A "Riviera" de Tony Blair que assusta todo o mundo árabe. Artigo de Fabio Carminati

Foto: Government of Indonesia | Wikimedia Commons

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01 Setembro 2025

"Os palestinos, nestes tempos complicados, temem o clássico flagelo que sempre recai sobre os derrotados da história: após a injúria também a zombaria. Após as destruições, após mais de 60 mil mortos e as casas arrasadas, também o exílio para ver a costa transformada em um resort", escreve Fabio Carminati, em artigo publicado por Avvenire, de 29-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

 Eis o artigo.

Certamente, muito tempo se passou desde a época em que erguia o "muro vermelho" na Grã-Bretanha e trazia de volta a Downing Street aquela política que na época cheirava sinceramente a esquerda britânica. Então, em 2007, ele deixou o Partido Trabalhista e, aos poucos, os ideais deram lugar aos negócios. Uma escolha que os liberais (ou melhor, o que restava deles) jamais lhe perdoaram e que, nas urnas, se transformou em "desafeição" por anos. Até o retorno do Partido Trabalhista ao poder no ano passado, com Keir Starmer, escolhido, na verdade, mais pelos deméritos de Rishi Sunak e dos conservadores do que por seus próprios méritos.

Assim, há meses, o homem do quarteto do Oriente Médio, que deveria ter criado a solução para o maior problema de todos os problemas — ou seja, o Estado Palestino —, encontra-se agora do outro lado da barricada. É por isso que, na outra noite, na reunião reservada sobre o futuro da região, o "poodle" de Bush (como os detratores de Blair o chamavam na época da segunda Guerra do Golfo) estava na Casa Branca como consultor.

Juntamente com o enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, Donald Trump e o genro do presidente, Jared Kushner, o principal artífice dos Acordos de Abraão de 2020, que levaram os Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Marrocos a normalizar os laços com Israel. Justamente Blair e Kushner são os contatos de Witkoff (e de Trump) no projeto "Gaza", que eles explicaram (de acordo com os mais informados) aos demais presentes, entre os quais o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, e seu colega israelense, Gideon Sa'ar.

Também há meses, as discussões sobre o futuro (por mais irônica que essa palavra soe) do Oriente Médio tinham voltado a envolver o ex-primeiro-ministro britânico Blair. Em julho, de fato, descobriu-se que seu think tank (o Instituto Tony Blair para a Mudança Global, com mais de 900 funcionários em mais de 45 países) teria contribuído para definir a controversa proposta estadunidense de transformar Gaza em uma Riviera. A direção do bilionário instituto blairista negou a paternidade do plano, mas o Financial Times revelou uma série de ligações telefônicas entre alguns membros da equipe e conversas em um chat de mensagens usado para o projeto que, ao contrário, o comprovariam. O projeto envolveria empresários israelenses e a empresa de consultoria estadunidense Boston Consulting Group (BCG). Essa é uma notícia das últimas semanas.

Na "Riviera de Gaza" – a ser construída após o deslocamento forçado dos palestinos, atualmente em andamento na Cidade de Gaza – teria sido até mesmo discutida a construção de uma zona industrial em homenagem a Musk, a "Zona de Manufatura Inteligente de Elon Musk". Ideia que provavelmente foi arquivada após as brigas (pelo menos de fachada) entre o sul-africano e o magnata. O que foi decidido na outra noite no sigilo do Salão Oval da Casa Branca (pela primeira vez em meses, voltou a ser um lugar reservado a poucos e inviolável às câmeras) será revelado aos poucos nas próximas semanas. É provável que o futuro projeto seja apresentado disfarçado de intervenções humanitárias e ajudas ao desenvolvimento. Mas a substância, temida por muitos nas margens norte-orientais do Mediterrâneo, poderia se desviar bem pouco da ideia inicial alinhavada por Blair e Kushner.

É por isso que os palestinos, nestes tempos complicados, temem o clássico flagelo que sempre recai sobre os derrotados da história: após a injúria também a zombaria. Após as destruições, após mais de 60 mil mortos e as casas arrasadas, também o exílio para ver a costa transformada em um resort.

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