26 Novembro 2025
Foi aprovada por unanimidade, este fim de semana, uma nova estrutura permanente da Igreja Católica da Alemanha, designada Conferência Sinodal, com representação de leigos, religiosos e clero, a qual dará continuidade e concretização às conclusões do Sínodo da Igreja Católica daquele país.
A reportagem é de Manuel Pinto, publicada por 7 Margens, 24-11-2025.
A reunião de dois dias do Comitê decorreu na cidade de Fulda, foi presidida pelo bispo Georg Bätzing, presidente da Conferência Episcopal do país, e pela presidente do Comitê Central dos Católicos Alemães, Irme Stetter-Karp. Segundo comunicados enviados ao 7 Margens no início e fim dos trabalhos, a iniciativa contou com a participação de 62 membros e quatro convidados. Recorde-se que foram também quatro as dioceses que se desligaram deste Synodale Weg (caminho sinodal) por discordância. Na agenda figurava igualmente a aprovação do regimento que guiará o funcionamento do novo organismo.
A mudança mais visível passou por alterar a designação do órgão a criar, deixando de se chamar Conselho Sinodal e passando a designá-lo por Conferência Sinodal. Porém, o que esteve, de fato, em questão, e que desencadeou uma reação do Vaticano, foi a decisão de, num órgão decisório de toda a Igreja alemã (com a mesma lógica transposta para o plano das dioceses), o voto dos leigos ser colocado em posição de igualdade com o voto dos bispos.
A fim de evitar um rumo que significasse, na prática, um corte com a Igreja Universal, foram quatro os encontros entre a Conferência Episcopal e alguns dicastérios do Vaticano, nos últimos anos. Em pelo menos uma das reuniões, o atual Papa participou enquanto prefeito do Dicastério para os Bispos, pelo que está a par de todos os passos dados. A última decorreu no dia 12 deste mês de novembro, tendo sido analisados à lupa, entre outros assuntos, os estatutos da Conferência Sinodal (sua natureza, composição e competências), debatidos e unanimemente aprovados na reunião do Comitê Sinodal deste fim de semana. Um curto comunicado divulgado após aquele que foi o quarto encontro bilateral confirma isso mesmo e nota que “o diálogo foi, mais uma vez, caracterizado por uma atmosfera honesta, aberta e construtiva”.
Na abertura da reunião do Comitê, o bispo Bätzing considerou estar a Igreja alemã “numa fase decisiva do estabelecimento de um órgão sinodal nacional”, reconhecendo que as recentes discussões havidas em Roma o “encorajaram nesse esforço”. Sublinhou também a boa receção que está a ter nesta Igreja local o documento final do Sínodo mundial, enriquecendo um caminho que vai desembocar, em janeiro de 2026, numa Assembleia Sinodal que abrirá “um novo capítulo da sinodalidade”, naquele país.
Por sua vez, a co-presidente do Caminho Sinodal e do Comitê Central dos Católicos Alemães, Irme Stetter-Karp, afirmou: “Se tivermos sucesso no nosso objetivo, haverá na Alemanha um órgão de nível supra-diocesano no qual bispos católicos e leigos deliberarão e decidirão juntos, com igualdade de direitos de voto. E no qual o número de leigos não será apenas um gesto simbólico de participação. Não é de admirar que Roma esteja interessada em nós!”
Referindo-se à “desconfiança” que terá despertado localmente o interesse da Cúria Romana pelos estatutos do novo órgão agora criado, Irme Stetter-Karp explicou: “Nós percebemos isso de forma bem diferente: as discussões que ocorreram revelam um interesse genuíno na criação de algo novo. Estamos cientes de que este órgão sinodal de nível nacional também despertará o interesse de católicos em outros países e em outros continentes. Estamos a dar um passo importante rumo a uma maior unidade, conversão e renovação da Igreja.”
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