19 Julho 2021
Depois das manifestações e distúrbios registrados no país no domingo, 11 de julho, Cuba experimenta agora uma “tensa calma”, escreve em carta pastoral o reitor do Seminário Evangélico de Teologia de Matanzas (SET), Carlos E. Ham. Ele pede uma campanha internacional contra uma possível intervenção militar contra o país e agradece as intercessões pelo levantamento do bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos à Ilha.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
Desde a dissolução da União Soviética, Cuba vive “uma aguda crise econômica e de valores”, crise que se agravou ao longo dos anos, de modo especial pela administração de Donald Trump, “que impôs 242 medidas contra nosso povo para tentar nos afogar, mesmo em tempos de pandemia da covid-19”, relata Ham.
Ele lembra que na sessão de 23 de junho da Assembleia Geral das Nações Unidas, 184 nações votaram a favor da Resolução de Cuba contra o bloqueio, com dois votos contrários e três abstenções.
A perda de seres queridos pela pandemia produz um grande impacto emocional no povo cubano. O Estado perde milhões de dólares com a queda do fluxo turístico estrangeiro à ilha. Ainda assim, cientistas cubanos desenvolveram cinco tipos de vacinas conta a covid-19 (Soberana 01/02, Plus, Abdala e Mambisa). Recentemente, o governo aprovou o uso da vacina Abdala, que mostrou uma efetividade de 92% com três aplicações às pessoas.
As medidas econômicas tomadas pelo Estado no início do ano agravou a crise na Ilha, mesmo com o aumento salarial. A população paga até cinco vezes mais pela aquisição de alimentos, serviços de água, eletricidade, gás e telefonia.
As manifestações de protesto e vandalismo no domingo, 11 de julho, causadas “fundamentalmente por insatisfações acumuladas durante anos, agravaram-se nesses últimos meses, porque têm sido incentivadas e promovidas, de forma oportunista, de fora do país, e também de dentro do país, através das redes sociais”. Mesmo que não haja mais distúrbios no país, existe “uma tensa calma”, descreve Ham.
Como igrejas, informa, “estamos intercedendo por nosso povo, consolando, cuidando, produzindo e compartilhando sentido, oferecendo mensagem de fé, de fortaleza e esperança, de diálogo, reconciliação e paz com justiça”. Mas também atuando na diaconia, aportando alimentação aos mais vulneráveis e apoiando pessoas idosas.
A pedido do Ministério da Saúde, instalações do SET estão servindo de centro auxiliar do Hospital Pediátrico da Província, por este ter atingido a capacidade máxima de baixados, no acolhimento de crianças suspeitas de contaminação por covid-19. A equipe da cozinha prepara, a cada dia, café da manhã, almoço, merenda e janta para 140 pessoas a crianças e seus acompanhantes. O Ministério da Saúde facilita a logística, incluindo os alimentos, e o SET aporta com a infraestrutura, cobrindo os seus gastos.
De momento o SET está sem aulas e pretende iniciar o novo ano acadêmico 2021-2022 em 30 de agosto na modalidade a distância, depois de recolher experiências de organismos de instituições parceiras de outros países. Mas o Instituto Superior Ecumênico de Ciências da Religião, ligado ao Seminário, continuou em atividade virtual mesmo durante as “férias”.
“Entendemos que o grande desafio para nós, hoje, é a formação de um pastorado e liderança renovada para as igrejas e a outras expressões religiosas que servem Cuba, para os novos tempos, para este kairós da nossa nação num período de pós-covid, que já não será igual, e para participar de forma proativa na nova sociedade que estamos tratando de construir”, define Ham.
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Reitor de seminário evangélico informa que Cuba vive uma “calma tensa” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU