27 Abril 2021
“Padre Stan Swamy, você está na prisão há duzentos dias; mas mesmo na prisão, você chega até os prisioneiros menos afortunados de todas as maneiras possíveis! Você se preocupa com eles. Você não permitiu que o sistema brutal e desumano os destruísse! Em vez disso, você nos fala com tanta positividade e esperança, que até um pássaro enjaulado canta. Você não é um espectador silencioso e nunca o será!”, a carta é de Cedric Prakash, padre jesuíta, ativista de direitos humanos, publicada por Matters India, 25-04-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Querido Stan,
É mais incomum do que normal desejar a alguém que está na prisão “Um feliz aniversário!”. Um aniversário não pode ser “feliz” na prisão. Porém, no desejo de celebrarmos sua vida, sua missão e sua mensagem e, sobretudo, com aqueles que você está tão proximamente identificado, então, “Saudações de aniversário, padre Stan!”.
Padre Stan Swamy. Foto: Matters India
Nossa oração hoje é uma ação de graças ao Deus Todo Poderoso pelo Dom da sua vida: para muitas pessoas em qualquer lugar, particularmente os pobres e os excluídos, as adivasis e dalits; para o país, a Igreja e a Companhia de Jesus.
Nós continuamos a nos maravilharmos com seu inflexível compromisso com a causa da justiça. Por anos você nos mostrou tudo que significa ser uma pessoa para os outros, enraizados em mandatos não negociáveis de fé e justiça. Sua vida como um jesuíta e padre foi grandiosamente moldada pelo Vaticano II e a 32ª Congregação Geral Jesuíta, a qual constata: “a missão da Companhia de Jesus hoje é o serviço da fé, da qual a promoção da justiça é um requerimento absoluto; para reconciliação com as demandas de Deus, a reconciliação das pessoas umas com as outras”. Você internalizou essa espiritualidade e irradia isso!
Hoje, não podemos deixar de pensar em seu estilo de vida incrivelmente simples. Sua frugalidade é conhecida por todos. Você viveu seu voto de pobreza ao máximo; suas necessidades materiais são poucas; seus bens reais são ainda menores. A mídia teve um dia de campo, quando algum tempo atrás as “autoridades” vieram para confiscar seus pertences - eles não encontraram nada!
Você nos ensinou o verdadeiro significado de “solidariedade” o que significa fazer o que falamos com sinceridade; que para capacitar significativamente os explorados e excluídos, é preciso ser solidário com eles em suas lutas; acompanhá-los de forma visível e vocal, com coragem profética, nas dificuldades e hostilidades, por uma sociedade mais justa e humana.
Celebramos hoje o seu incrível trabalho! Você é um conhecido ativista pelos direitos dos adivasis, que trabalha em várias questões dos adivasis: terra, floresta e direitos trabalhistas; questionar a não implementação do Quinto Programa da Constituição, que prevê a instalação de um Conselho Consultivo de Tribos com membros exclusivamente da comunidade Adivasi, para sua proteção, bem-estar e desenvolvimento; o seu trabalho também envolveu a oposição à criação de ‘bancos de terras’, que você acreditava que iriam liberar terras pertencentes à comunidade em favor do setor empresarial. Além disso, você ajudou a formar um grupo chamado ‘Comitê de Solidariedade aos Presos Perseguidos’ que procurou fazer um estudo sobre a natureza dos presos em julgamento (3 mil adivasis ilegalmente colocados na prisão) e recorrer a ações judiciais, para que a justiça possa ser feita. Seu trabalho envolveu expressar discordância com várias políticas e leis oficiais, que você estava convencido de que violavam a Constituição. Os adivasis e outros excluídos, aos quais foram negados seus direitos legítimos, veem em você uma pessoa que não deixou pedra sobre pedra para defender sua causa.
Você é uma pessoa extraordinária; de uma maneira altruísta, você deu e não calculou o custo! Quando era um jovem padre, você morava em uma aldeia adivasi do interior, compartilhando um pequeno quarto com uma das famílias locais. Durante esse tempo, você dominou a língua Ho, estudou sua cultura e costumes, comeu sua comida e até cantou e dançou com eles. A inserção no modo de vida tribal sempre foi fundamental para você e, de certa forma, também “seu forte”! Você acredita na juventude: você confiou neles, deu-lhes um senso de identidade e os ajudou a analisar criticamente o que está acontecendo com sua sociedade tribal. Com a generosidade e ajuda dos habitantes locais, você também construiu sua própria residência, que se tornou uma “casa aberta” para todos!
Hoje ouvimos mais uma vez aquelas palavras profundas que saíram do seu coração, um pouco antes da sua prisão em 8 de outubro de 2020: “O que está acontecendo comigo não é algo único – não está acontecendo apenas para mim. É um processo mais amplo que está ocorrendo em todo o país. Todos nós sabemos como intelectuais proeminentes, advogados, escritores, poetas, ativistas, estudantes, líderes, todos eles são colocados na prisão porque expressaram sua discordância ou levantaram questões sobre os poderes governantes da Índia. Nós fazemos parte do processo. De certa forma fico feliz por fazer parte desse processo. Não sou um espectador silencioso, mas sim parte do jogo, e estou disposto a pagar o preço, seja qual for”. Sim, você não foi e nunca será um espectador silencioso!
Em 15 de janeiro de 2021, no centésimo dia do seu encarceramento, em uma mensagem, o Superior Geral Jesuíta, padre Arturo Sosa, nos lembrava que “o padre Stan dedicou toda a sua vida aos mais pobres do mundo, os indígenas adivasi e os dalits. Ele é a voz dos que não têm voz. Ele se apresentou aos poderosos e lhes disse a verdade, ele está comprometido com a defesa dos direitos humanos das minorias”. Um resumo preciso de sua missão!
De uma forma muito profunda, você sintetizou a ‘Alegria do Evangelho’. O Papa Francisco, na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, sobre a santidade, diz: “move-nos o exemplo de tantos sacerdotes, religiosas, religiosos e leigos que se dedicam a anunciar e servir com grande fidelidade, muitas vezes arriscando a vida e, sem dúvida, à custa da sua comodidade. O seu testemunho lembra-nos que a Igreja não precisa de muitos burocratas e funcionários, mas de missionários apaixonados, devorados pelo entusiasmo de comunicar a verdadeira vida. Os santos surpreendem, desinstalam, porque a sua vida nos chama a sair da mediocridade tranquila e anestesiadora”. Estas palavras são, sem dúvida, todas sobre você!
Você está na prisão há duzentos dias; mas mesmo na prisão, você chega até os prisioneiros menos afortunados de todas as maneiras possíveis! Você se preocupa com eles. Você não permitiu que o sistema brutal e desumano os destruísse! Em vez disso, você nos fala com tanta positividade e esperança, que até um pássaro enjaulado canta. Você não é um espectador silencioso e nunca o será! É por isso que no dia 26 de abril, seu 84º aniversário, o celebramos e agradecemos sinceramente por tudo o que você significa para nós!
Preenchidos de amor nós dizemos: Feliz aniversário, querido Stan!
Seu irmão,
Cedric Pakrash
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Índia. “Saudações de aniversário, querido Padre Stan” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU