26 Outubro 2020
Estão crescendo os pedidos pela libertação do padre Stan Swamy, que foi preso em 8 de outubro sob acusações de terrorismo na Índia.
A reportagem é de Nirmala Carvalho, publicada por Crux, 22-10-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Swamy é um famoso ativista de direitos humanos que há muito tempo se manifesta contra os maus-tratos à comunidade tribal da Índia no estado de Jharkhand. Ele foi preso em Ranchi e ficou sob prisão preventiva por um tribunal especial da Agência Nacional de Investigação (NIA) em Mumbai – do outro lado do país – até uma audiência marcada para 23 de outubro.
Na quarta-feira, o ministro-chefe de Jharkhand, Hemant Soren, disse que a prisão do padre foi um ataque às liberdades civis, ao federalismo e à própria democracia.
“Hoje é o Stan, amanhã pode ser a sua vez. Hoje nosso estado está sendo explorado e pressionado, amanhã pode ser o seu estado. É responsabilidade de todos proteger o país disso”, disse ele.
Swamy foi acusado pelo governo de ter laços com maoístas que estão ligados à instigação de um motim em Pune – localizado no estado ocidental de Maharashtra, onde também se localiza Mumbai – em dezembro de 2017.
Swamy dirige a Bagaicha, uma ONG que trabalha com tribais em Jharkhand, e há uma escola para crianças tribais e um instituto de treinamento técnico em seu complexo residencial em Ranchi, a capital do estado.
O padre de 83 anos documentou diligentemente os abusos e atividades ilegais das autoridades contra a comunidade tribal em Jharkhand.
As comunidades tribais da Índia são os povos indígenas do país, muitas vezes tradicionalmente vivendo em áreas florestais e não totalmente parte do sistema de castas hindu do país. Assim como os Dalits – os ex-“Intocáveis” na hierarquia de castas – a comunidade Tribal sofre discriminação e marginalização no país.
A população tribal representa cerca de um quarto da população em Jharkhand, e os rebeldes marxistas no estado atraem a maioria de seus membros de grupos tribais. Ativistas de direitos humanos são frequentemente acusados pelas autoridades de apoiar os rebeldes quando eles defendem a justiça para a comunidade tribal. Swamy negou sistematicamente qualquer ligação com grupos maoístas.
Em seus comentários, Soren disse que o jesuíta fez tudo o que pôde para ajudar “tribais, dalits e os oprimidos por décadas, e agora está sendo pressionado e maltratado por amplificar as vozes do povo subalterno”.
Sashi Tharoor, um membro do parlamento indiano, também pediu a libertação de Swamy.
“Aqui está um homem que estudou para promover mudanças sociais e passou décadas em Jharkhand trabalhando pelos direitos dos Dalit. Ele merece respeito e encorajamento, mas, em vez disso, o vemos na prisão”, disse Tharoor.
Em 17 de outubro, uma “Caminhada Silenciosa de Protesto” foi realizada na cidade de Calcutá em apoio a Swamy.
“Nós estamos em solidariedade com a causa do padre Stan pela qual ele defendeu, ou seja, os pobres, os tribais, os marginalizados, os direitos humanos e a injustiça infligida a eles – portanto, para restaurar sua dignidade humana, para fortalecê-los”, disse o arcebispo Thomas D'Souza de Calcutá, que participou do protesto.
“Swamy é um campeão dos direitos humanos e da dignidade dos pobres e tribais. Por isso, nos solidarizamos para dizer a ele que ele não está sozinho, estamos com ele”, disse o arcebispo ao Crux.
“Em segundo lugar, queríamos mostrar nosso descontentamento com a forma como o padre Stan foi tratado: a forma desumana como o octogenário padre Stan foi preso. Apesar de seus próprios pedidos de que não poderia viajar, ele foi levado à força. Não houve compaixão, nem tratamento humanitário foi dado a ele, apesar de ser tão idoso. Onde está o respeito aos idosos em nosso país?… Apelamos ao governo e exigimos que o padre Stan seja libertado”, disse D'Souza.
O vice-reitor da Universidade São Xavier, o padre jesuíta J. Felix Raj, foi um dos líderes da manifestação.
Ele disse ao Crux que o protesto de Calcutá inspiraria muitos outros a levantar a voz, acrescentando que Swamy tem um espírito como Madre Teresa, a santa que trabalhou com os “mais pobres dos pobres” na cidade até sua morte em 1997.
“Tanto a Madre Teresa como o padre Stan Swamy eram religiosos seguindo fielmente a espiritualidade inaciana de encontrar Deus em todas as coisas e todas as coisas em Deus”, disse ele.
“Eles haviam dedicado suas vidas a Deus e às pessoas. A opção preferencial da Madre era trabalhar com doentes e necessitados, enquanto a do padre Stan era trabalhar para os dalits e tribais oprimidos. Ambos eram destemidos, ousados ao darem passos em seus trabalhos. Eles encontraram sua força em Deus”, Raj continuou.
O padre disse que como “um profeta não é aceito em sua própria cidade ou país, ambos foram responsabilizados, acusados”.
“A Madre foi mal compreendida e acusada de conversão. O padre Stan foi acusado de dar as mãos aos maoístas e terroristas. O inimigo vem de dentro. Nossos próprios compatriotas, líderes que têm seus próprios interesses, silenciaram esses profetas”, afirmou.
Raj observou que ambos vieram de longe para ajudar outras pessoas - Madre Teresa era originária da Albânia e Swamy nasceu no estado de Tamil Nadu, no sul da Índia.
“Eles faziam por pessoas de outras terras, culturas e línguas diferentes das suas”, disse ele.
“O trabalho do padre Stan para os dalits e tribais era fundamentado, ele fez uma extensa pesquisa sobre várias questões, tinha documentos de apoio e evidências suficientes. É por isso que ele pode questionar ousadamente o governo e as autoridades e lutar pelo povo”, explicou Raj.
“É essencialmente uma luta entre pobres e ricos por justiça. Ele tomou partido dos oprimidos e lutou por eles. Sua prisão e seus sofrimentos são consequência de sua posição pela verdade e pela justiça. Isso acontece com todos os que estão do lado da verdade”, acrescentou.
“Mas a verdade finalmente vencerá”.
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Crescem os apelos pela libertação de padre jesuíta preso na Índia sob acusações de terrorismo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU