26 Novembro 2025
Quem sabe se o Papa Leão XIV terá sucesso onde o Papa Francisco falhou, isto é, em fundir e, assim, reduzir o número das dioceses italianas. Esse é, de fato, o empenho concreto que o pontífice pediu aos bispos, reunidos em Assis para A 81ª Assembleia Geral da Conferência Episcopal Italiana (17 a 20 de novembro).
A reportagem é de Luca Kocci, publicada por Adista.it, 22-11-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Os desafios da evangelização e as mudanças das últimas décadas, que afetam o âmbito demográfico, cultural e eclesial, pedem que não recuemos da questão das fusões diocesanas, especialmente quando as exigências da mensagem cristã nos convidam a superar certas fronteiras territoriais e a tornar nossas identidades religiosas e eclesiais mais abertas, aprendendo a trabalhar juntos e repensar o agir pastoral unindo as forças", disse Prevost. "Ao mesmo tempo, observando a fisionomia da Igreja na Itália, encarnada nos diferentes territórios, e considerando a dificuldade e, por vezes, a desorientação que tais escolhas podem causar, espero que os bispos de cada região façam um cuidadoso discernimento e, talvez, consigam sugerir propostas realistas para algumas das pequenas dioceses que têm poucos recursos humanos, para avaliar se e como poderiam continuar a oferecer seu serviço".
Trata-se de um compromisso que Bergoglio já havia solicitado aos bispos há doze anos, por ocasião de sua primeira participação em uma Assembleia Geral da CEI (ver Adista Notizie n. 20/13). Parecia que algo estava começando a se mexer, com um projeto que visava "cortar" cerca de trinta pequenas dioceses com uma população inferior a cem mil habitantes. No entanto, as resistências dos bispos bloquearam tudo e assim o número de dioceses permaneceu o mesmo, 226, um número muito alto em comparação com outros países como a Espanha — um estado predominantemente católico, com uma população somente um pouco menor que a da Itália, mas com quase o dobro da área — que tem apenas 70. Os próximos anos revelarão se o apelo do Papa Leão XIV permanecerá letra morta ou será levado a sério.
Prevost também abordou a questão dos bispos, reiterando o convite de Bergoglio para "aprender a se despedir", ou seja, deixar o cargo quando chega a hora. "Uma Igreja sinodal, que caminha na esteira da história enquanto enfrenta os desafios emergentes da evangelização, precisa se renovar constantemente. Devemos evitar que, mesmo com boas intenções, a inércia retarde as mudanças necessárias", disse o Papa, acrescentando que "é bom respeitar a norma dos 75 anos para o término do serviço dos ordinários nas dioceses e, somente no caso dos cardeais, uma continuação de seu ministério, possivelmente por mais dois anos, poderá ser considerada".
Em relação às nomeações episcopais, Leão XIV explicou que a sinodalidade "exige não apenas comunhão entre vocês e eu, mas também uma escuta atenta e um discernimento sério das instâncias que vêm do povo de Deus". Nesse sentido, a coordenação entre o Dicastério para os Bispos e a Nunciatura Apostólica, com o objetivo de uma corresponsabilidade compartilhada, deve ser capaz de promover uma maior participação das pessoas na consulta para a nomeação de novos bispos, além da escuta dos bispos em exercício nas Igrejas locais e daqueles que se preparam para concluir seu serviço”. A gestão das nomeações, portanto, ainda parece totalmente clerical — muitos, no âmbito da igreja de base, pedem um mecanismo mais participativo para a escolha dos bispos, que também possa envolver os leigos —, mas o Papa parece indicar uma colegialidade mais ampla.
Em geral, Prevost reiterou aquelas que considera serem as "coordenadas para ser Igreja que encarna o Evangelho e é sinal do Reino de Deus: a proclamação da Mensagem da salvação, a construção da paz, a promoção da dignidade humana, a cultura do diálogo, a visão antropológica cristã. Hoje, gostaria de enfatizar que essas instâncias correspondem às perspectivas que emergiram no Caminho Sinodal da Igreja na Itália. Agora cabe a vocês, bispos, delinear as diretrizes pastorais para os próximos anos."
Coordenadas que já o Cardeal Matteo Zuppi, presidente da CEI, havia antecipado ao abrir os trabalhos da Assembleia Geral dos Bispos: "a centralidade da proclamação do Evangelho, a unidade da Igreja, o exercício da colegialidade na sinodalidade, a promoção de uma paz 'desarmada e desarmante' num mundo que, ao contrário, exerce a força, enche os arsenais e, consequentemente, esvazia as escolas, os hospitais e os celeiros; a atenção à dignidade da pessoa humana, do princípio ao fim, para ser amada, cuidada e protegida, sempre e por todos." Ele também exortou os bispos ("Caros irmãos, agora é a nossa vez!") a prosseguirem com a implementação das indicações contidas no documento final do Caminho Sinodal, aprovado — após uma primeira rejeição na primavera — em 25 de outubro passado pela Terceira Assembleia Sinodal. "Agora se inicia uma nova fase que desafia particularmente a nós, pastores, no exercício da colegialidade e naquela presidência da comunhão que é tão crucial para que a sinodalidade se torne a forma, o estilo, a práxis para uma missão mais eficaz no mundo."
A primeira missão que Zuppi indica é "construir comunidades" que sejam realmente "abertas a todos os tipos de fiéis e toda busca por Deus: elas são como a praça da Igreja, onde não deve haver acessos limitados ou condicionados, porque muitas vezes chegam aqui tantas pessoas com diferentes histórias pessoais." Também porque "a cristandade acabou", "a nossa sociedade não é naturalmente mais cristã", disse o presidente da CEI na parte mais interessante de sua introdução. "Contudo, ainda que a cristandade tenha acabado, o cristianismo não acabou de forma alguma: o que está definhando é uma ordem de poder e cultura, não a força viva do Evangelho", concluiu Zuppi.
"Esse é o momento em que a proclamação do Evangelho deve brilhar com mais intensidade, como a lâmpada que arde na noite. O crente de hoje não é mais o guardião de um mundo cristão, mas o peregrino de uma esperança que continua a abrir caminho nos corações. Nesse horizonte, o fim da cristandade não é uma derrota, mas um kairós: a oportunidade de retornar ao essencial, à liberdade do início, àquele 'sim' pronunciado por amor, sem medo e sem garantias. O Evangelho não precisa de um mundo que o proteja, mas de corações que o encarnem”. Um discurso importante, mas que deve ser posto à prova pelos fatos: os bispos e as instituições eclesiásticas serão capazes, e sobretudo desejarão, abrir mão dos privilégios e das seguranças — legislativas e econômicas — que lhes são garantidas?"
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