Trump e Hegseth aos generais: "Preparem-se para a guerra". O Papa: palavras preocupantes

Foto: Aiko Bongolan/US Navy

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02 Outubro 2025

Donald Trump vê no inimigo interno — dos migrantes à criminalidade urbana e à esquerda radical —a maior ameaça para os Estados Unidos, contra a qual se deve combater uma guerra total. O presidente dos EUA se junta ao Secretário do Departamento de Guerra, Pete Hegseth, que convocou 800 generais e almirantes na Base do Corpo de Fuzileiros Navais em Quântico, Virgínia, para informá-los sobre como mudaram as diretrizes e prioridades das Forças Armadas sob o novo governo.

A reportagem é de Alberto Simoni, publicada por La Stampa, 01-02-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

O anúncio dessa incomum reunião, que obrigou muitos oficiais de quatro estrelas a abandonarem suas unidades espalhadas em todos os cantos do planeta e correr para os Estados Unidos, havia gerado descontentamento, pois ninguém sabia o motivo da convocação.

Donald Trump falou por mais de uma hora. Um longo discurso — como de costume — mas diante de uma plateia silenciosa.

O comandante-em-chefe reivindicou ter concluído sete guerras, "quase oito" se a de Gaza for bem-sucedida, e ameaçou que o arsenal dos EUA está pronto, mesmo ressaltando o desejo de nunca ter que recorrer a ele. Em seguida, mensagens a Putin e Zelensky: "precisam se encontrar", expressando decepção por não ter conseguido encerrar rapidamente o conflito na Ucrânia, mas, acima de tudo, grande atenção aos militares e às novas prioridades. Disse aos generais que eles têm seu apoio total. "Neste esforço, somos uma equipe, e por isso minha mensagem para vocês hoje é simples: estou com vocês, apoio vocês e, como presidente, apoio vocês 100%. Vocês nunca me verão vacilar minimamente... Tornaremos nosso exército mais forte, mais duro, mais veloz, mais feroz e mais poderoso do que jamais foi."

A mensagem, no entanto, é que a tarefa das Forças Armadas não é apenas proteger as fronteiras e os interesses dos Estados Unidos, mas também defender seu território interno. O discurso de Trump ontem em Quântico é a "ratificação" de uma visão que ele havia enunciado e adotado nas primeiras semanas de sua presidência, quando ordenou ao Pentágono o envio de soldados para apoiar os agentes de imigração no fechamento da fronteira sul com o México. O envio da Guarda Nacional para Washington e outras cidades é funcional a essa estratégia. De fato, Trump reivindicou o sucesso da missão: "agora, Washington é uma cidade segura; antes, era a menos segura dos Estados Unidos". Dado que entra em conflito com qualquer estatística, mas que Trump continua a citar.

"Os Estados Unidos estão sob invasão interna, o que não é diferente de um inimigo estrangeiro, mas em muitos aspectos é mais difícil porque esses [inimigos] não vestem uniformes. Quando os usam, você pode eliminá-los", disse Trump.

As prioridades delineadas por Trump não encontram amplos consensos entre a liderança militar do Pentágono.

O Washington Post noticiou as divergências dentro do Departamento de Guerra em relação a essa mudança em direção às "ameaças internas", enquanto a China ganha força e Washington revê seu envolvimento em missões e presenças na Europa e na África. Tanto Trump quanto Pete Hegseth reivindicaram a virada realizada, renomeando o Departamento de Defesa como Departamento de Guerra, nome que George Washington havia lhe dado.

O "dono da casa", Pete Hegseth, denunciou "décadas de decadência", atacou a "deriva woke", anunciou o fim dos escritórios para os programas "DEI" e alertou as mulheres de que, se não alcançarem os "padrões masculinos", não poderão lutar. Padrões de desempenho (físico) que obviamente terão que ser respeitados, em primeiro lugar, pelos mais altos escalões das Forças Armadas: "Chega de generais com barba e gordos". "Nossa tarefa", disse Hegseth, "é se preparar para a guerra e vencê-la".

Uma declaração que, para o secretário da Guerra, representa uma revolução copernicana, já que "por tempo demais, promovemos líderes pelos motivos errados: por causa de sua raça, com base no gênero. Agora estamos pondo fim à guerra contra os guerreiros", disse Hegseth enfaticamente, usando uma frase que também é o título de um de seus livros. Aos generais que ouviam em silêncio na plateia, dirigiu uma clara advertência: "Se vocês não gostam dessas coisas, então se demitam."

Em vez de os generais – por enquanto de bocas fechadas, pelo menos em público - um comentário sobre as palavras de Hegseth veio do Papa. "Essa maneira de falar é preocupante porque mostra um aumento de tensões." "Esperamos que esse vocabulário que transforma o Ministro da Defesa em Ministro da Guerra, seja apenas uma maneira de falar", disse Leão XIV de Castel Gandolfo. "É certamente um estilo de governo com o qual querem mostrar força para impressionar. Esperemos que funcione, mas que não haja guerra. É preciso sempre trabalhar pela paz", concluiu Prevost.

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