Cristãos na encruzilhada do Natal pagão. Comentário de Ana Casarotti

Foto: canva

05 Dezembro 2025

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 3,1-12 que corresponde ao 2° Domingo do Advento, ciclo A do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.

Naqueles dias, apareceu João Batista, pregando no deserto da Judeia: "Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo". João foi anunciado pelo profeta Isaías, que disse: "Esta é a voz daquele que grita no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas!" João usava uma roupa feita de pelos de camelo e um cinturão de couro em torno dos rins; comia gafanhotos e mel do campo. Os moradores de Jerusalém, de toda a Judeia e de todos os lugares em volta do rio Jordão vinham ao encontro de João. Confessavam os seus pecados e João os batizava no rio Jordão. Quando viu muitos fariseus e saduceus vindo para o batismo, João disse-lhes: "Raça de cobras venenosas, quem vos ensinou a fugir da ira que vai chegar? Produzi frutos que provem a vossa conversão. Não penseis que basta dizer: 'Abraão é nosso pai', porque eu vos digo: até mesmo destas pedras Deus pode fazer nascer filhos de Abraão. O machado já está na raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e jogada no fogo. Eu vos batizo com água para a conversão, mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. Eu nem sou digno de carregar suas sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. Ele está com a pá na mão; ele vai limpar sua eira e recolher seu trigo no celeiro; mas a palha ele a queimará num fogo que não se apaga".

Estamos vivendo o tempo do Advento, caminho de espera e esperança, que nos introduz no mistério de Deus feito homem, solidário com nossa fragilidade. O Natal é tão imenso que corre o risco de se perder em celebrações superficiais, onde o “Feliz Natal” soa vazio ou disperso e com sentimentos contraditórios.

Estas semanas nos chamam a uma preparação autêntica, pessoal e comunitária, para acolher o Deus que se aproxima de nossa vida cotidiana, mas que muitas vezes não vemos, distraídos por espiritualidades intimistas ou restritas a determinados grupos.

Não podemos esquecer que "O Advento é um tempo de esperança. Um tempo para nos prepararmos para a vinda de Jesus, que celebraremos no Natal. Mas 'esperança' não é uma atitude passiva, de inação e piedade; é um tempo ativo, dinâmico e combativo. Não se trata de virar as costas à história e fechar os olhos à realidade". Advento de 2025: Haverá uma casa para o Jesus que virá?

"Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo".

Na segunda semana do Advento, somos chamados à conversão: deixar que Deus transforme nossa vida.

Converter-se é mudar, é abrir-se a uma realidade nova. Perguntamo-nos: o que precisa ser transformado em nós — atitudes, olhares, relações com os outros, conosco mesmos, com Deus? O Advento não é apenas um tempo marcado no calendário; é um tempo de graça. Mesmo que, no sul, coincida com dezembro, encerramento de atividades e desejo de descanso, ele nos convida a despertar para a novidade de Deus que vem. Este tempo é um chamado a não reduzir o Natal a uma pausa social, e sim a acolher a Deus que se aproxima de nossa história.

O término das atividades nos provoca a avaliar o que não ajudou a construir relações e projetos, o que nos manteve indiferentes às realidades próximas. Ao mesmo tempo, é oportunidade de reconhecer o que favoreceu crescimento e novas possibilidades. O Advento nos desafia a mudar nossa perspectiva, tornando-nos mais abertos ao Reino de Deus que já se anuncia. Essa conversão exige coragem: coragem de questionar nossa vida, nossas atitudes e de enfrentar os desafios que surgem. E tempo de transformação: de ampliar o olhar, de abrir o coração a presença do Reino que já está no meio de nos. Converter-se é ousar fazer perguntas que nos desinstalam e nos lançam em novos caminhos.

"Esta é a voz daquele que grita no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas!"

Na segunda etapa do Advento, encontramos João Batista, que proclama com força as palavras do profeta Isaías: “Preparai o caminho do Senhor”. Sua voz ressoa no deserto, lugar de silêncio e encontro com Deus. Hoje, em meio ao ruído das cidades e às distrações constantes, somos convidados a buscar nosso próprio deserto — espaço de recolhimento e escuta — para acolher o chamado à conversão. Nosso deserto não é geográfico, mas interior: um espaço de silêncio, de desapego, onde possamos ouvir o grito que nos abre ao Reino.

O Advento nos chama a preparar o caminho e endireitar as veredas. Preparar é dispor o coração com propósito, é condicionar o terreno da vida para acolher o Reino que já vem. Essa preparação exige perguntas sinceras: como nos dispomos a receber o Senhor? Onde investimos nosso tempo, nossas capacidades, nossa criatividade? Muitas vezes, o esforço vai para um Natal consumista, cheio de atividades e gastos, mas distante da acolhida de Cristo. Converter-se é redirecionar nossos investimentos para aquilo que gera vida, comunidade e esperança: a presença de Jesus que já se aproxima. Somos convidados a desacelerar e investir naquilo que realmente importa: acolher Jesus, presença amorosa que dá sentido à nossa existência.

Em um terceiro momento, somos chamados a preparar o caminho e endireitar as veredas. Preparar é prevenir, “dispor ou fazer algo com algum propósito” e, neste tempo do Advento, pensamos em como condicionar o terreno de nossa vida para acolher o Reino de Deus que já vem. Mais uma vez, voltamos a nos fazer perguntas que nos ajudam a nos converter, a ouvir a voz que clama e, assim, a “preparar o caminho”. Como nos preparamos para receber o Senhor? Toda preparação traz consigo um investimento, um “gasto” para alcançar o fim que desejamos. Em que vamos investir nosso tempo, nossas capacidades, nossa criatividade, nossos recursos? Fazer essa pergunta nos ajuda a parar e desacelerar o ritmo acelerado deste período, em que já investimos nosso tempo na “preparação” de um Natal repleto de atividades, gastos e investimentos, mas que pouco têm a ver com a acolhida de Jesus, que vem à nossa vida e ao nosso mundo com sua presença amorosa e cheia de vida.

Todo nascimento é precedido por um tempo de espera e preparação: desde a gestação até o momento do parto, quando tudo se organiza para acolher a nova vida. É um tempo de sonhos, de esperança, de alegria e também de incertezas. Assim também é o Advento: um convite a preparar o coração para que o nascimento de Jesus seja um verdadeiro Natal, capaz de trazer consolo e vida onde há tristeza e desesperança. Um Natal que seja esperança, vida e alegria para tantas realidades que o precisam em nosso tempo. Como recorda o Papa Francisco, não deixemos que nos roubem a alegria de ser discípulos e a esperança de viver junto com Ele.

“O Advento é o tempo de preparação para receber a graça do Natal, e a única maneira pela qual nós, cristãos, podemos nos preparar verdadeiramente é nos apegando à cruz e implorando misericórdia pelos nossos pecados. Podemos enfeitar as casas com ramos de azevinho, mas devemos enfeitar nossas almas com contrição. 

Fazemos nossa a oração do Papa Francisco para este tempo de Advento

“Vem, Senhor Jesus, precisamos de ti. Venha até nós. Tu és a luz: desperta-nos do sonho da mediocridade, desperta-nos da escuridão da indiferença. Vinde, Senhor Jesus, tornai vigilantes os nossos corações, agora distraídos: fazei-nos sentir o desejo de rezar e a necessidade de amar”.

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