02 Dezembro 2025
Riccardo Cristiano tem acompanhado e visitado o Líbano e o Oriente Médio há décadas, primeiro como correspondente da RAI e depois como escritor e estimado vaticanista. Seus livros, publicados pela Castelvecchi, incluem Siria: l’ultimo genocidio. Così hanno vinto i nemici del dialogo; Dall’Oglio: Il sequestro non deve finire; Siria: la fine dei diritti umani; Figlio dello stesso mare: Francesco e la nuova alleanza per il Mediterraneo; Bergoglio o barbarie: Francesco davanti a disordine mondiale; Medio Oriente senza cristiani: dalla fine dell’impero Ottomano ai nuovi fondamentalismi; e, mais recentemente, Beirut: il mosaico arabo.
A entrevista é de Umberto De Giovannangeli, publicada por l’Unità, 28-11-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
O Papa Leão chega neste domingo numa Beirute sacudida pelos temores de uma segunda fase da guerra entre Israel e a milícia khomeinista do Hezbollah. Que tipo de país ele encontra?
A temida reação do Hezbollah à eliminação de seu "chefe de estado-maior" não aconteceu porque, nas condições atuais, seria um suicídio. É preciso dizer, como as coisas estão: o Hezbollah perdeu a guerra. Mas o passado pesa muito sobre o presente, e o Papa encontrará um país profundamente conturbado, onde muitos perderam a confiança, mas estão se adaptando. O primeiro ponto é que o Hezbollah é, antes de tudo, um problema para o Líbano. Vamos rever brevemente sua história: nascido da ocupação israelense do sul do Líbano na década de 1980, o Hezbollah, milícia khomeinista cujas decisões políticas são tomadas pela liderança da revolução iraniana, após a retirada de Israel do sul do Líbano em 2000, permaneceu em armas, sendo a única milícia armada no país. As outras se dissolveram em 1990, ao final da guerra civil de 15 anos. Com aquelas armas, em 2005, assassinou o primeiro-ministro sunita mais amado, Rafiq Hariri, e, depois dele, os intelectuais cristãos mais proeminentes. Em 2008, o grupo ocupou os bairros sunitas e devastou a emissora de televisão do partido de Hariri. Em 2019, o governo liderado pelo Hezbollah decidiu desafiar o Fundo Monetário Internacional e, como previsto, no início de 2020, a moeda libanesa despencou: de uma taxa de câmbio de 1.500 libras libanesas por dólar, caiu rapidamente para 110-120.000 libras libanesas, estabilizando-se agora em torno de 90.000. O presidente do Parlamento não colocou em votação a proposta do governo sobre o controle de capitais, sob pressão do Banco Central, que era governado pelo mesmo homem há 30 anos e, assim, os bancos e grandes famílias exportaram enormes quantias de capital para o exterior: 14 bilhões de dólares, em um país com um PIB de 50 (que agora caiu). Aqui emerge a enorme responsabilidade do Banco Central, que desde o fim da guerra civil sempre foi governado por Riad Salame, que acabou na prisão e depois em prisão domiciliar após um mandado de prisão francês: lavagem de dinheiro sujo, a acusação mais grave.
Qual foi o impacto na vida dos libaneses?
Desde então, 44% da população vive abaixo da linha da pobreza. Salame é o principal culpado pela decisão, tomada sem ter o poder para tal, de congelar todas as contas bancárias em moeda estrangeira de todos os libaneses com pelo menos um parente no exterior — ou seja, quase todos. Centenas de milhares de pessoas se viram praticamente sem dinheiro, e aquele dinheiro permanece congelado até hoje, provavelmente usado para cobrir o déficit. Mas não é só isso: em 4 de agosto, 2.750 toneladas de nitrato de amônio escondidas pelo Hezbollah explodiram no porto comercial de Beirute. Metade da cidade foi declarada inabitável. Estamos cinco anos pós 2020. É evidente que o Estado dentro do Estado construído pelo Hezbollah é um problema, também porque se tornou um modelo. E este é o segundo ponto: a casta. O Hezbollah é um sistema assistencial para todas as famílias de seus combatentes; é um sistema clientelar por causa da rede construída dentro do aparato estatal; é um sistema de doutrinação com televisão confessional; é um sistema financeiro. Essa ideia de um partido ocupando uma comunidade com um sistema totalitário é o modelo. Os partidos agora são todos confessionais e operam da mesma maneira. Mas, dessa forma, o Estado desaparece. A resiliência libanesa é, portanto, individual, não coletiva. Há, de fato, desconfiança, resignação, adaptação. Para recomeçar, o Líbano precisa de algo bem diferente...
Do quê?
Um empenho pelo bem comum. Uma grande psicóloga, Mona Fayad, explica isso muito bem. Em um artigo recente, ela chamou a atenção do povo libanês para uma notícia incrível, divulgada apenas por um jornal libanês de língua francesa: a remoção de uma enorme estátua, pesando 11 toneladas, que se tornou símbolo global de Beirute nas mídias do mundo inteiro. A estátua, projetada por Hadi Sy que na dramática destruição do porto, um assunto nunca investigado, retrata um homem afastando as barras e aparecendo, visível, no espaço que se abriu. Aquela estátua foi removida sem sequer informar seu criador, levada na calada da noite para um ferro-velho: era o símbolo da afirmação da vontade popular e, por essa razão, escreveu ela, foi removida. Aquele homem fazendo aquele enorme esforço me lembrou sua tese sobre Sísifo. Considerado por muitos como condenado a um esforço árduo e inútil, Mona Fayad nos lembra que Sísifo foi transformado por Albert Camus: "Sísifo continuou a empurrar a pedra apesar de saber da inutilidade do esforço, porque sua própria consciência constituía o ato de resistência". Assim, ela vê os libaneses empurrando a pedra todos os dias, mas sem a consciência que torna isso um ato transformador. Olhando para os jovens e algumas de suas novas iniciativas, ela nutre, no entanto, a esperança de que algo esteja mudando. Sua esperança, portanto, é que o Papa os incentive a se livrarem da resignação, dando substância aos clamores do novo. Essa é a grande revolução que ela almeja.
Seria uma esperança realizável?
Sabe-se que Leão XIV falou diversas vezes da Rerum Novarum, a encíclica do Leão anterior, as "coisas novas" daqueles tempos que hoje precisam ser atualizadas e adaptadas à nova realidade. São essas "coisas novas" que servem para atualizar a convivência libanesa, o bem comum para muçulmanos e cristãos libaneses, de todas as 18 comunidades que a compõem. Dessa forma, se recomeçaria a trilhar o caminho indicado por João Paulo II em 1997, quando veio a Beirute para dizer que "o Líbano é uma mensagem"; o estado da convivência existe, mas requer a bússola do bem comum, a partir dos corações das pessoas.
É certo que o Papa falará de paz. Mas o que o Líbano pode fazer?
É fácil demais dizer que poderia desarmar o Hezbollah para se salvar. Não é fácil. Convém lembrar que, sem os votos dos dois partidos xiitas, aliados, o presidente Josef Aoun não teria alcançado o quórum necessário para ser eleito pelo parlamento. Ele se reuniu com eles em particular, e depois eles votaram nele. Agora, os atritos entre o exército e os Estados Unidos são conhecidos, mas se exige algo a mais. Contudo, para iniciar uma ação política, o exército não basta; é necessária uma visão. Assim, a cena que muda a narrativa pode ser vista na chegada do Papa, recebido pelos cinco patriarcas da Antioquia, que, no entanto, o recebem em Beirute. O que quer dizer Antioquia? Os patriarcas da Antioquia há muito deixaram de residir na Antioquia; hoje é uma cidade esquecida por todos, destruída pelo terremoto, na Turquia. Dessa forma, o Papa faz de Beirute a nova Antioquia, a sede eclesiástica responsável pelo Líbano, Síria e Líbano. Este me parece ser o horizonte: libertar-se das milícias e criar uma nova amizade entre países que têm problemas comuns e semelhantes e que poderiam ter perspectivas compartilhadas melhores. Se o cristianismo abraçasse essa visão ampla, e não o fechamento identitário e arraigado, poderia iniciar um caminho de renovação. Penso nos partidos confessionais: eles são parte do problema atual. Preservar as garantias para as comunidades é importante, mas não com partidos fechados, sectários. É possível oferecer garantias para as comunidades também tornando os partidos interconfessionais, como já aconteceu no passado. Dessa forma, se poderia também pensar numa aproximação de Estados que precisam se definir, reconhecer plenamente como independentes, aproximados por partidos realmente políticos baseados em projetos e visões. Assim como a Europa após a Segunda Guerra Mundial, o Grande Levante Árabe também poderia descobrir que a amizade com seu vizinho é melhor do que o ódio. Certamente, a desconfiança libanesa em relação à Síria é profunda, mas para onde o sírio al-Sharaa buscará seu comércio senão no porto de Beirute? Incentivá-lo a fazer isso como amigo e não como colonizador, como fez Assad, poderia ser uma bela tarefa para a Europa.
Enquanto isso, porém, a missão da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL), também está perdendo força; o mundo parece querer se afastar e fechar os olhos.
A UNIFIL foi um ator decisivo na contenção das desestabilizações. Mas hoje chegou a hora da maioridade do Líbano: se quiser salvar o extremo sul do país de se tornar uma zona de segurança desprovida de aldeias, todas destruídas, sem habitantes, expulsos de suas terras devastadas, não há outra opção senão assumir o controle militar e reivindicar a plena soberania sobre todo o território libanês. Portanto, o Hezbollah hoje também representa um problema para a salvação do sul do Líbano, onde basicamente vive. O presidente Aoun hesita, temendo que o desarmamento sem o consentimento do Hezbollah, que foi acertado quando o cessar-fogo foi assinado, possa desencadear uma guerra civil. Leio que novas tentativas estão sendo feitas para convencer Teerã a seguir um caminho não miliciano para seus aliados no Líbano, na Síria e no Iraque. De qualquer forma, o Hezbollah também precisaria de incentivos para finalmente se tornar um partido libanês. Deixe-me dar um exemplo. Um parlamento em 50% cristão e 50% muçulmano é um sinal maravilhoso; os números não importam quando se é parceiro. Mas a Constituição prevê uma segunda câmara, eleita não por quotas confessionais, mas sim pelo voto popular. O Hezbollah poderia pensar que se beneficiaria disso com o voto confessional para o seu próprio partido, mas devemos pensar com critérios diferentes: se daria garantias às comunidades e direitos aos indivíduos. Reconciliar comunidade e indivíduo seria uma novidade que dialoga com essas nossas sociedades fragmentadas, onde o indivíduo é cada vez mais um "eu soberano" e, portanto, órfão.
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