11 Agosto 2025
No texto divulgado ao final da Semana Social realizada em Mar del Plata, a Igreja Católica denunciou uma sociedade ferida e dividida. Reafirmou a opção pelos pobres e criticou a cultura do descarte e a globalização da indiferença.
A informação é de Washington Uranga, publicada por Página | 12, 11-08-2025.
A mensagem final da Semana Social, organizada pela Igreja Católica, apresenta um diagnóstico muito severo sobre a conjuntura social e política do país. Nossa pátria se encontra afetada por profundas polarizações que nos separam e pela priorização de interesses setoriais sobre o bem comum, o que gerou uma sociedade ferida e dividida, diz o texto divulgado ao final do encontro de Mar del Plata, marcado pelo legado do Papa Francisco, sua opção pelos pobres, o Cuidado da Casa Comum, seu chamado à fraternidade social e seu compromisso com a paz, que nos interpelam a continuar construindo uma sociedade mais justa.
O pronunciamento, fruto de um intercâmbio que reuniu durante três dias diferentes atores da sociedade civil, da ciência e da política junto a representantes eclesiásticos, expressa o mesmo sentido crítico sobre a situação social que vem se refletindo nos últimos meses, de forma sistemática, nas manifestações da Igreja, por meio de suas autoridades, de alguns bispos e de organismos representativos do episcopado em diferentes áreas temáticas. Nessa linha, a hierarquia católica alertou para problemas decorrentes da perda de postos de trabalho, da pobreza nos setores populares, de decisões que afetam o sistema de saúde, aposentados, pessoas com deficiência e em situação de rua, entre outros. Também criticou a repressão violenta contra manifestações em defesa de direitos.
Agora, a Pastoral Social ressalta que o legado de Francisco nos interpela diante da cultura do descarte e da globalização da indiferença, que ignoram os mais vulneráveis. E enfatiza que é uma exigência ética e evangélica fundamental a opção preferencial pelos mais pobres, destinatários privilegiados do Evangelho e da Justiça Social, porque a desigualdade e a falta de desenvolvimento humano integral não constroem a paz.
A Pastoral Social da Igreja Católica insiste na necessidade de uma economia com rosto humano e afirma que a política não deve se submeter à economia, nem esta à tecnocracia. Em clara divergência com o que vem sustentando o presidente Javier Milei e sua equipe econômica, afirma que o mercado, por si só, não garante o desenvolvimento humano integral e a inclusão social. Argumenta que é imperioso que política e economia dialoguem a serviço da vida.
Enfrentando diretamente um dos debates centrais da vida política e social do país, a Igreja Católica, por meio da Pastoral Social, insiste que é necessário promover uma economia que favoreça a diversidade produtiva e a criatividade para gerar novos postos de trabalho. Porque a falta de trabalho, continua o documento, fere profundamente a dignidade das pessoas e pode levar ao desalento, ao isolamento e à perda de sentido, já que o trabalho sem direitos não é uma bênção, é exploração. Diante disso, propõe a articulação de diversos atores sociais: Estado, empresas, sindicatos, economias regionais, cooperativas, empreendedores e movimentos sociais.
O documento, que leva a assinatura da Conferência Episcopal Argentina — o mais alto organismo representativo da Igreja Católica —, afirma que é indispensável fortalecer a reflexão e o pensamento crítico para discernir os sinais dos tempos, porque uma valente revolução cultural é necessária. O pronunciamento acrescenta ainda que a ciência e a tecnologia, como a Inteligência Artificial, não são neutras; seu avanço sem um horizonte humano, sem um critério ético superior e sem regulamentações leva à degradação ambiental.
Nesse sentido — diz a Pastoral Social — a Igreja, sem pretender ter a palavra definitiva sobre questões científicas, incentiva o debate honesto. E sustenta que a dignidade e o bem comum devem estar no centro da Justiça Social tecnológica e ambiental, que reduza danos e amplie benefícios para a integração de todos.
Em tempos eleitorais — mas sem referência direta a eles —, o episcopado reafirma a urgência de um novo diálogo, buscando a unidade como superação criativa e a construção de um projeto para uma Argentina justa, fraterna e solidária, que cuide da nossa Casa Comum e onde todos sejam acolhidos.
Com esse propósito, a Pastoral Social pede que a sabedoria do diálogo, a misericórdia que acolhe e a alegria da esperança nos impulsionem a nos envolver e nos organizar como sociedade para tecer vínculos que tornem possível uma pátria com verdadeira Amizade Social e orientada ao bem comum.
O documento conclui afirmando que, como ensina o Papa Francisco, a esperança é ousada e sabe olhar além do conforto pessoal para abrir-se a grandes ideais que dignificam a vida.