O Papa e o acordo Israel-Hamas. Artigo de Luigi Sandri

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14 Outubro 2025

"Agora, lida nos detalhes, [a Exortação Apostólica "Dilexi te"] talvez possa oferecer pontos interessantes para ajudar a sanar o imenso desastre enfrentado pelos pobres da Faixa, e também para curar sentimentos de hostilidade extrema contra Israel", escreve Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por L'Adige, 13-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

O Vaticano acolhe com grande alegria o acordo entre Israel e o Hamas, que será assinado hoje em Sharm el-Sheikh, Egito. No entanto, também apela às partes envolvidas no acordo, e às Grandes Potências, a começar pelos Estados Unidos da América, para que não se esqueçam o que deve ser feito para alcançar a paz. O direito de Israel à existência deve ser garantido e, ao mesmo tempo, deve ser criado um Estado da Palestina, formado pela Faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental.

Leão XIV disse ontem no Angelus: "O acordo sobre o início do processo de paz acendeu uma centelha de esperança na Terra Santa. Encorajo as partes envolvidas a continuarem no caminho que traçaram, rumo a uma paz justa e duradoura, que respeite as aspirações legítimas dos povos israelense e do povo palestino."

O Pontífice, portanto, abençoa um pacto que, em primeiro lugar, silencia as armas e, portanto, salva vidas humanas; e ter concordado com esse objetivo já é uma excelente notícia para a Santa Sé. Mas, é claro, não basta para alcançar efetivamente a paz: como o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado, explicou claramente em 6 de outubro em uma entrevista ao L'Osservatore Romano. Ou seja, além de reconhecer plenamente o direito de Israel de existir, a Santa Sé simultaneamente "apoia um Estado da Palestina que seja independente, soberano, democrático e viável, incluindo a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Gaza".

Tais palavras chegaram a Sharm el-Sheikh como um trovão distante, mas distinto, mas lá, pelo menos por enquanto, não foram avaliadas pelo que prenunciam: ou seja, um aviso profético de que, se esse objetivo não for alcançado, o conflito militar violento e terrível entre o Estado judeu e os palestinos (independentemente de quem os liderar) ressurgirá e será ainda mais duro do que aquele que começou em 7 de outubro de 2023 e será encerrado hoje. Sabe-se que o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e sua corte, não querem nem ouvir falar de um "Estado palestino", ainda mais se ele for composto pelos três elementos decisivos: Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental.

Assim, abre-se um caminho repleto de obstáculos também para a diplomacia do Vaticano, que será facilmente rotulada de "antissemita" por aqueles que a consideram demasiado atenta aos desejos dos palestinos e, portanto, hostil a Israel. A Exortação Apostólica "Dilexi te", sobre o amor aos pobres, datada de 4 de outubro, mas apresentada na última quinta-feira, foi divulgada enquanto o acordo Israel-Hamas estava em elaboração; portanto, nela o Papa Leão não abordou diretamente a tragédia de Gaza.

Agora, lida nos detalhes, talvez possa oferecer pontos interessantes para ajudar a sanar o imenso desastre enfrentado pelos pobres da Faixa, e também para curar sentimentos de hostilidade extrema contra Israel. Em breve veremos se e como a Igreja Romana, do Vaticano ao Patriarcado de Jerusalém (já muito ativo), conseguirá inventar iniciativas de paz na Cidade Santa, há muito tempo símbolo de um conflito sangrento: há mil anos entre cruzados e muçulmanos, hoje entre estes últimos e judeus.

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