02 Setembro 2016
Mais uma noite de repressão violenta em São Paulo, Porto Alegre e Salvador. E Temer teria assinado autorização para que as Forças Armadas ocupem a avenida Paulista domingo. A democracia escorrega rapidamente ladeira abaixo
Pare um minuto e reflita.
Hoje, Rodrigo Maia é o presidente do Brasil.
GLASNOST BRASILEIRA
Engana-se redondamente quem encontra a chave de excepcionalidade para a queda de Dilma numa conspiração das elites, num golpe imperialista ou numa tramoia parlamentar como voto de desconfiança. Memória curta, curtíssima. Temos uma tremenda crise econômica causada por erros econômicos do governo. Uma tremenda crise política causada por erros políticos. E uma tremenda crise social, pelo descolamento do governo e sua coalizão em relação às forças sociais. Todas essas dimensões da crise, -- que se interpenetram e cuja intensidade conjugada atingiu níveis insuportáveis, -- já estavam dadas em junho de 2013.
Tudo isso foi indicado e com razoável precisão, enquanto o jet set intelectual petista se limitava a apontar o ovo da serpente. Não bastasse, a operação Lava Jato realizou pela via transversa parte do que queríamos nos protestos de 2013: a abertura da caixa preta dos megaeventos, de Belo Monte, das campanhas bilionárias da casta, dos investimentos via BNDES do Brasil Maior, enfim, os cantos escuros de negociata, conchavo de gabinete, violações, desvios e propaganda enganosa por baixo do Brasil Potência, do Futuro afinal conquistado. Nessas caixas pretas estava o PMDB, o PP, Cunha, Aécio, Renan, mas também o PT, Lula, Odebrecht, e boa parte do mandarinato governista.
Isto não é invenção da mídia golpista. Infelizmente, mesmo porque os demais meios foram bloqueados e reprimidos, a Lava Jato está realizando-se por meios que são indisputáveis, mas seus efeitos, ao contrário, o são. Como fazer isso? Não sei, mas há de ser possível.
É preciso reapropriar-se desses efeitos, tomar a iniciativa e ir em frente. Qualquer governismo residual, retorno ao voto crítico ou autorreferencialidade "vermelha" não passam de peso morto, usado para cobrar-nos moralmente que o arrastemos. Não há nada a defender. Mesmo as reformas de Temer é caso de contestá-las sem defender modelos falidos que já são reconhecidos como falidos, numa defesa de quermesse.
Vivemos a Glasnost brasileira e isto significa abertura de novos campos, outras perspectivas. É uma oportunidade de recomeço, de sair da autossabotagem. Mas sem primeiro ficar leve e largar mão desse entulho narrativo que não cansa em dar voltas sobre seu próprio eixo, nada acontecerá.
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