28 Setembro 2024
A poucos dias de iniciar os trabalhos da segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que tem como objetivo promover e concretizar a dimensão sinodal da Igreja, o subsecretário da Secretaria do Sínodo, dom Luis Marín de San Martín, analisa o processo sinodal e os passos a serem dados nas próximas semanas.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Parte do que é o Sínodo dos Bispos: “um órgão essencialmente episcopal, não separado do resto dos fiéis (ou seja, no e do Povo de Deus), convocado periodicamente pelo Papa para oferecer-lhe informações e conselhos sobre diferentes questões, buscando o bem da Igreja”. Marín de San Martín enfatiza que “normalmente tem uma função consultiva, não deliberativa”, que não é “um ‘miniparlamento’, nem pode tomar decisões, mas pode oferecer sugestões e conselhos ao Papa”. Nesse sentido, ele afirma que “embora às vezes a ênfase seja colocada no caráter consultivo, parece-me igualmente importante enfatizar a obrigação, após o discernimento, de oferecer ao Santo Padre sugestões e conselhos concretos”.
Junto com isso, ele reflete sobre o tema: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão”. É por isso que “tudo deve girar em torno desse tema e não em torno de outros aspectos que, embora importantes, devem ser tratados em outras áreas. É por isso que a primeira sessão foi orientada para responder à pergunta: 'Igreja sinodal, o que você diz sobre si mesma'”, ressaltando que para a segunda sessão a pergunta é: ‘Como ser uma Igreja sinodal missionária’.
Analisando a segunda sessão, o subsecretário da Secretaria do Sínodo lembra que “o processo sinodal é fruto da eclesiologia do Vaticano II. Por isso, é necessário retomar todo o Concílio, especialmente Lumen Gentium, Gaudium et Spes, Ad Gentes”, ressaltando que “se não conhecermos esses documentos, é impossível entender o processo que estamos vivendo em toda a sua realidade, beleza e profundidade, nem compreender o seu alcance”.
Ele também enfatizou que “para entender o pensamento do Papa sobre a sinodalidade na Igreja, parece-me essencial ler cuidadosamente alguns textos fundamentais: a exortação apostólica Evangelii Gaudium (2013), que traça as principais linhas do pontificado de Francisco; o Documento de Aparecida, da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe (2007), cuja comissão de redação foi presidida pelo então cardeal Bergoglio; e três textos pontifícios sobre o tema sinodal, como o discurso por ocasião do 50º aniversário da instituição do Sínodo dos Bispos (17-10-2015), o discurso aos fiéis em Roma (18-09-2021) e o discurso no início do processo sinodal (09-10-2021)”.
É igualmente importante que “não podemos simplesmente identificar a sinodalidade e o Sínodo dos Bispos. A sinodalidade é uma dimensão constitutiva da Igreja, assim como a comunhão, a hierarquia, a evangelização, etc. Em outras palavras, refere-se ao ser, ao fazer e ao estilo da Igreja (a esse respeito, veja o excelente documento da Comissão Teológica Internacional, A sinodalidade na vida e na missão da Igreja, 2018)”, diz ele. Referindo-se ao Sínodo dos Bispos, ele diz que “é um evento que expressa e desenvolve a sinodalidade, assim como outras instituições (sínodos diocesanos, assembleias eclesiais, conselhos pastorais, conselhos econômicos, etc.)”. A partir disso, ele deduz que “essas instituições e eventos estão integrados ao processo sinodal, facilitam e concretizam esse processo. A sinodalidade não termina com o Sínodo dos Bispos, nem se limita a ele”.
Marín de San Martín recorda que “em 22 de fevereiro de 2024, o Santo Padre estabeleceu dez grupos de trabalho para tratar de vários temas resultantes da primeira sessão que, por sua importância, exigem um estudo aprofundado, impossível no curto mês de duração do Sínodo. Esses temas, que emergem do Relatório Síntese da primeira sessão e, portanto, já são um primeiro fruto do Sínodo, são os seguintes: Relações entre as Igrejas Católicas Orientais e a Igreja Latina; O grito dos pobres; A missão no espaço digital; A revisão da formação sacerdotal em uma perspectiva sinodal missionária; Algumas questões teológicas e canônicas em torno de formas ministeriais específicas; Relações entre bispos, vida consagrada, movimentos; Alguns aspectos da figura e do ministério do bispo; O papel dos representantes pontifícios; Critérios e metodologias de discernimento compartilhado de questões controversas; Ecumenismo”. Cada grupo, explica o bispo agostiniano, “é coordenado por uma pessoa que não faz parte da Cúria Romana, envolve especialistas de todos os continentes, reforça a colaboração inter-dicasterial e se organiza de acordo com seus próprios critérios em termos de programa, consultas, colaborações. Os grupos de estudo apresentarão suas conclusões e sugestões ao Santo Padre em junho de 2025”.
Passando ao Instrumentum laboris, que definiu como “o material de trabalho para esta segunda sessão do Sínodo dos Bispos”, destacou seus quatro módulos, que marcarão o trabalho: Fundamentos; Relações; Itinerários; Lugares, lembrando que será acrescentado um quinto módulo para a discussão e aprovação do Documento Final, e que o trabalho, como de costume, será dividido em grupos linguísticos (36 mesas de 10-12 pessoas cada) e Congregações Gerais.
Sobre a dinâmica do trabalho, ele lembrou que “o método dos Grupos será o da ‘conversa no Espírito’, para indicar os pontos do Instrumentum Laboris que são particularmente válidos, aqueles que devem ser corrigidos e as questões que devem ser discutidas pela Assembleia”. Em segundo lugar, “os representantes de cada um dos 36 grupos formarão cinco mesas linguísticas (duas em inglês, uma em italiano, uma em francês e uma em espanhol-português). A tarefa dessas mesas é elaborar um breve relatório resumido e estabelecer a proposta definitiva de tópicos a serem tratados pela Assembleia na Congregação Geral”. Como terceiro elemento, “as Congregações Gerais ouvirão os relatórios resumidos das mesas linguísticas, votarão a ordem dos tópicos e procederão à sua discussão sucessiva”. Finalmente, “o documento final retomará a orientação da Assembleia e apresentará suas propostas e sugestões ao Santo Padre, que decidirá como proceder”.
O subsecretário da Secretaria do Sínodo ressalta que “este processo sinodal foi definido como um kairós: um tempo para aprofundar a experiência do Cristo vivo e, portanto, a experiência da Igreja; um momento poderoso, de mudança de vida; uma oportunidade única e irrepetível”. Por isso, adverte que “diante de tantas interpretações errôneas e interesseiras, devemos situar este processo e, nele, o Sínodo dos Bispos, no âmbito do Espírito Santo”. Nesse sentido, “alguns podem achar surpreendente, mas não há dúvida de que estamos lidando com uma realidade essencialmente espiritual”. O protagonista, repetiu o Papa, é o Espírito Santo. E isso não é um clichê ou um pensamento piedoso. Trata-se de um poder enorme, vivificante, renovador, dinâmico e criativo: o do Espírito, que nos une a Cristo e aos nossos irmãos e irmãs e que nos impele a evangelizar, a dar testemunho do Senhor Ressuscitado, a ser o Evangelho. E fazer isso no mundo de hoje, encarnando-o nas circunstâncias atuais de tempo, lugar e cultura, no chão do mundo e da história. É por isso que o propósito do Sínodo é a missão”, nos lembra o bispo.
Da mesma forma, ele nos lembra que “devemos cuidar dos espaços e tempos de oração (o Sínodo é precedido por um retiro espiritual), evitando cair em um trabalho meramente burocrático: devemos, nem mais nem menos, discernir o que o Senhor quer para a sua Igreja hoje. Isso requer ouvir o Espírito e discernir os sinais dos tempos. Também pedimos a todos os cristãos, nossos irmãos e irmãs, que nos ajudem com suas orações. Gostaria de dirigir esse apelo especialmente aos mosteiros de vida contemplativa e aos santuários”.
Com vistas a esta segunda sessão, Marín de San Martín destaca que “foi dada especial atenção à contribuição teológica, tanto na elaboração do Instrumentum laboris como na assistência aos membros do Sínodo. Também contamos com valiosos subsídios e numerosas publicações, cursos, conferências e reuniões”, agradecendo aos teólogos e canonistas por seu generoso trabalho. Ele vê isso como “uma ajuda para tornar o Sínodo uma força motriz para a reforma na Igreja, entendida como coerência cristã. Isso levará a mudanças, a reformas estruturais, a decisões corajosas e criativas, mas sempre como resultado da experiência da graça e não como pressuposto dela”.
Recordando as palavras de São João XXIII: “O mundo inteiro é minha família”, ele considera que “o Sínodo também nos oferece um testemunho de fraternidade. A Igreja é uma casa comum, onde o eixo é o amor (Caritas), não a ideologia. Dessa forma, podemos compreender a síntese entre unidade e pluralidade na Igreja; a imutabilidade do depositum fidei e a diversidade dos desenvolvimentos culturais; o binômio Igreja local e Igreja total; o desafio ecumênico e o diálogo inter-religioso; a variedade de vocações, carismas e ministérios. Dessa forma, podemos viver verdadeiramente a Eucaristia como fonte e ápice da vida cristã. Somente a partir do amor, que é sempre frutífero. O mundo só acreditará se nos vir unidos, se formos coerentes com o que pregamos, evitando a ruptura entre o discurso e a realidade da vida. O cristianismo não é primordialmente conceitual, mas experiencial”.
Finalmente, recorda que “no dia 2 de outubro o Santo Padre abrirá a segunda sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos”, com 370 membros (com direito a voto), aos quais se somam os delegados fraternos, convidados especiais, especialistas, assistentes e colaboradores. O número total de participantes é de cerca de 550. Quase 3/4 dos membros são bispos, já que se trata de um Sínodo dos Bispos e não de uma Assembleia eclesial. A missa de encerramento será realizada em 27 de outubro.
“Estamos diante de um evento eclesial muito importante. É hora de nos livrarmos do cansaço, dos medos, do individualismo, dos bloqueios, das rotinas e da agressividade. Devemos olhar para o futuro com esperança e recuperar nosso entusiasmo, com um enorme amor pela Igreja”, conclui o subsecretário da Secretaria do Sínodo.
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“A sinodalidade se refere ao ser, ao fazer e ao estilo da Igreja”, afirma Dom Luis Marín - Instituto Humanitas Unisinos - IHU