10 Abril 2019
O cardeal Edwin O’Brien comemorou seu 80º aniversário na segunda-feira, 8, ainda firme e forte como Grão-Mestre da Ordem Equestre do Santo Sepulcro, após seus mandatos como arcebispo militar nos Estados Unidos e, mais tarde, como arcebispo de Baltimore.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada em Crux, 09-04-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em virtude de completar 80 anos de idade, O’Brien automaticamente perdeu seu direito de participar do próximo conclave papal. Neste momento, isso deixa os Estados Unidos com nove cardeais eleitores:
Deixando de lado o imprevisto, o próximo a sair seria Wuerl, em novembro de 2020.
Em cada um dos últimos dois conclaves, havia 11 cardeais estadunidenses que puderam votar, o segundo maior grupo nacional depois dos italianos (em 2005, os italianos tinham 20 e, em 2013, robustos 28). Se houvesse um conclave amanhã, a participação estadunidense, portanto, cairia dois lugares, cerca de 18%, em comparação com as últimas duas vezes.
Na verdade, existem várias razões pelas quais o Papa Francisco pode não ver isso como um problema.
Uma é a simples equidade. No conclave de 2005 (quando, lembremos, o cardeal Jorge Mario Bergoglio, de Buenos Aires, foi, com efeito, o segundo colocado depois do Papa Bento), os estadunidenses colocaram na urna o mesmo número de votos de toda a África, apesar do fato de a África ter mais do que o dobro da população católica. O Brasil, o maior país católico do mundo, tinha apenas três votos, o que resultou em um cardeal-eleitor em 2005 para cada 6 milhões de católicos estadunidenses e para cada 43 milhões de católicos no Brasil.
Embora o catolicismo não seja uma democracia, esse tipo de discrepância, compreensivelmente, surpreende muitos católicos do mundo como injusta.
Além disso, um lento declínio na importância total dos cardeais estadunidenses também é coerente com a política de Francisco de preferir conceder barretes vermelhos para as periferias em vez do centro. Por exemplo, se houvesse um conclave amanhã, as nações insulares do mundo teriam um recorde de seis votos: Cabo Verde, Tonga, Maurício, Papua Nova Guiné, Madagascar e Sri Lanka (os eleitores desses lugares poderiam convidar o cardeal John Dew, da Nova Zelândia, para se unir a eles e, pela primeira vez, as ilhas poderiam ter o seu próprio bloco).
Francisco prefere evitar a impressão de que certas arquidioceses importantes em todo o mundo, que tendem a se localizar no Ocidente, simplesmente “têm direito” a um cardeal e ele também está razoavelmente ligado à lei informal de não criar um novo cardeal em uma diocese enquanto o cardeal anterior tem menos de 80 anos e, portanto, é elegível para votar no próximo papa (isso, por exemplo, é pelo menos parte da razão pela qual Milão e Veneza, na Itália, continuam sem cardeais).
Mesmo assim, há rumores de que Francisco estaria planejando um consistório, o evento em que novos cardeais são criados, em torno do tradicional dia 29 de junho, festa dos Santos Pedro e Paulo. É possível que ele olhe para o número cada vez menor de eleitores dos Estados Unidos e conclua que ele tem espaço para pelo menos um novo Príncipe da Igreja nos Estados Unidos.
Se assim for, em muitos aspectos, a escolha óbvia seria o arcebispo Wilton Gregory, que Francisco acabou de nomear para Washington.
Muitos não apenas veriam isso como um reconhecimento tardio da liderança de Gregory na Conferência dos Bispos dos Estados Unidos durante a primeira rodada de escândalos de abuso em 2002-2003, culminando na Carta de Dallas, mas isso também viria em um momento em que os católicos na capital da nação estão se recuperando da série de controvérsias que levaram Wuerl a se afastar.
Acrescente-se a importância simbólica de um cardeal afro-americano, sem mencionar que Gregory é visto amplamente como uma “figura do meio”, talvez inclinada ligeiramente para a esquerda, de acordo com o espírito do papado de Francisco, e ele pode parecer realmente irresistível.
No entanto, dar o barrete vermelho para Gregory agora também colidiria com o tabu informal sobre a criação de cardeais enquanto seus antecessores ainda têm menos de 80 anos.
Outro candidato óbvio a quem esse impedimento particular não se aplica mais é o arcebispo Jose Gomez, de Los Angeles, dado que seu antecessor em Los Angeles, o cardeal Roger Mahony, tem 83 anos agora. Francisco, no entanto, já realizou três consistórios desde que Mahony completou 80 anos sem indicar Gomez, levando os observadores a se perguntarem se há algum outro obstáculo.
Apesar do fato de que aqueles que conhecem bem Gomez digam que ele é essencialmente não ideológico, alguns se perguntam se, talvez, o seu histórico com o Opus Dei e a orientação recebida do arcebispo Charles Chaput em Denver não lhe dão um perfil um pouco mais à direita do tipo de cardeal que Francisco quer. Outros suspeitam que a explicação é mais simples, que Francisco simplesmente não quer alimentar uma sensação de “direito de posse” ao criar cardeais onde a tradição dita.
De qualquer forma, colocar Gomez na lista desta vez pode ser atraente para Francisco em pelo menos alguns sentidos.
Primeiro, isso mostraria apoio ao líder de fato dos bispos dos Estados Unidos, enquanto o cardeal Daniel Di Nardo continua se recuperando de um leve derrame, em um momento em que a Conferência dos Bispos dos Estados Unidos enfrenta sérios desafios relacionados aos escândalos de abuso clerical (e, aliás, sentindo-se um pouco incompreendida por Roma, depois de Francisco disse não a um pedido estadunidense para uma visitação apostólica sobre o caso McCarrick no ano passado). Segundo, seria um aceno para a florescente ala hispânica da Igreja dos Estados Unidos, assim como uma maneira de colocar um ponto de exclamação na apaixonada defesa de Gomez em relação aos direitos dos imigrantes.
No entanto, Francisco é sempre um papa das surpresas. Se ele decidir pensar fora da caixa, criando um cardeal estadunidense, ignorando as sedes habituais, para onde ele poderia olhar?
Uma resposta convincente seria a fronteira EUA/México e tudo o que ela passou a simbolizar sobre migração, tráfico humano, justiça econômica global e muitas outras preocupações próximas ao coração do papa. Sob essa luz, provavelmente não surpreenderia ninguém saber que, digamos, Dom Daniel Flores, bispo de Brownsville, ou Dom Mark Seitz, bispo de El Paso, foram os escolhidos. Alguns até apontam para Dom Robert McElroy, bispo de San Diego, que tem um perfil mais forte como progressista do ponto de vista político e teológico.
E, se ele realmente quiser abraçar as periferias, que tal um barrete vermelho para Dom Paul Etienne, arcebispo de Anchorage, Alasca, que tem oito paróquias em sua área urbana e outras 13 paróquias e missões fora dela, muitas acessíveis apenas por avião ou barco?
Como sempre, o tempo dirá. Nós deveremos saber mais a respeito em maio, enquanto nos aproximamos da suposta data do consistório.
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Ponderações e probabilidades em torno do próximo cardeal dos Estados Unidos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU