07 Fevereiro 2020
A fome. “Isto, sim, é um vírus mundialmente perigoso! E despachamos um problema tão sério dizendo que o Papa Francisco é ‘comunista’? Como é possível que nós, que nos consideramos, não digo ‘cristãos’, mas ‘seres humanos’, saibamos disso e sigamos vivendo tão tranquilos? Nós nos desumanizamos ou estamos loucos?”, escreve José María Castillo, teólogo espanhol, em artigo publicado por Religión Digital, 05-02-2020. A tradução é do Cepat.
Os mortos pelo “coronavírus”, até o momento desse meu texto, foram 490. É claro, não é possível saber o número de vítimas que ainda poderá causar. Seja qual for o risco que terá no futuro, é um fato que já foram gastos milhares de dólares para controlar essa terrível ameaça global. E pelas informações que nos chegam, é necessário gastar o que for preciso. E é preciso continuar gastando para proteger a população mundial. Isto é evidente. E ninguém duvida disso. Sendo assim, todos concordamos em que aqueles que estão com o vírus sejam curados. E que seja pesquisado o que for necessário para controlar as consequências dessa ameaça mundial. Nisso, todos concordamos.
E, no entanto, neste momento, no mundo está ocorrendo algo muito mais grave, que, para nós que vivemos em países desenvolvidos, não importa e nem preocupa, da mesma forma como acontece com o “coronavírus”. Pela simples razão de que nós, que dirigimos ou nos beneficiamos da riqueza no mundo poderoso e rico, sabemos de sobra que de fome não iremos morrer. Isso é um fato, independente da explicação que cada um tenha para justificar ou suportar o que está acontecendo nessa ordem de coisas.
Em que consiste esse vírus tão perigoso, que nós, a grande maioria dos habitantes dos países desenvolvidos, desconsideramos (ou corremos o risco de desconsiderar)? É um fato que se sabe e ninguém duvida. Todos os dias, 8.500 crianças morrem de fome. É o que os organismos internacionais, que dependem da Organização das Nações Unidas, afirmam e nos garantem que é verdade.
Em todo caso, e independente das justificativas que podem ser feitas a respeito das coisas que acabo de dizer, o fato é que o “mundo rico” se distancia cada dia mais do “mundo pobre”. Isso não apenas é indiscutível, como também, sobretudo, é inevitável, caso queiramos que a economia mundial continue funcionando como convém aos habitantes dos países ricos e poderosos.
É assim que as coisas estão. E assim está o mundo em que vivemos. O Papa Francisco acaba de fazer essa constatação (em 05/02/2020), insistindo na responsabilidade que nós temos, como países que, por mais que nos queixamos, são os que administram o capitalismo mundial. O Papa foi muito claro e duro na denúncia que fez em relação aos que acumulam cada vez mais capital, todos os dias. Com a nossa aprovação ou o nosso silêncio cúmplice.
Isto, sim, é um vírus mundialmente perigoso! E despachamos um problema tão sério dizendo que o Papa Francisco é “comunista”? Como é possível que nós, que nos consideramos, não digo “cristãos”, mas “seres humanos”, saibamos disso e sigamos vivendo tão tranquilos? Nós nos desumanizamos ou estamos loucos?
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“O silêncio cúmplice diante da fome... Isto, sim, é um vírus mundialmente perigoso!”. Artigo de José María Castillo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU