09 Fevereiro 2021
Georg Bätzing, presidente da Conferência Episcopal Alemã, assegura que o Caminho Sinodal empreendido pela Igreja alemã terá seus resultados no outono europeu.
A reportagem é de José Luis Gómez de Segura, publicada por Religión Digital, 07-02-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O Caminho Sinodal tem um ano de andamento na Alemanha. Pertencem à Assembleia Geral 69 bispos e 69 leigos. Também são membros da assembleia os delegados dos diversos grupos eclesiais, de organizações juvenis, de ordens religiosas, de agentes de pastoral. Assistem também observadores convidados da Igreja evangélica e ortodoxa e outros.
À maioria dos participantes urge que se tomem decisões concretas sobre as reformas da Igreja na Alemanha. Os quatros fóruns têm cada um seu peso específico, como se viu nas sessões online dos dias 04 e 05 de fevereiro.
Uma segunda assembleia plenária do Caminho Sinodal já deveria ter sido celebrada, mas por causa do coronavírus, o órgão máximo de diálogo da reforma católica adiou até o outono europeu. Em seu lugar ocorreram assembleias online, encerradas na última sexta-feira. Os chamados fóruns expuseram seus trabalhos. Os quatro grupos de trabalho marcam a marcha do Caminho Sinodal em temas-chave: “o poder e a divisão das formas de poder na Igreja”, “a forma de vida sacerdotal hoje”, “a moral sexual” e “o papel da mulher na Igreja em todos os níveis”.
O fórum que chegou mais longe foi sobre o tema do poder, com um longo documento base e três textos operacionais. Isso serve de base para as decisões concretas. Trata sobre a pregação por leigos, de uma maior transparência nos assuntos financeiros e de postos de arbitragem para resolver conflitos.
O debate sobre estas questões centrou-se sobretudo em como limitar e controlar o poder em uma instituição hierárquica. Dado que a Igreja Católica não está constituída democraticamente, o termo “sinodal” é de grande importância.
Se fez distinção sobre quais questões poderiam ser resolvidas a nível diocesano, quais a nível nacional e quais somente a nível mundial. Tratou-se ali do direito trabalhista na Igreja, da ordem da pregação e a ocupação de postos de direção – todas as áreas que tem a ver com o poder. No debato sereno e objetivo, houve consenso em relação com o poder ser transparente e que deve haver uma “garantia de recurso legal” para as decisões poderem ser revisadas.
O fórum sobre o papel da mulher na Igreja também se desenvolveu serena e objetivamente, ainda que não tenha sido apresentado nenhum texto conclusivo, assim como nos fóruns sobre moral sexual e o estilo de vida sacerdotal. Em vários grupos de escutas viu-se a necessidade de seguir debatendo, por exemplo, sobre a questão da admissão das mulheres à ordenação a distintos níveis.
O intercâmbio de opiniões ocorreu de forma digital nestas assembleias online do Caminho Sinodal.
Naturalmente se viu que os pontos de vista são diversos. Porém, cada um expressava abertamente sua posição, sem medo de nada ou ninguém. Talvez a crise criada no diocese de Colônia em relação ao modo como o cardeal Woelki está levando todo o relacionado com o abuso de menores na diocese, contribuiu mais para que os participantes falassem com a liberdade de filhos de Deus.
No diálogo sincero coube também a outra parte, a que pensa diferente.
O bispo Rudolf Voderholzer, de Regensburg, representante da minoria conservadora, opinou que esta medida relativa à ordenação de mulheres era incompatível com o ensino da Igreja e a tradição bíblica. Argumentou com texto do Concílio Vaticano II (1962-1965). O documento conciliar “Lumen Gentium” distinguia entre o serviço do sacerdócio e o sacerdócio de todos os crentes. Daí resulta também que o ministério ordenado do sacerdote é essencialmente diferente.
No fórum sobre o sacerdócio é discutível como deve ser a vida e a formação dos padres católicos no futuro. Existem demandas radicais como a abolição dos seminários e do celibato. Existem propostas de reforma moderadas que defendem uma educação mais aberta e outras possíveis exceções ao celibato. Todos concordam que a solidão é um grande problema para o número cada vez menor de padres. Mas já sobre a questão de se e como o celibato e o abuso sexual estão relacionados, as opiniões divergem.
Muito diferentes também são as posições no fórum sobre moralidade sexual. Dois documentos diferentes foram distribuídos previamente. Um deles enfoca o casamento entre um homem e uma mulher e os textos do magistério sobre o assunto. No outro extremo está o texto que analisa “as perspectivas dos casais trans, intersexo e homossexuais”.
Ficou claro para os participantes durante o debate: por um lado, muitos católicos esperam que a Igreja fale mais livremente sobre relacionamentos, contracepção e homossexualidade. Mas, ao mesmo tempo, entre os membros do sínodo prevalecia a opinião de que a Igreja já havia perdido o contato com a vida de muitos, especialmente dos jovens.
A pressão é grande para se chegar a soluções possíveis. O Caminho Sinodal está na encruzilhada de ter que tomar decisões. No outono, a assembleia sinodal quer se reunir, física ou virtualmente.
Enquanto isso, os grupos de trabalho continuarão dialogando e tentarão entregar propostas que estejam prontas para serem votadas. É grande o desejo dos participantes do diálogo de chegar a decisões concretas. Sendo realistas, devemos aceitar que em alguns fóruns eles podem atingir esse objetivo, mas em outros é necessário mais diálogo para chegar a conclusões viáveis.
Alguns participantes disseram que, principalmente os fóruns sobre a questão da mulher na Igreja e sobre a vida do padre hoje, ainda precisava de alguém para moderar encontros e diálogos que levem a resultados valiosos.
Numa entrevista concedida no final desta assembleia, o presidente do Comitê Central dos Católicos (ZDK), Thomas Sternberg, afirmou: “Este caminho não é um passeio no parque” e, notando os frutos dos fóruns, acrescentou: “Nos vemos em harmonia com a Igreja universal e em harmonia com o Papa”.
E o presidente da Conferência Episcopal, dom Georg Bätzing, foi questionado na mesma entrevista: “Quando estarão disponíveis os primeiros votos e resultados?”
Bätzing respondeu: “No outono, na próxima assembleia sinodal formal”.
Da sua experiência do Caminho Sinodal acrescentou: “O que sempre me ajuda: não ter de ir sozinho”.
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Debate aberto na Alemanha: do papel da mulher e dos leigos à abolição dos seminário e celibato - Instituto Humanitas Unisinos - IHU