessária para induzir comportamentos econômicos coerentes com os recursos disponíveis. O que antes aparecia como escassez, agora aparecerá como inflação. Isso terá grande impacto numa sociedade que convive com preços estáveis há décadas. Por um período, impossível de precisar, os preços subirão mais do que os rendimentos da população.
Aqui, um programa da TV cubana, que começa com as reclamações da população em relação à subida de preços. Depois, os entrevistados são o ministro da Economia e um integrante do Parlamento.
Via Francisco Silva
Via Francisco Silva
Deus proteja e abençoe ao Padre Lino Allegri, a nós e a todos.
Amo este poema:
"Faz da tua casa uma festa!
Ouve música, canta, dança...
Faz da tua casa um templo!
Reza, ora, medita, pede, agradece...
Faz da tua casa uma escola!
Lê, escreve, desenha, pinta, estuda, aprende, ensina...
Faz da tua casa uma loja!
Limpa, arruma, organiza, decora, muda de lugar, separa para doar...
Faz da tua casa um restaurante!
Cozinha, prova, cria, cultiva, planta...
Enfim...
Faz da tua casa
Um local criativo de amor."
(Cora Coralina)
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