22 Fevereiro 2018
A julgar pelo desempenho anterior, parece que o Papa Francisco gosta de criar novos cardeais. Até agora, organizou um consistório, o evento em que isso acontece, a cada ano completo do papado, ou seja, pode haver outro antes do final de 2018 também.
A reportagem é de John L. Allen Jr. e Inés San Martín, publicada por Crux, 21-02-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Na terça-feira, o cardeal Paolo Romeo, antigo Arcebispo de Palermo, na Sicília, fez 80 anos, ou seja, não é mais "eleitor", não pode votar na próxima eleição para o papado. Ele é um dos seis cardeais que vão atingir a idade limite entre agora e junho. Os outros são:
Essas datas de aniversário significam que Francisco deve organizar um consistório em algum momento durante o verão, e, se optar por manter o limite de 120 cardeais eleitores estabelecido pelo Beato Papa Paulo VI, pode nomear seis novos Príncipes da Igreja.
Se já vai haver um consistório em 2018, não haveria nenhum motivo no calendário para esperar, já que nenhum cardeal vai atingir o limite de idade até o aniversário do cardeal mexicano Alberto Suárez Inda, em janeiro. Em teoria, isso permitiria a Francisco preparar um pequeno consistório para meados de 29 de junho, uma das datas tradicionais do evento, que é a festa dos Santos Pedro e Paulo.
O Papa pode, no entanto, optar por esperar até o final do ano, talvez para aproveitar o Sínodo dos Bispos sobre a Juventude e o Discernimento em outubro, quando pelo menos alguns cardeais já estarão em Roma e ele poderia poupá-los de uma viagem extra.
Em vez disso, Francisco deve optar por pular 2018 e aguardar até outubro de 2019. Nessa época, ele pode organizar um consistório bastante robusto de quinze chapéus vermelhos, já que até lá outros nove cardeais já vão ter atingido a idade limite:
Cardeal Orlando Beltran Quevedo, Filipinas
Cardeal Edwin O'Brien, Estados Unidos
Cardeal Stanislaw DZiwisz, Polôniania
Cardeal John Tong Hon, China
Cardeal Sean Baptist Brady, Irlanda
Cardeal Laurent Monsengwo Pasiyna, República Democrática do Congo
Cardeal Zenon Grocholewski, Polônia
Cardeal Edoardo Manichelli, Itália
Cardeal Telephore Placidus Toppo, Índia
Independentemente de quando aconteça, distribuir chapéus vermelhos sempre altera o equilíbrio de poder no Colégio dos Cardeais. No momento, 49 cardeais eleitores (41%) foram nomeados pelo Papa Francisco, 52 (43%), pelo Papa Bento XVI e 19 (16%), pelo Papa João Paulo II.
Certamente, ainda que lentamente, Francisco está se aproximando de ter a maioria das escolhas no Colégio dos Cardeais.
Em relação a quem pode ser o próximo chapéu vermelho, é um cálculo muito mais difícil no papado de Francisco do que antes, em que se podia simplesmente fazer uma lista dos principais cargos do Vaticano e as maiores arquidioceses do mundo em que não havia cardeais e projetar tais pessoas como as favoritas.
Com Francisco, não é tão fácil, porque ele gosta de uma surpresa - ignorando centros estabelecidos de poder eclesiástico e chegando às "margens”. Até agora, já nomeou cardeais de 15 países que nunca haviam tido cardeais antes, como Mianmar, República Centro-Africana, Bangladesh e Tonga.
No entanto, antecipando o próximo consistório, existem algumas figuras na paisagem católica que parecem ter uma probabilidade um pouco melhor.
Por exemplo, em 2017, o Arcebispo da Espanha, Dom Luis Ladaria, foi nomeado prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, um departamento do Vaticano tradicionalmente tão importante que era conhecido como La Suprema, ou seja, o "Supremo". Embora Francisco não dependa tanto da congregação como alguns dos seus antecessores para ideias doutrinárias, mesmo em seu estilo mais descontraído e informal parece um tanto contraditório se o líder da Congregação ficar para trás na hora de receber o chapéu vermelho. (Como bônus, Ladaria ainda é jesuíta, ou seja, membro da ordem religiosa do Papa.)
Outra boa aposta parece ser o arcebispo de Paris, Michel Aupetit, nomeado por Francisco no final de 2017. Embora Francisco claramente não goste da ideia de que certos cargos na Igreja deem direito a um chapéu vermelho, Paris é uma das dioceses centrais ao redor do mundo que geralmente obtêm um deles, e a liderança do ocupante desse cargo propaga-se a toda a Igreja de língua francesa.
Em relação ao tema das periferias, Francisco pode muito bem escolher o arcebispo maior Sviatoslav Shevchuk, da Igreja Greco-Católica da Ucrânia. A nomeação faria certo sentido, já que o cardeal Lubomyr Husar, que tinha o mesmo cargo, morreu em 2017. Além disso, a escolha por Shevchuck não seria apenas um aceno para as igrejas orientais, mas também para um país que ainda está sofrendo os efeitos de uma amarga guerra na região oriental, na fronteira com a Rússia.
Nos Estados Unidos, talvez o próximo na fila de espera para ser cardeal seja o arcebispo de Los Angeles, Jose Gomez, outra megadiocese, que também seria o primeiro cardeal hispânico na história da Igreja estadunidense.
No entanto, Francisco já nomeou dois cardeais estadunidenses (Blase Cupich em Chicago e Joseph Tobin em Newark, Nova Jersey), e, considerando o sentimento generalizado de que os Estados Unidos estão sobrerrepresentados no Colégio dos Cardeais, não há garantias de que Gomez seria escolhido. No momento, há um total de 16 cardeais estadunidenses, dos quais 10 ainda não têm 80 anos de idade e, portanto, ainda são elegíveis para votar no próximo papa.
A verdade sobre o assunto é que com Francisco nunca se sabe quem vai se dar bem, que é o que faz de seus consistórios um exercício tão fascinante.
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Conforme cardeais envelhecem, surgem previsões sobre o próximo consistório do Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU