20 Setembro 2025
"Suportar as privações, dizia Francisco, significa acumular méritos: e se alguém, assim que sente uma necessidade, se apressa em satisfazê-la, é como evitar uma boa oportunidade que lhe foi oferecida", escreve Alessandro Barbero, em artigo publicado por La Stampa, 16-09-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Um trecho do quarto capítulo do livro de Alessandro Barbero, San Francesco (Laterza). 2026 marcará o 800º aniversário da morte de Francisco.
Eis o artigo.
Suas mais antigas biografias foram escritas por frades que o conheceram de perto. Poderíamos ingenuamente acreditar que as informações de que dispomos sobre ele não são apenas abundantes, mas confiáveis. Mas não é o caso.
Testemunhas se contradizem continuamente: aqueles que as ouviam não gostavam de lembrar que Francisco havia sido um homem cheio de durezas e contradições, que havia experimentado a decepção e a derrota.

Reprodução da imagem da capa do livro de Alessandro Barbero. (Foto: Reprodução | Libreriamo)
A Ordem tomou uma decisão sem precedentes: destruir todas as biografias existentes e substituí-las por uma nova e definitiva, a Legenda maior, escrita pelo geral da Ordem, Boaventura. A primeira e mais importante biografia foi escrita por Tomás de Celano: ele é o Tomás a quem Barbero se refere nestas linhas.
Os capítulos que Tomás dedica à pobreza contêm muitos episódios que não se encontram em nenhuma outra fonte, ressaltando a intransigência de Francisco tanto em relação às moradias quanto ao vestuário; uma insistência que certamente tem uma intenção polêmica, considerando aquele que era o modo de vida entre os Frades Menores em meados do século XIII. Até o fim, Francisco ensinou que os frades deviam viver em cabanas de madeira, não de pedra, e sem móveis ou ornamentos; e onde quer que vivessem, era sempre necessário saber com certeza quem era o dono, para evitar se apropriar.
Certa vez, ao retornar de Verona e prestes a passar por Bolonha, ele ouviu dizer que uma casa dos frades havia sido construída ali; tal expressão, por seu aspecto possessivo, o ofendeu tanto que deu meia-volta e mudou de caminho, comunicando depois aos frades que eles deveriam deixar a casa imediatamente; todos, até mesmo os doentes, foram expulsos. E Tomás acrescenta que esse incidente foi testemunhado justamente por alguém que estava lá na época como doente e teve que ir embora. Mais tarde, porém, o Cardeal Henrique de Susa, então legado papal na Lombardia, convenceu Francisco a permitir o uso daquela casa, declarando-a publicamente de sua propriedade.
Além das habitações, seu conteúdo também deveria ser extremamente modesto. Francisco não queria muitos utensílios na mesa nem móveis na casa que o lembrassem da vida mundana; tudo tinha que cantar (Tomás usa exatamente essa expressão) a peregrinação e o exílio. E, da mesma forma, as camas tinham que ser simples: apenas a pobreza deveria ser abundante. Quem podia ter um colchão de palha e lençóis remendados deveria se sentir como se estivesse em um leito nupcial.
A pobreza tinha que ser sempre visível e, portanto, começava pelas vestimentas. Na época, os homens usavam túnicas longas, semelhantes às batinas dos religiosos, e para se protegerem do frio, às vezes sobrepunham até três peças de roupa; a que estava em contato com o corpo era obviamente feita do tecido mais macio, enquanto a mais externa era do material mais elegante. E havia frades na Ordem que se vestiam assim, mas Francisco os detestava e os criticava duramente em público. Quando se pensa nas roupas, dizia ele, é porque o espírito está morto, restando apenas os prazeres da carne.
Para ele, relata Tomás, era o fogo de Deus que aquecia interiormente mais do que as roupas exteriormente. Portanto, não permitia o uso de mais de duas túnicas, embora pudessem ser reforçadas, se necessário, contra o frio, costurando nelas pedaços de tecido. Nunca parou de atacar aqueles que ostentavam exteriormente panos de boa qualidade: para confundi-los, ele próprio costurou um saco de tela grosseira sobre seu hábito; e em seu leito de morte, pediu para ser enterrado com o mesmo hábito. Somente quando um frade estava doente era-lhe permitido usar um hábito mais macio em contato com a pele, desde que o hábito exterior fosse de tecido grosseiro e surrado.
Suportar as privações, dizia Francisco, significa acumular méritos: e se alguém, assim que sente uma necessidade, se apressa em satisfazê-la, é como evitar uma boa oportunidade que lhe foi oferecida. "À força de atenuar o rigor e buscar o calor, os filhos do pobre pai acabarão não se envergonhando de usar tecidos escarlates, apenas mudando a cor" (tecido escarlate, como os que ele levara tantos anos antes para Foligno para vender, estavam entre os mais luxuosos, tingidos de vermelho vivo; Francisco não imaginava que os frades jamais chegariam a vestir aquela cor custosa, mas a expressão se tornara sinônimo dos tecidos mais finos). Quanto ao dinheiro, Francisco ensinava que deveria receber o mesmo valor que o esterco.
Certa vez, um leigo foi à Porciúncula e deixou uma oferenda na igreja perto do Crucifixo. Um frade, sem pensar, pegou o dinheiro, tocando-o com suas mãos e o jogou no parapeito da janela. Era uma transgressão grave e foi imediatamente denunciada: alguém relatou a São Francisco o que aquele frade havia feito. O culpado, vendo-se descoberto, correu para pedir perdão e atirou-se ao chão, pronto para ser espancado. Francisco o repreendeu severamente e ordenou-lhe que voltasse à igreja e pegasse o dinheiro com a boca; depois, que saísse, que fosse além dos limites do convento e o colocasse, sempre com a boca, sobre um esterco de jumento. O culpado ficou feliz por escapar com tão pouco castigo, mas os corações de todos os outros se encheram de medo e, daquele dia em diante, desprezaram o dinheiro ainda mais do que antes.
Não contente com isso, Tomás acrescenta mais três episódios de mesma natureza.
No primeiro, dois frades a caminho de um hospital para leprosos encontram dinheiro no chão e param para discutir o que fazer. Um quer pegá-lo para oferecê-lo aos que prestam serviços, por pagamento, aos leprosos e zomba dos escrúpulos do outro; o outro, porém, repete que a Regra é cristalina: qualquer dinheiro encontrado deve ser pisoteado como poeira. O homem obstinado se abaixa para pegá-lo, mas de repente perde a voz: assim, aprende o que comporta desobedecer às leis do pai. Somente quando joga fora aquele esterco é que recupera a voz para louvar a Deus pela penitência que Ele lhe infligiu.
O protagonista do segundo episódio é Frei Pietro Cattani, vigário do santo, como Tomás o chama. Preocupado com a impossibilidade de prover adequadamente à multidão de frades forasteiros que afluíam à Porciúncula todos os dias, Cattani propôs que os noviços, em vez de se desfazerem de todos os seus bens, reservassem uma parte, à qual a Ordem poderia recorrer em caso de necessidade. Ele não havia entendido nada: Francisco respondeu que não havia razão no mundo que justificasse a desobediência à Regra. E imediatamente sugeriu a Frei Pietro que, se necessário, vendesse os móveis do altar da Virgem, assegurando-lhe que assim ela ficaria mais agradecida.
O protagonista do terceiro episódio é o próprio Francisco. Ele estava perto de Bari quando se deparou com uma sacola abarrotada de dinheiro, do tipo que Tomás diz ser chamada de "fonda" no jargão dos mercadores. Seu companheiro, também evidentemente alguém que não tinha entendido nada, apontou-a para Francisco e o incentivou a pegá-la e distribuir o dinheiro aos pobres. Francisco recusou, mas com um argumento diferente do habitual: o dinheiro, disse ele, não era deles e não se deve dar esmola com as coisas dos outros. Eles seguiram em frente; mas seu companheiro não aceitou e continuou repetindo que eles deveriam pegá-la. Francisco, para lhe dar uma lição, concordou em voltar; e até levou consigo um rapaz que encontrou na estrada, para ter uma segunda testemunha. A sacola ainda estava lá, abarrotada de dinheiro; mas Francisco recomendou para não a tocar e se afastou um pouco. Começou a rezar e só depois de terminar ordenou ao frade que pegasse a sacola, avisando-o de que, graças às suas orações, o dinheiro havia se transformado em uma cobra. Tremendo, o frade fez o que lhe foi ordenado, e eis que a serpente escorregou para fora da bolsa, deixando-a vazia.
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