18 Novembro 2025
"Neste momento histórico tão difícil, a Igreja demonstra que o amor tem um profundo valor político e que a esperança nasce desse amor. Há meses, algumas dioceses nos EUA começaram a formar equipes para acompanhar as pessoas migrantes convocadas para as audiências de deportação, um gesto concreto de fraternidade".
O artigo é de Mattia Ferrari, padre, assistente espiritual da ONG Mediterrânea Saving Humans, publicado por La Stampa, 15-11-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Um programa de deportações em massa está em ato nos Estados Unidos desde o início de 2025. As operações estão ocorrendo em todos os lugares. Segundo dados oficiais, no final de setembro, 59.762 pessoas constavam como detidas no Serviço de Imigração e Alfândega (ICE), das quais 71,5% não tinham nenhuma condenação criminal. Outras 181.210 famílias e indivíduos resultavam oficialmente sob controle no programa Alternativas à Detenção (ATD). No final de outubro, mais de 527.000 pessoas haviam sido deportadas, enquanto aproximadamente 1,6 milhão haviam deixado os Estados Unidos voluntariamente.
Desde o início desse plano, o Papa Francisco, em um de seus últimos atos, interveio com uma carta aos bispos EUA, alertando que "o que se constrói sobre o fundamento da força e não sobre a verdade a respeito da igual dignidade de todo ser humano começa mal e terminará mal". Seu discurso se fundamentava no Evangelho: "Jesus Cristo, amando a todos com um amor universal, nos ensina a reconhecer permanentemente a dignidade de cada ser humano, sem exceção". Nos últimos meses, o Papa Leão XIV reiterou essa mensagem diversas vezes. Em 23 de outubro, no quinto encontro mundial dos movimentos populares, referindo-se ao mundo inteiro, ele explicou: "Medidas cada vez mais desumanas — até mesmo politicamente celebradas — estão sendo adotadas para tratar esses 'indesejáveis' como se fossem lixo e não seres humanos. O cristianismo, ao contrário, se refere ao Deus do amor, que nos torna todos irmãos e nos pede que vivamos como irmãos e irmãs. Ao mesmo tempo, me sinto encorajado ao ver como os movimentos populares, as organizações da sociedade civil e a Igreja estão se mobilizando contra essas novas formas de desumanização, testemunhando constantemente que o necessitado é nosso próximo, nosso irmão e nossa irmãs. Isso faz de vocês campeões da humanidade, testemunhas da justiça, poetas da solidariedade".
Agora, chega um novo sinal. Os bispos dos EUA reuniram-se para a sua Assembleia Plenária de Outono, na qual elegeram o Arcebispo Paul Coakley, de Oklahoma City, como o novo presidente da Conferência Episcopal e o Bispo Daniel Ernesto Flores, de Brownsville, Texas, como o novo vice-presidente. Nessa ocasião, os bispos dos EUA publicaram uma Mensagem Especial para fazer ouvir, unidos, as suas vozes. É a primeira vez em doze anos que os bispos dos EUA recorrem a essa forma particular de intervenção. Opõem-se à deportação indiscriminada e em massa das pessoas. Rezam pelo fim da retórica desumanizadora e da violência, tanto contra migrantes como contra as forças da lei. Reafirmam que a dignidade humana e a segurança nacional não são incompatíveis e são possíveis quando pessoas de boa vontade trabalham juntas. Explicam que a preocupação da Igreja com os outros, incluindo os migrantes, provém de Cristo e do seu mandamento de amor.
Movidos por esse amor, dirigem-se diretamente às pessoas migrantes, dizendo: "Não estão sozinhos!". Os bispos também divulgaram um vídeo com seus rostos, explicando a mensagem. Neste momento histórico tão difícil, a Igreja demonstra que o amor tem um profundo valor político e que a esperança nasce desse amor. Há meses, algumas dioceses nos EUA começaram a formar equipes para acompanhar as pessoas migrantes convocadas para as audiências de deportação, um gesto concreto de fraternidade. Podia parecer ingênuo e inútil. No mês passado, o Bispo de San Diego, Michael Pham, e representantes de movimentos populares e paróquias escreveram um texto detalhado explicando por que fazem isso e convidando todos a terem fé e esperança com eles. Nas últimas semanas, o número de pessoas que se juntaram a esse serviço de fraternidade continuou a crescer. Agora, aderiram todos os bispos dos EUA, unidos. A esperança, quando nasce desse amor, pode realmente mudar a história.
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