06 Setembro 2025
Está, pelo menos por ora, posta de parte a concretização de uma data para a festa da Páscoa comum às principais Igrejas cristãs. Pelo menos do lado dos ortodoxos, o assunto só terá luz verde por decisão de um “concílio ecumênico”, segundo palavras do Patriarca Bartolomeu, numa entrevista recente, em Itália.
A informação é publicada por 7Margens, 03-09-2025.
Não será tão cedo que a Páscoa de quem se guia pelo calendário gregoriano, como a generalidade das Igrejas ocidentais, e a de quem se continua a guiar pelo calendário juliano, como as Igrejas orientais, voltarão a celebrar-se no mesmo dia, como aconteceu este ano. E tal coincidência levou os responsáveis das confissões, em particular cristãos e ortodoxos, a desenvolver esforços para uma celebração comum.
O fato de se celebrar em 2025 os 1.700 anos do I Concílio de Niceia, que, entre outras matérias dos fundamentos da fé cristã, debateu e estabeleceu o modo de fixar a data do ponto mais alto do ano litúrgico cristão contribuiu de forma relevante para agendar essa questão da data da Páscoa.
A doença do Papa Francisco e o cancelamento de algumas iniciativas que se estavam a preparar ligadas com o tema contribuíram para que o assunto tenha sido posto de lado, mas não terá sido esse o fato decisivo. O assunto não estava, aparentemente, debatido e maduro.
Numa entrevista dada na semana passada ao jornalista italiano Andrea Tornielli, que é, atualmente, diretor editorial dos média vaticanos, o Patriarca Bartolomeu lembrou que, em Niceia, no ano de 325, “decidiu-se que era importante testemunhar a Ressurreição de Cristo no mesmo dia em todo o mundo conhecido”. Infelizmente – acrescentou – circunstâncias históricas impediram que a orientação do Concílio fosse seguida. Não nos cabe julgar o que aconteceu, mas entendemos que, para sermos credíveis como cristãos, devemos celebrar a Ressurreição do Salvador no mesmo dia”.
Deu, de seguida, a sua perspectiva sobre o caminho que estava a ser feito com o Papa Bergoglio: “Francisco não era apenas o bispo de Roma, como ele gostava de se autodenominar. Era também um irmão, unido a nós na preocupação com os grandes desafios da humanidade e numa profunda paixão pela unidade do mundo cristão. Desde o dia da sua eleição, sentimo-nos comovidos por estar presentes na sua posse — algo sem precedentes na história para um Patriarca Ecumênico”.
E sobre o problema da data da festa pascal concretizou: “Criamos uma comissão para estudar esta questão e o diálogo já começou. No entanto, existem diferentes sensibilidades entre as Igrejas. É também nosso dever evitar novas divisões. Para a Igreja Ortodoxa, o que foi estabelecido por um Concílio Ecumênico só pode ser modificado por outro Concílio Ecumênico. Ainda assim, estamos abertos a ouvir o Espírito que, acreditamos, nos mostrou claramente este ano quão essencial é unificar a data da Páscoa”.
Com o Papa Leão XIV, Bartolomeu já se encontrou duas vezes e, salvaguardando o estilo diferente de Francisco, diz ter ficado “profundamente impressionado”. Desde logo por ter demonstrado, “imediatamente, um firme desejo de continuar a seguir os passos de seu antecessor”. Mas também por estar decidido que a sua primeira viagem ao exterior será ao Patriarcado Ecumênico, na Turquia— e a Niceia. “Lá, testemunharemos juntos o nosso compromisso comum com o diálogo ecumênico e o compromisso das nossas Igrejas com os grandes desafios globais”.
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