08 Julho 2021
"O padre Stan Swamy foi eliminado, esta é a palavra certa, graças a uma lei antiterrorismo manipulada para sufocar o dissenso ao governo, uma norma transformada a mero instrumento para amordaçar as críticas, um punho de ferro contra as minorias", escreve Carlo Pizzati, em artigo publicado por La Repubblica, 07-07-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Portador de Parkinson, 84 anos, era conhecido por suas batalhas a favor dos aborígines e dos dalits. Acusado sem evidências reais de ligações com os rebeldes maoístas e de fomentar a violência entre as castas, graças a uma norma "antiterrorismo".
É preciso sofrer de uma severa forma de incurável crueldade para deixar morrer na prisão um padre jesuíta de 84 anos, com mal de Parkinson, que não conseguia mais comer, beber ou se lavar sozinho. É preciso um certo nível de obstinada estupidez para maltratar um doente, o mais idoso investigado por terrorismo na Índia, que foi infectado com Covid-19 na prisão e morreu após oito meses de detenção, sem nenhuma prova real de culpa. O padre Stan Swamy foi eliminado, esta é a palavra certa, graças a uma lei antiterrorismo manipulada para sufocar o dissenso ao governo, uma norma transformada a mero instrumento para amordaçar as críticas, um punho de ferro contra as minorias.
Quando, em outubro de 2020, uma aguerrida força-tarefa antiterrorismo da Agência Nacional de Investigação invadiu a casa comum em Ranchi, capital do estado de Jharkhand, no leste da Índia, onde vivia o paladino dos direitos das populações aborígenes dos Adivasis e da castas mais baixa dos dalits, não achou nada incriminador, mas o prendeu mesmo assim, junto com 15 outros advogados, escritores, poetas e militantes. A acusação é de fomentar a violência entre as castas em 2018, no caso "Bhima Koregaon", e de ter ligações com os rebeldes maoístas naxalitas no planejamento do assassinato do primeiro-ministro Narendra Modi.
Novamente: estamos falando de um padre jesuíta de 84 anos com Parkinson, que por meio século defendeu os últimos contra os interesses e os abusos de grandes mineradoras, auxiliadas por funcionários corruptos. O padre Stan era de fato conhecido por sua militância em fornecer assistência jurídica gratuita aos Adivasis na defesa de seus direitos constitucionais à terra, rios e nascentes. Isso sempre incomodou muito os poderes fortes. E não foi encontrado nada melhor do que inventar um pretexto para tirar o padre do caminho, como foi feito com dezenas de professores universitários, autores e poetas presos, graças à Lei de prevenção de atividades ilícitas com a simples acusação de ter liderado manifestações ou postado mensagens de crítica política nas redes sociais.
Em uma videoconferência que o padre Swamy conseguiu transmitir logo após sua prisão, o jesuíta pediu clemência: "Por causa da minha idade, tenho complicações. Tentei comunicá-lo às autoridades e espero que prevaleça o senso de humanidade”. Não foi assim. Naquele vídeo já se podia ver o tremor das mãos daquele filho de camponeses do Tamil Nadu que se tornou noviço na adolescência. Ele não conseguia mais comer e se lavar sozinho e tinha solicitado à corte se poderia ter um copo com canudinho para se alimentar sozinho. Pedido negado. Somente depois de uma mobilização nas redes sociais, graças à qual centenas de apoiadores compraram copos e canudinhos para ele, enviando-os ao tribunal e postando o recibo: só depois de um mês as autoridades cederam. Uma obstinação inútil, considerando, aliás, que uma equipe estadunidense confirmou que um hacker utilizou um software para instalar 22 arquivos incriminadores no computador de um dos acusados. Justamente nesses arquivos falsos estariam as provas usadas para prender Swamy.
“Não foi uma simples morte”, acusou a escritora Meena Kandasamy, “foi um assassinato judicial e todos são cúmplices”. “Ele não morreu, foi morto”, ecoa a autora Sonia Faleiro. O historiador Ramachandra Guha também fala em "homicídio judicial". E um juiz aposentado da Suprema Corte indiana, Madan Lokur, está com o coração partido: "Há dois anos, observo a total desintegração dos direitos humanos na Índia, uma queda trágica que culminou nesta morte."
Mas o padre Swamy sabia disso. Em sua última mensagem de vídeo declarou-se pronto para o martírio: “Este é um processo que coloca em questão os poderes fortes. Estou pronto para pagar o preço. Qualquer que seja".
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Índia. Stan Swamy, o jesuíta que morreu nas prisões de Modi. “Ele defendia os últimos” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU