As irmãs Mirabal. Artigo de Anita Prati

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27 Novembro 2025

"A morte das três irmãs Mirabal despertou muitas consciências que até então permaneciam em estado de resignação passiva diante dos longos e sangrentos trinta anos de ditadura. A notícia do massacre desencadeou uma revolta que, em poucos meses, levou à morte de Trujillo e pôs fim ao seu regime implacável", escreve Anita Prati, professora de Letras no Instituto Estatal de Educação Superior Francesco Gonzaga, em Castiglione delle Stiviere, na Itália, em artigo publicado por Settimana News, 25-11-2024.

Eis o artigo.

Chamavam-se Aida Patria Mercedes, María Argentina Minerva e Antonia María Teresa. O sobrenome era Mirabal, e eram três irmãs. Nasceram, entre 1924 e 1936, na República Dominicana, a parte oriental da ilha de Hispaniola, uma das maiores do arquipélago das Antilhas. Ali, em 1930, subiu ao poder com um golpe de Estado o ditador Rafael Leónidas Trujillo, que instaurou um regime marcado por massacres e violências, com uso de tortura e assassinatos políticos para reprimir a oposição.

Durante a juventude, as irmãs Mirabal, criadas em uma família culta e abastada, amadureceram a decisão de se engajar pessoalmente na luta contra o ditador e passaram a receber em sua casa as reuniões da organização clandestina revolucionária Movimento 14 de Junho. Logo, suas atividades foram descobertas pela polícia secreta, o SIM (Servicio de Inteligencia Militar), e começaram as perseguições.

No início de 1960, Minerva, María Teresa e seus maridos foram presos sob acusação de atentado contra a segurança nacional. Mas, após trinta anos de feroz ditadura, Trujillo já sofria forte pressão da opinião pública internacional. O ditador foi obrigado a libertar as mulheres, colocando-as em prisão domiciliar, enquanto os maridos permaneceram encarcerados na cidade de Puerto Plata.

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Em 25 de novembro de 1960, Minerva e María Teresa foram a Puerto Plata visitar seus maridos. Estavam acompanhadas da irmã mais velha, Patria. Na viagem de volta, as três irmãs foram interceptadas pela polícia, espancadas e assassinadas a golpes de porrete. Depois, agentes do SIM encenaram um acidente de carro.

Trujillo acreditou ter eliminado um problema, suprimindo de forma brutal três mulheres incômodas e perigosas. Mas não levou em conta o impacto que a notícia do assassinato teria sobre a opinião pública dominicana.

A morte das três irmãs Mirabal despertou muitas consciências que até então permaneciam em estado de resignação passiva diante dos longos e sangrentos trinta anos de ditadura. A notícia do massacre desencadeou uma revolta que, em poucos meses, levou à morte de Trujillo e pôs fim ao seu regime implacável.

O dever da memória

Além de Patria, Minerva e María Teresa, havia uma quarta irmã na família Mirabal: Adela, chamada Dedé. Até aquele 25 de novembro, ela havia escolhido não se envolver politicamente, e por isso foi poupada do atentado que exterminou sua família.

Mas o brutal assassinato das irmãs foi, para Adela, uma convocação irrevogável: a partir daquele 25 de novembro de 1960, dedicou toda a sua vida às irmãs, cuidando dos filhos delas e preservando a memória do compromisso civil que assumiram. Todos os anos, no dia 25 de novembro, Dedé era entrevistada por equipes de televisão e jornalistas, e narrava a luta que Patria, Minerva e María Teresa haviam travado contra a feroz ditadura de Rafael Trujillo.

Se sua história não foi esquecida, devemos isso a Adela. É graças a Adela que, em 1999, a Assembleia Geral das Nações Unidas escolheu a data de 25 de novembro para celebrar o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres.

Por uma e por todas

Há vários anos, os símbolos associados à luta contra a violência às mulheres são os sapatos e os bancos vermelhos. A cor vermelha, cor do sangue, evoca imediatamente a violência que mãos masculinas perpetraram contra as mulheres ao longo de milênios.

As instalações de sapatos femininos vermelhos nasceram de um projeto realizado pela primeira vez em 2009 pela artista mexicana Elina Chauvet, em uma praça de Ciudad Juárez, no norte do México, na fronteira com os Estados Unidos. Tristemente famosa pelo tráfico de drogas e pessoas, pela violência de gênero e pelos feminicídios, Ciudad Juárez é a cidade onde foi assassinada a jovem irmã de Elina Chauvet, morta pelo próprio marido.

Para não esquecer e para exigir justiça, por sua irmã e por todas as outras, pelas incontáveis irmãs cuja vida foi interrompida pela violência insensata e injustificável de mãos masculinas: esse é o sentido da instalação Zapatos Rojos de Elina Chauvet. É esse também o significado dos bancos pintados de vermelho que encontramos nas ruas de nossas cidades, nas escolas e nos espaços públicos.

Nome de código Mariposas

Mariposas, borboletas, era o nome de código escolhido pelas irmãs Mirabal. Mariposa é também o título da canção com que Fiorella Mannoia se apresentou em Sanremo em 2024, um hino à sororidade, um manifesto de consciência e emancipação feminina:

Chamam-me por todos os nomes,
todos aqueles que me deram,
e no fundo sou livre, orgulhosa e canto.

Chamam-me por todos os nomes,
todos aqueles que me deram,
e mesmo no escuro sou livre, orgulhosa e canto.

Chamam-me por todos os nomes,
por todos aqueles que me deram,
e para sempre serei livre, e orgulhosa canto.

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