21 Outubro 2021
Irmã Birgit Weiler: é necessária a inclusão plena das mulheres e de outros grupos deixados à margem. "Uma renovação eclesial será possível se todos estivermos dispostos a nos abrir ao sopro do Espírito Santo".
A reportagem é de Lucia Capuzzi, publicada por Avvenire, 20-10-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Sem a inclusão plena das mulheres, como outros grupos deixados ‘à margem’, não pode haver uma Igreja sinodal”. Birgit Weiler, religiosa das freiras missionárias médicas e teóloga, é lapidar em sua afirmação.
Alemã de nascimento e peruana de adoção, a religiosa acrescenta, com a mesma determinação: “E a sinodalidade não é opcional. É a essência da Igreja, como o Papa Francisco enfatizou repetidas vezes. Estruturas e procedimentos devem ser adaptados à luz dessa consciência. É necessário reconhecer o progresso feito e a beleza que está nascendo na Igreja. Mas devemos continuar neste caminho de forma mais decidida”, afirma a irmã Birgit, expoente do grupo de teólogos do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM) e também da comissão sobre os conteúdos da Assembleia Eclesial da América Latina.
“Esta última pode trazer a prática da sinodalidade como um dom à Igreja universal, como a experimentamos no processo de escuta em que foram recolhidos os estímulos individuais e comunitários do Povo de Deus”. Mais de 70.000 pessoas participaram do percurso, 65% mulheres, uma parte importante vinda das margens do sistema. “Foi muito animador ver como as pessoas vivenciaram esta impressionante consulta como um momento espiritual - relata a freira -. Eles sentiram o sopro do Espírito. O mesmo que agora se faz sentir em toda a Igreja”. Por isso, a teóloga vê no Sínodo um kairós. “É um momento de renovação possível da Igreja, se todos estivermos dispostos a nos abrir ao sopro do Espírito. É tempo de discernir para aquilo a que Deus está nos chamando. Porém, discernir juntos, dóceis ao Espírito e capazes de olhar os sinais do contexto em que vivemos”.
Muitas católicas alimentam no coração o desejo profundo de obter plena cidadania na Igreja. O próprio Papa denunciou isso, em seu discurso de abertura, a persistente marginalização feminina. “São muitas as mulheres que têm esperança de uma abertura de espaços mais participativos. E de uma valorização mais concreta dos dons e carismas femininos nos vários âmbitos, da catequese à espiritualidade e à teologia, este último âmbito ainda muito "masculino".
E na liderança, em diversos níveis: nas comunidades, nas paróquias, nas dioceses, nas estruturas da Igreja universal. Nisso, o Papa Francisco deu um forte exemplo ao incluir numerosas mulheres em posições de responsabilidade no Vaticano. Precisamos avançar nesse processo. Não há razão para excluir as fiéis de cargos de responsabilidade que não impliquem a ordenação presbiteral. Não se trata de uma competição com a outra metade da humanidade e da Igreja pelo poder, mas de olhar para as funções e ofícios do ponto de vista de Jesus, que nos pediu para sermos uma comunidade de irmãos e irmãs. As mulheres podem e, por isso, devem contribuir para o bem de todo o corpo de Cristo, isto é, a Igreja, e ajudar a governá-la. Para que, caminhando juntos, possamos testemunhar ao mundo dilacerado, polarizado, fragmentado, que o Evangelho é realmente uma Boa Nova”.
O primeiro passo, neste sentido, é recuperar o sentido profundo do Batismo. “Com este sacramento, todos nós - homens e mulheres, leigos, religiosos, sacerdotes, recebemos o Espírito. E, por isso, todos somos chamados, com igual dignidade e responsabilidade, a ser cocriadores e cocriadoras de uma cultura de cuidado com a vida. Em todas as suas formas. A vida dos seres humanos, a vida das comunidades e dos povos, a vida da nossa casa comum”.
Segundo a irmã Birgit, este é o sentido autêntico da missão, o antídoto mais eficaz contra a doença do clericalismo que confunde serviço e poder, entre função e dignidade. Nesse sentido, conclui a teóloga: “A opção pelos excluídos, pelos descartados, pelas pessoas confinadas à margem e discriminadas, pelos nativos, pelas pessoas que habitam as periferias do mundo é uma característica fundamental de uma Igreja autenticamente sinodal".
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Sinodalidade, essência da Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU