25 Novembro 2025
Questões eclesiásticas e geopolíticas espinhosas pesam sobre a primeira viagem internacional do Papa Leão XIV, que de 27 de novembro a 2 de dezembro estará na Turquia e no Líbano. No entanto, o motivo oficial da visita, pelo menos em Iznik, a antiga cidade de Niceia, é a comemoração do Concílio que, há mil e setecentos anos, proclamou que o Verbo encarnado na humanidade era o verdadeiro Deus.
A reportagem é de Luigi Sandri, publicada por L'Adige, 24-11-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Um evento que o Papa analisou ontem na Carta Apostólica "In unitate fidei". Em Ancara, o pontífice será recebido pelo presidente turco Recep Tayyip Erdogan e, em seguida, em Istambul, a antiga Constantinopla, encontrará o Patriarca Bartolomeu, "primus inter pares" entre os hierarcas da Ortodoxia.
Os dois estarão então juntos em Iznik, a 130 quilômetros de distância, para comemorar, com outros líderes das Igrejas cristãs do Oriente e do Ocidente, a grande Assembleia de bispos que, em 325, opondo-se ao presbítero Ário, que proclamava o Verbo "semelhante" ao Pai, definiu-o como "igual" a ele, isto é, "Deus de Deus, luz da Luz". No momento, mas surpresas não podem ser descartadas, parece que o Patriarcado de Moscou não estará presente com seu chefe supremo, Kirill. De fato, em 2019, o Santo Sínodo da Igreja Russa – que governa cem milhões de fiéis – cortou a comunhão eucarística com Bartolomeu e seus bispos, chamando-os de "cismáticos" por terem aprovado, no ano anterior, sem e contra Moscou, a "independência" canônica da Igreja Ortodoxa Ucraniana. Portanto, se a Igreja Russa não estiver em Iznik, o 1700º aniversário do Concílio de Niceia será celebrado com uma dramática e pública separação do mundo cristão.
Leão terá depois encontros com as mais altas autoridades muçulmanas, em um país onde o Islã é a religião de 94% dos habitantes. Formalmente, a Turquia é laica, mas com o atual presidente, foi crescendo o peso da religião majoritária. No entanto, para Prevost, as conversas privadas com Erdogan serão particularmente importantes, já que seu país é um dos principais, juntamente com os Estados Unidos e a Arábia Saudita, no esforço para alcançar um acordo estável entre Israel e Palestina.
De Istambul, o pontífice viajará para Beirute, a capital de um país martirizado onde, devido aos ataques de Israel, pelo lançamento de foguetes contra o Estado judeu e por conflitos internos, parece ter perdido força a famosa definição do Líbano como a "Suíça do Oriente Médio". Outrora considerado meio muçulmano (embora os numerosos drusos sejam historicamente considerados quase hereges em relação do universo islâmico) e meio cristão, hoje os fiéis em Jesus são uma substancial minoria, dominada por maronitas, católicos do rito antioquino, ligados a Roma, liderados pelo Cardeal Boutros Rai Bechara, seu patriarca. Mas a presença de armênios também é muito significativa: os armênios gregorianos do catholicosato da Cilicia e os armênios católicos em comunhão com Roma.
Leão XIV terá que lidar com essa extrema complexidade, convidando à paz interna no país, e com esperança que este fique em paz com os vizinhos Israel e Síria.
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