18 Novembro 2025
O vento ficou mais forte enquanto a procissão fazia outra volta ao redor do 26 Federal Plaza. Granizo e frio intenso atingiam os manifestantes — alguns usando bengalas e andadores — que não se deixaram deter de completar sua marcha silenciosa ao redor do tribunal de imigração da cidade.
A informação é de Edward Desciak, publicada por America, 14-11-2025.
Mais de 50 pessoas se reuniram no sul de Manhattan em 13 de novembro para a “Caminhada de Jericó”, realizada semanalmente pela New Sanctuary Coalition, um ritual de oração e testemunho público. A coalizão é uma organização de advocacia baseada na fé que protesta contra a campanha de deportações em massa do governo Trump.
A ação, realizada todas as quintas-feiras, ganhou um significado adicional nesta semana, quando comunidades católicas pelo país celebraram a festa de Santa Francisca Xavier Cabrini, padroeira dos imigrantes. Duas paróquias jesuítas, St. Francis Xavier e St. Ignatius Loyola, juntaram-se à marcha desta vez, junto com mais de uma dúzia de líderes religiosos de diferentes tradições.
A procissão durou mais de 90 minutos enquanto as temperaturas caíam e o granizo dava lugar a pancadas de chuva congelante. Os participantes, protegidos com cachecóis e luvas, continuaram caminhando, passando por seguranças que observavam em silêncio por trás de barricadas metálicas.
Os participantes deram sete voltas ao redor do prédio federal, inspirando-se no relato bíblico de Josué circulando as muralhas de Jericó. Ao final de cada volta, o grupo parava na entrada do tribunal — onde pessoas esperavam ao frio por suas audiências — oferecendo uma breve oração antes de três toques do shofar ecoarem pela praça.
Após a sétima volta, participantes alinhados ao longo da Broadway recitaram a oração de Jericó, pedindo o fim de “leis injustas” que “discriminam” contra “milhões de nossos irmãos e irmãs”. Depois da oração, a multidão gritou o mais alto que pôde em direção ao prédio, evocando a cena triunfante do exército israelita derrubando as muralhas de Jericó.
O simbolismo do dia foi ampliado pelo fato de que o edifício já apresenta sinais de desgaste estrutural devido a problemas de impermeabilização e deterioração do subsolo desde que a N.S.C. iniciou a Caminhada de Jericó, em 2012.
“Vocês veem os curativos que colocaram nas janelas?” brincou Ravi Ragbir, diretor-executivo da N.S.C., que liderou a procissão. Ele apontou para lonas pretas cobrindo partes da fachada do prédio imponente. “Estamos assumindo o crédito por isso”, disse com um sorriso irônico.
Ragbir, imigrante nascido em Trinidad que veio aos EUA em 1991, lutou contra sua própria deportação por 19 anos. Ele descreveu o trauma prolongado dessa luta. “Mesmo tendo vencido o caso, o TEPT não desaparece”, disse. Às vezes, seu “corpo desaba sem aviso”.
Após cumprir pena por uma condenação de fraude eletrônica, ele foi detido pelo ICE em 2006 e teve seu green card revogado, iniciando uma batalha de quase duas décadas contra a deportação. Em 2018, Ragbir foi novamente detido no 26 Federal Plaza durante uma checagem de rotina. “Eles me alvejaram por causa da minha atuação e da minha liberdade de expressão”, afirmou.
Um dia antes de Donald Trump assumir o cargo pela segunda vez, Joe Biden concedeu perdão a Ragbir.
Ele credita a intervenção de líderes religiosos e autoridades eleitas por impedir sua deportação. “Ainda estou aqui porque as pessoas se levantaram”, disse. “Nós podemos vencer se trabalharmos juntos.”
Ragbir, criado no hinduísmo e posteriormente convertido ao cristianismo, enfatizou o significado bíblico do testemunho orante da N.S.C. Ele incentivou as pessoas a recitar a oração de Jericó em solidariedade aos migrantes ou “encontrar uma instituição em sua própria comunidade que precise de uma caminhada de Jericó”.
A N.S.C. há muito organiza acompanhamento nos tribunais de imigração de Nova York, no 26 Federal Plaza e no 290 Broadway, apoiando imigrantes em audiências e monitorando ações das autoridades federais.
Desde maio, a organização tem testemunhado repetidas prisões coordenadas em tribunais realizadas pelo Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) e pela Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP), com apoio de outras agências, segundo um comunicado de imprensa.
Antes da Caminhada de Jericó na manhã de quinta-feira, autoridades eleitas — incluindo os deputados estaduais Micah Lasher e Linda Rosenthal, o senador estadual Brad Hoylman-Sigal e o comissário de Assuntos Imigratórios de Nova York, Manuel Castro — juntaram-se à N.S.C. para observar o funcionamento do tribunal.
Alan Yaspan, diretor de comunicação da N.S.C., disse à revista America que, após ver “tropas de agentes do ICE”, conversaram com um supervisor do Escritório Executivo de Revisão de Imigração sobre voluntários serem impedidos de acessar salas de espera, salas de audiência e de distribuir informações não-comerciais sobre direitos dos imigrantes.
“É uma violação da Primeira Emenda quando nos dizem que não podemos entrar em uma sala de espera ou sequer assistir a uma audiência”, disse Yaspan. “Eles inventam desculpas. Agentes do ICE… nos assediam. Eles nos intimidam e xingam.” Ele mencionou casos de agentes usando linguagem vulgar para atacar voluntários.
“A pressão está alta; a paranoia, maior ainda”, afirmou, descrevendo como a segunda administração Trump mudou em sua resposta às manifestações da N.S.C. “Mas o trabalho permanece o mesmo em sua essência.”
Do outro lado do tribunal, na Worth Street, outro grupo mantinha um testemunho paralelo. Membros da organização de ação direta não violenta Rise and Resist participavam de uma vigília silenciosa, segurando cartazes nos dois lados da calçada — impossível de serem ignorados pelos transeuntes.
Jerry Goralnick, organizador de longa data e pacifista, tem participado dessas vigílias semanais. Seu grupo, explicou, aparece todas as quintas-feiras ao meio-dia “para protestar contra a presença do ICE em nossa comunidade e contra a crueldade que acontece com nossos vizinhos”.
“Nunca vimos o governo federal agir com tamanha crueldade”, disse Goralnick, contrastando o momento atual com o sistema de imigração de uma década atrás. “Era um mundo muito diferente. As pessoas compareciam às audiências, e o juiz dizia: ‘Volte em seis meses com um advogado’. E elas podiam seguir com suas vidas. Agora, as pessoas vão para a audiência e são sequestradas e levadas sabe-se lá para onde.”
Ele apontou para o prédio atrás dele. “O que está acontecendo lá dentro é realmente horrível”, disse. “Os cidadãos de Nova York e deste país precisam saber o que está acontecendo.”
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