17 Dezembro 2024
O comitê sinodal da Alemanha é liderado pelo bispo Georg Bätzing e por Irme Stetter-Karp, presidente do Comité Central dos Católicos Alemães.
A reportagem é de Manuel Pinto, publicada por SeteMargens, 15-12-2024.
O Comité Sinodal que foi incumbido de dar continuidade ao chamado “caminho sinodal” da Igreja Católica da Alemanha decidiu este fim de semana criar um órgão de “consulta e tomada de decisões conjuntas”, depois de terem avaliado o documento final do Sínodo sobre a Sinodalidade, aprovado em Roma, em 26 de outubro último e, de imediato, validado pelo Papa Francisco.
A notícia foi dada num comunicado do Caminho Sinodal, cujos co-presidente são o presidente da Conferência Episcopal da Alemanha, o bispo Georg Bätzing, e Irme Stetter-Karp, também presidente do Comitê Central dos Católicos Alemães (ZdK). O comunicado, divulgado ao fim do dia do último sábado, assinala que a reunião do Comitê Sinodal fez “um debate construtivo sobre a futura configuração de um órgão sinodal a nível federal”, incluindo a composição, competências e métodos de tomada de decisão desse órgão, e que o assunto voltará à agenda da próxima reunião, a realizar em maio de 2025.
O Comité decidiu ainda definir um período que vai de 12 de fevereiro a 21 de março de 2025 para recolher informação junto das dioceses alemãs que incide sobre a implementação local das resoluções sinodais. Além disso, iniciou a apreciação de um documento sobre a remoção de tabus da situação do clero não heterossexual e de duas declarações doutrinárias sobre contraceção e sobre medidas contra o abuso de mulheres na Igreja. Uma das três comissões especializadas do Comitê trabalhará novas versões dos documentos, a submeter à próxima reunião.
A presidente do ZdK afirmou, a este propósito, que o objetivo da sua organização é assegurar “participação em pé de igualdade, tomada de decisões entre iguais e uma representação conjunta dessas decisões em público”. Um órgão sinodal a nível federal com essas características fortalecerá a ação e intervenção dos cristãos em diferentes setores da sociedade e permitirá “falar à sociedade com uma voz com mais força”.
Por sua vez, o presidente da Conferência Episcopal reconheceu terem sido feitos “muitos progressos no trabalho da Comissão Sinodal”, nomeadamente quanto aos textos debatidos na última assembleia do “Caminho Sinodal”, mas que não foram objeto de resolução, por falta de tempo. Sublinhou a importância que teve a reflexão em pequenos grupos sobre a criação do órgão sinodal a nível federal”, já inspirados pelo Documento Final do Sínodo mundial da Igreja Católica. “O próximo [passo do] Caminho Sinodal consiste em trabalharmos e integrarmos os frutos do Sínodo mundial neste trabalho”, apontou o responsável.
O site da Igreja alemã especifica já alguns aspetos das matérias que poderão vir a caber a esse novo órgão: ele “deve discutir questões relacionadas com desenvolvimentos-chave na Igreja e na sociedade, bem como todas as questões financeiras e orçamentais que vão para lá do plano diocesano”. O objetivo é, também, “chegar a decisões conjuntas entre bispos e leigos, levando em consideração a responsabilidade canónica dos bispos, que são, de fato, os responsáveis finais”.
Falando na abertura dos trabalhos, o presidente da Conferência Episcopal e bispo de Limburgo agradeceu os “debates de alto nível” que os dirigentes da conferência episcopal alemã tiveram com representantes da Cúria Romana, em março e junho deste ano. “Eles contribuíram grandemente para a confiança mútua, ajudando a “explorar questões teológicas importantes, num diálogo e luta sérios”.
O bispo refletiu com os participantes do Comité sobre o Sínodo mundial em Roma, em outubro último, caratecrizando o que ali se passou e o texto aprovado como “vento favorável” para a Comissão Sinodal. (Recorde-se que a primeira reunião deste órgão, em março último, para pôr em marcha as decisões da Igreja alemã suscitou advertências por parte da Cúria Romana, de que se pudesse estar a ultrapassar uma ou mais linhas vermelhas).
O que foi “surpreendente”, nas deliberações tomadas em Roma, na perspectiva do bispo Bätzing, citado pelo site Katölische.de, foi a “intensidade” com que ali se deliberou sobre o modo como as decisões são tomadas numa Igreja em que “é claro quem é o responsável, nomeadamente os bispos”.
Para ele, o Documento Final descreve bem como isso se faz “numa estreita interação de consulta e decisão”. “O Sínodo, observou o presidente do episcopado, diz que a consulta, na qual todos devem participar, estabelece o padrão para quem decide”. O prelado recorreu ao teatro para clarificar que a sinodalidade não é uma encenação, em que há os que estão acima, com os melhores papeis, mas é, antes “trabalho, debate, luta, compromisso, busca de consenso”.
Intervindo também no início dos trabalhos, a co-presidente do Caminho Sinodal e presidente do Comité Central dos Católicos Alemães (ZdK), Irme Stetter-Karp, reconheceu também que o Sínodo mundial “desempenhou um papel importante” para a prossecução dos trabalhos da Comissão Sinodal na Alemanha.
Chamando a atenção para o fato de leigos e leigas terem participado nos trabalhos e nas votações, em Roma, a responsável acrescentou que “teria gostado ainda mais, por exemplo, de uma paridade real de pessoas com e sem ordenação, nestas votações”.
Stetter-Karp observou ainda que “todas as 70 pessoas da Comissão Sinodal “estão conscientes de que têm de encontrar em conjunto soluções para o futuro da Igreja”, no seu país, e que o Cristianismo “não foi feito para ficar parado”. “É uma religião do movimento e dos que estão em movimento”, considerou, deixando o repto àqueles que gostavam de dizer, não há muito tempo, que a Comissão Sinodal tinha morrido. “Permitam-me responder-lhes: aqueles que se dizia estarem mortos estão afinal mais vivos do que nunca”, enfatizou a dirigente do ZdK.
É de sublinhar, neste contexto, que a leitura aparentemente dominante na Igreja alemã, segundo a qual o resultado do Sínodo sobre a Sinodalidade representa “vento favorável” para o “Caminho Sinodal”, logo nos dias imediatos ao encerramento do Sínodo, no Vaticano, levou quatro bispos – de Colonia, de Eichstätt, de Passau e de Regensburg – a declarar publicamente que subscreviam o documento de Roma. Ao mesmo tempo, acusavam o caminho sinodal percorrido no seu país como estando marcado por uma lógica “de tipo parlamentar, de mera busca de maiorias e não de discernimento espiritual”.
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Igreja Católica alemã avança com órgão sinodal nacional - Instituto Humanitas Unisinos - IHU