28 Julho 2021
O rugido do Papa emérito. Bento XVI quebra o silêncio. Do retiro do mosteiro Mater.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada por La Repubblica, 27-07-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Mater Ecclesiae onde reside desde pouco depois de sua renúncia, Joseph Ratzinger, 94 anos, respondeu por escrito à revista alemã Herder Korrespondenz com reflexões e críticas à "sua" Igreja alemã. Para Bento XVI, a Igreja da Alemanha deve falar mais “com o coração e o espírito”, deve “desmondanizar-se”, porque “enquanto nos textos oficiais da Igreja falarem as funções, mas não o coração e o Espírito, o mundo continuará a se afastar da fé”.
Ratzinger nunca o menciona, mas é evidente que no pano de fundo queima, para um "romano" como ele, o caminho sinodal que a Igreja alemã está realizando a duras penas. Os vários pedidos de aberturas, desde as bênçãos para casais homossexuais ao sacerdócio feminino e a abolição do celibato sacerdotal, para muitos em Roma - tudo indica também para Francisco - vão além das atualizações que o Concílio Vaticano II havia proposto. E é com toda probabilidade também por essa sintonia no conteúdo com o Papa reinante que o emérito hoje se permite uma saída que está destinada a causar barulho.
Uma saída que um Papa como Francisco, fiel à linha conciliar de Paulo VI, só pode agradar. Mas não só. No pano de fundo, está também a crise da instituição eclesial alemã como tal. O último dossiê da Conferência Episcopal alemã explica como, entre os vinte e dois milhões de fiéis teutônicos, apenas 6% frequenta regularmente a missa. Enquanto os casamentos diminuíram para menos de um terço. As paróquias obrigadas a fechar por falta de fundos também estão aumentando numericamente. Bento XVI explica que é necessário nada mais do que “um verdadeiro e pessoal testemunho de fé dos operadores da Igreja”. E por isso critica o fato de que “nas instituições eclesiais - hospitais, escolas, Caritas - muitas pessoas estão envolvidas em posições decisivas que não apoiam a missão da Igreja e, portanto, muitas vezes obscurecem o testemunho desta instituição” enquanto “os textos da própria Igreja na Alemanha são escritos em grande parte por pessoas para as quais a fé é apenas oficial”.
O apelo à desmondanização é uma retomada de um discurso proferido em 2011 em Freiburg.
Dois anos antes de renunciar ao papado, Ratzinger exortou a Igreja a "distanciar-se do mundo" naquela que foi interpretada como uma exortação a não se adaptar ao mundo moderno.
"Entweltlichung", precisamente desmondanização, palavra tirada do filósofo Martin Heidegger, não era adequada para o Papa Emérito, pois não expressava "suficientemente" o aspecto positivo de sua argumentação. Para Ratzinger, de fato, a Igreja não deve fugir das coisas do mundo. Sua tarefa não é separar o bem do mal, porque ela mesma "é feito de trigo e joio, de peixes bons e ruins". E ainda: “Não se trata, portanto, de separar o bom do mau, mas de dividir os crentes dos não-crentes”. Na Igreja alemã, parece que Bento XVI quer dizer, há uma parte que não acredita, e que quer aberturas contrárias ao caminho do Concílio.
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Ratzinger fala e sacode a Igreja: “Mais testemunhas ou o êxodo continuará” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU